O necessário e urgente debate cívico
Genival Torre Dantas |
Genival Torres Dantas*
Seria
uma das muitas sessões do senado federal onde a ausência de parlamentares é uma
constante nesses tempos pré-eleitorais. A falta de pauta torna o tempo
enfadonho, e a troca de lugar entre a presidência da mesa e a tribuna se faz
necessário para que não sejam encerrados os trabalhos pela quantidade mínima de
componentes no plenário, até o último discurso do orador inscrito, cujo tempo
de pronunciamento deixa de ser importante para o controle da mesa, em
obediência ao regimento interno.
E
foi exatamente na terça-feira última, (18), quando parecia que tudo estava indo
para mais um final melancólico, sem um tema que viesse a chamar atenção dos
ouvintes ou telespectadores, assim como eu. Surge na tribuna o líder do PSDB,
senador Álvaro Dias, tratando de um tema muito atual, o caso mensalão, em
julgamento no Supremo Tribunal Federal, STF, e
suas conseqüências nefastas para
o cenário político nacional. Aparteado inteligentemente pelo senador do PT,
Jorge Viana (AC), e em defesa do seu partido, mesmo reconhecendo a participação
vergonhosa de alguns dos seus membros, lembrou, sempre de forma elegante, o
inicio dessa tragédia no mundo político nacional, ocorrido exatamente em 1998,
no Estado de MG, atos cometidos pelo mesmo Marcos Valério, em parceria com
membros do PSDB daquele Estado. O embate entre os dois senadores foi num
patamar de respeito mútuo e composto por ingredientes culturais, muita acima da
média que temos verificado nos últimos tempos. Afinal, tratava-se de defesa e
acusação, de um tema largamente explorado pela imprensa e opinião pública, e
por dois ex-governadores, com experiência política, reconhecidamente
verdadeiros líderes
Foi
realmente um momento de lucidez na casa de discussão, lembrando grandes
oradores do passado, tais como, Paulo Brossard de Souza pinto (RS), Teotônio
Brandão Vilela (AL), João de Medeiros Calmon (ES), Nelson de Souza Carneiro
(RJ), Argemiro de Figueiredo (PB), Afonso Arinos de Melo Franco (RJ), e tantos
outros que trabalharam em defesa do desenvolvimento nacional.
Seria
importante que os atuais membros, 81 no total, tivessem o mesmo comportamento
dos dois senadores citados, Álvaro Dias e Jorge Viana, e se irmanassem numa
causa maior que é a defesa da dignidade política, hoje tão depreciada pelo
comportamento de alguns membros que não tiveram a sensatez dos grandes líderes
do passado e do presente, que sobrevivem dentro do nosso congresso.
Hoje
o Brasil tem grandes líderes na política que carregam bandeiras importantes que
dignificam a nossa história, cito alguns como o Magno Pereira Malta (PR-ES), na
luta contra a pedofilia, Kátia Regina (PSD-TO), uma ruralista competente, Paulo
Renato Paim (PT-RS), e sua brava luta pelo fim do fator previdenciário, Eduardo
Matarazzo Suplicy (PT-SP), e sua histórica competência na implantação da renda
mínima. E tantos heróis que muitas vezes ficam a margem da notoriedade pelos brasileiros
de memória curta.
Todas
essas personagens juntas e aliadas podiam perfeitamente fazer um grande debate
em busca de um consenso para que escrevêssemos uma nova página da nossa
história, sem rasuras, ou emendas, que desse um novo rumo no destino da nossa
nação, com um novo modelo político. Esse é o momento próprio, quando as
eleições estão próximas e verificamos o quão vergonhoso está sendo o
comportamento de uma grande maioria de candidatos, de diversos partidos, em
busca da vitória, em uma eleição impiedosamente suja e desonesta, com propostas
escabrosas, sem sentido, fundamentas em mentiras, sem passado, presente ou
futuro.
É
lamentável que a compra do voto, do eleitor mal informado e também desonesto,
pela absoluta falta de cultura política, ainda seja o tema recorrente, no
discurso dos políticos sem compostura ou envergadura moral, nesse momento que
seria de uma profunda reflexão e análise dos currículos dos candidatos que
colocam seus nomes para o sufrágio nas urnas no dia 7 de outubro próximo.
A
hora é de mudanças, e só mudaremos se tivermos atitudes firmes, decididas e
corajosas. Se o nosso congresso tomasse uma iniciativa nesse sentido e nesse
exato momento em que o judiciário toma uma atitude moralista, certamente o
Brasil teria uma grande chance de refazer sua história, causando mudanças
radicais nos três poderes. Com uma atitude radical e sistêmica no legislativo,
fatalmente o executivo teria que mudar de rumo, defenestrando o seu quadro
funcional, dos corruptos e alheios ao bom senso profissional, possibilitando um
novo tempo para uma nova nação que urge da necessidade de um choque de
moralidade, em todos os âmbitos, municipais, estaduais e federal.
Independente de partido político, sou
crédulo, confio nos homens de bons costumes do meu tempo, acredito na vitória das
palavras e no lema ilustrado da bandeira mineira escrita pela luta dos
inconfidentes: Libertas Quae Sera Tamen (Liberdade ainda que tardia).
*Escritor e Poeta
O necessário e urgente debate cívico
Reviewed by Clemildo Brunet
on
9/23/2012 05:10:00 PM
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