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A Inconsistência do Multilateralismo

Genival Torres Dantas
Genival Torres Dantas*

“Abrem-se as cortinas e começa o espetáculo”, “e o tempo passa”, “agüenta coração”, “crepúsculo do jogo”, “Não adianta chorar”, “torcida brasileira”, “fecham-se as cortinas, acaba o espetáculo”.

Prezados leitores, os chavões acima são de autoria do inesquecível narrador esportista Fiori Gigliotti (1928/2006), quando nas suas tardes de domingos ouvíamos suas narrativas memoráveis!

Hoje, vejo encerra-se a Rio+20, e esse fato me transportou para grandes eventos e espetáculos que presenciei e jamais se apagará da nossa mente. Claro que não é o caso da Rio+20, um encontro de líderes mundiais para discussão do futuro do nosso planeta, mas de resultado no mínimo questionável, conforme a opinião geral.

Lamentavelmente, um amontoado de idéias sem nexo nem conexo, apenas palavras aos ventos que serão levadas, e como ocorreram nas outras duas vezes, Estocolmo/72 e Rio/92, nada de positivo, mais objetivo, nada foi realmente definido, como implantação imediata, para melhoria da vida no nosso planeta.

Muitos questionamentos e idéias surgiram no decorrer da conferência para a criação de metas e objetivos para o desenvolvimento sustentável, tema da reunião, patrocinada pela ONU.

A estudante de Nova Zelândia, Brittney Trilford, 17 anos, representando os estudantes adolescentes, perguntou em seu discurso, na convenção, se os homens vieram fazer bonito ou nos salvar, indagação que todos nós fazemos.

O Presidente Raul Castro, Cuba, falou do egoísmo das nações mais ricas, quando deviam ter humildade para buscar soluções para todos e ajudar no financiamento dos países mais pobres.

Presidente Rafael Corrêa, do Equador, ressaltou a importância dos maiores consumidores que devem pagar mais, principalmente pelas suas condições privilegiadas. Da Bolívia veio o Presidente Juan Evo Morales Ayma, com o romantismo dos sul-americanos, afirmando que a economia verde privatiza a riqueza e socializa a pobreza.

O recém-eleito, François Hollande, presidente Francês, trouxe a idéia de uma taxa sobre operações financeiras, cuja receita iria para o desenvolvimento sustentável.

Depois de muitos debates, e dúvidas levantados pela sociedade civil e ONGs, não governamentais, a cúpula dos povos, encontro paralelo ao Rio+20, afirma que a conferência da ONU fracassou na sua proposta inicial, que era tratar de caminhos e ações em direção ao desenvolvimento sustentável, além do retrocesso dos direitos humanos já reconhecidos. Lamentam ainda, as mesmas pessoas, autoridades, repetem o retorno falido de falsas soluções.

Portanto, viram seus anseios caírem por terra. O relatório que ficou para apresentação e ratificação dos líderes mundiais, não representava, nem trazia o desejo de salvação para o planeta terra, através de ações que viessem viabilizar o crescimento sustentável para o futuro próximo. Já somos 7 bilhões de pessoas espalhadas sobre a terra e a manutenção dessas pessoas depende da responsabilidade administrativa dos nossos dirigentes. E esse documento, intitulado “o futuro que queremos”, de 80 páginas, e 283 parágrafos, é a declaração final da conferência das Nações Unidas sobre o desenvolvimento sustentável.

Apenas o governo brasileiro elogia sua própria atuação, e criação da obra, do documento feito e refeito, com o açodamento dos medíocres, com o único objetivo de ter um documento pronto antes da chegada dos principais atores, líderes mundiais, dessa peça inacabada, cuja continuidade será, provavelmente, daqui a 20 anos.

O coordenador, pelo Brasil, da Rio+20, o ministro das relações exteriores, Antonio Aguiar Patriota, fracassou na execução do projeto como anfitriões que somos. Como é sabido, trata-se de um membro do governo federal com dias contados na equipe. A Presidente Dilma não tem grande simpatia pela sua atividade no cargo de ministro, agora a situação deve ter acelerado o processo de sua substituição, já tendo, inclusive, três pretendentes ao cargo.

Para nosso constrangimento o jornal britânico Financial Times, aproveitando a nossa barafunda, questionou nessa última sexta-feira (22), a capacidade do Brasil de organizar a copa do mundo de futebol e dos jogos olímpicos.

Demonstramos que temos uma infra-estrutura frágil, mesmo decretado feriado escolar no período da convenção, a cidade do Rio de Janeiro teve seus gargalos no trânsito dificultando o transporte urbano na cidade. Enquanto isso, os hotéis se mostraram avarentos aplicando preços em diárias proibitivos para a nossa realidade, inibindo a presença de muitos líderes políticos. Apesar desses problemas, e outros não enumerados, o governo brasileiro alega que estava tudo bem, na organização do evento, quando sabemos que não estava.

O Secretário-Geral das Nações Unidas, Sr. Ban Ki-moon, esperava um documento final mais ambicioso, entretanto com a posição contrária as sua afirmações, da Presidente Dilma, mudou de posição e elogiou o documento, como uma peça abrangente, amplo e prático.

Resumo da ópera, em setembro de 2013 um grupo de 30 pessoas, próxima assembléia geral da ONU, será apresentado os objetivos do desenvolvimento sustentado, nos termos dos objetivos do milênio para o desenvolvimento, com prazo de encerramento para 2015. A proposta apresentada irá articular cumprimento de metas a partir daquela data, ou seja, 2015, simplesmente prorrogação de metas.

Um final melancólico para quem tinha tudo para proporcionar um evento realmente de primeira grandeza, tanto o Brasil como a ONU perderam a oportunidade de mudarem o rumo de um planeta que agoniza e espera por socorro urgente. Conseguimos adiar soluções para talvez um dia, quem sabe até, até quem sabe!

*Escritor e Poeta
A Inconsistência do Multilateralismo A Inconsistência do Multilateralismo Reviewed by Clemildo Brunet on 6/24/2012 07:23:00 PM Rating: 5

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