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Orgulho de Pertencer à família Mariz de São João do Rio do Peixe (PB)


Romero Cardoso
José Romero Araújo Cardoso(*)

Minha avó materna, de nome Benigna Lourdes de Sousa, fazia referências à sua bisavó, tratando-a por “Mãe” Catarina, esposa do judeu João Ignácio Cardoso D´Arão, cuja odisséia a fim de se livrar da pena irretorquível do Tribunal do Santo Ofício obrigou-o juntamente com familiares fugidos do litoral paraibano a peregrinar pelos sertões ermos, adustos e esquecidos das Províncias cearense e paraibana.

A família Cardoso D´Arão trazia na memória o martírio de membro da comunidade judaica instalada nos arredores da antiga Vila da Jacoca, hoje município do Conde (PB). Com relação a
 esse fato, o professor Ignácio Tavares de Araújo vem trazendo à tona informações preciosas que podem comprovar a tragédia da judia Branca Dias, ponto de tangência nas reminiscências familiares dos Cardoso D´Arão, pois localizou indícios da presença do clã sefaradita Dias Cardoso no litoral paraibano.

A memória familiar guardou a sete chaves que o delator da condição criptojudaica da comunidade semita estabelecida no verdadeiro “gueto” formado pelos filhos de Israel no litoral paraibano chamava-se Padre Bernardo.
Os Cardosos, devido ao suplício da mais bela integrante da comunidade, juraram vingança contra o sacerdote, abatendo-o a tiros. Em seguida houve fuga desesperada em direção aos sertões até então pouco habitados das longínquas plagas cearenses, onde foram apoiados pelos alencares, com os quais houve consórcio.

João Ignácio Cardoso D´Arão provavelmente nasceu em terras do cariri cearense, mas por razões desconhecidas, até o presente momento, resolveu com diversos membros de sua família aventurarem-se pelas veredas da terra do sol em território paraibano, chegando até a localidade de Mari dos Seixas, então povoação de São João do Rio do Peixe, pertencente na época ao hoje próspero município de Sousa. 

O início à elucidação da descendência de “Mãe” Catarina começou a se efetivar quando o renomado médico psiquiatra de nome Dr. Thiago Formiga, nobre conterrâneo pombalense, entrou em contato com o professor Ignácio Tavares de Araújo, informando-lhe ser possuidor do testamento do Padre Galdino Formiga.

O vigário da então povoação de São João do Rio do Peixe viveu durante diversos anos amasiado com uma cozinheira da casa paroquial, a qual lhe deu 15 rebentos, estando entre esses a nossa “Mãe” Catarina, a qual na verdade atendia pelo nome de Catarina Moura Mariz, um dos orgulhos da nossa árvore genealógica. Conforme consta na história, o Padre Galdino encontra-se sepultado na cidade cearense do Icó.
Casa em Pombal - Rua do Comercio
A família Mariz, a qual se formou do romance tórrido e proibido de um sacerdote católico com uma mulher de pouca projeção na sociedade sertaneja agropastoril, vem em homenagem à localidade de Mari dos Seixas. O sobrenome Mariz ilustra outros de destaque na nobiliarquia sertaneja, como os Maias, os Fernandes, os Marques entre outros de grande expressão em nossa esfera armorial.

Surpresa extremamente agradável eu tive quando recebi em certa ocasião telefonema do Dr. Thiago Formiga se comprometendo a me fornecer a íntegra do testamento do Padre Galdino Formiga. Infelizmente até o presente momento não compõe meu arquivo particular esse importante documento acerca da genealogia sertaneja, mas esforçar-me-ei em buscar cópia desse imprescindível registro histórico que se intercala à saga da família Cardoso. Apelo ao Dr. Thiago Formiga e ao professor Ignácio Tavares de Araújo para conseguirem o testamento do Padre Galdino Formiga para que haja exponencial enriquecimento do meu acervo particular, o que favorecerá sobremaneira minhas pesquisas genealógicas familiares.

Certa vez, em conversa com o culto e inteligente Prof. Dr. Thompson Mariz, através das vantagens proporcionadas pelas redes sociais na internet, o dinâmico reitor da Universidade Federal de Campina Grande revelou-me que estavam preparando edição de importante livro sobre a família Mariz. Sugeri-lhe não dispensar leitura e a necessária inserção no opúsculo do testamento deixado pelo patriarca familiar Padre Galdino Formiga, instruindo-o em seguida a se esforçar ao máximo em procurar o medico psiquiatra Dr. Thiago Formiga para solicitar-lhe cópia do importante documento. Espero que o prof. Dr. Thompson Mariz tenha conseguido contactar Dr. Thiago Formiga, mas fiz solicitação ao professor Ignácio Tavares de Araújo para manter contato com o nosso conterrâneo pombalense a fim de viabilizar essa aquisição histórica.

Com relação a João Ignácio Cardoso D´Arão e seus familiares, consta em nossas reminiscências, transmitidas de geração a geração, que em razão de desprezar a igreja católica e todos os seus princípios, teve que abandonar a localidade de Mari dos Seixas e buscar se estabelecer mais adiante, escolhendo a então Vila de Pombal para viver seus últimos dias de vida. Negando-se a se casar formalmente com Catarina Moura Mariz, parece que João Ignácio Cardoso D´Arão despertou certa repulsa aos habitantes da localidade situada em São João do Rio do Peixe.

Em Pombal não encontramos um único documento de casamento, ou mesmo de batismo dos filhos de João Ignácio Cardoso D´Arão e sua esposa Catarina Moura Mariz. Encontramos, graças á perspicácia e inteligência ímpar do professor Ignácio Tavares de Araújo, marca indelével de criptojudaísmo deixado pelo casal Arão Ignácio Cardoso D´Arão – Facunda Cardoso de Alencar referente a um sutil disfarce no frontispício da residência do casal, em forma de uma rosa com seis pontas que representa, de fato, a estrela de Davi, conforme fotografias comprobatórias da audaciosa manifestação semita em pleno sertão paraibano.   
Arão Ignácio Cardoso D´Arão era filho de João Ignácio Cardoso D´Arão e Catarina Moura Mariz enquanto Facunda Cardoso de Alencar era neta do casal e sobrinha do esposo, perfazendo clássico caso de enlace matrimonial endogâmico que caracteriza os judeus em seus matrimônios.
 Estrela de Davi
Pela vinculação com a importante família originada nas ribeiras do rio do Peixe, tenho orgulho de trazer em meu código genético a descendência com a família Mariz, cujas contribuições para várias instâncias no semiárido, as quais vão da política à cultura, do empreendedorismo ao filantrópico, do amor ao próximo, ao longo dos tempos, transformou-a em proeminente referência benéfica na ênfase telúrica à sagrada terra que integra a região colonizada a partir da expansão das boiadas em direção ao sertão setentrional do nordeste brasileiro.

(*) José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-adjunto IV da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, lotado no Departamento de Geografia do Campus Central, Mossoró-RN.
Orgulho de Pertencer à família Mariz de São João do Rio do Peixe (PB) Orgulho de Pertencer à família Mariz de São João do Rio do Peixe (PB) Reviewed by Clemildo Brunet on 9/16/2012 06:19:00 AM Rating: 5

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