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Segundo Turno: Novas chances velhos Vícios

Genival Torres Dantas

Genival Torres Dantas*

Com a aproximação do dia 07 de outubro, as pesquisas eleitorais começam a mostrar as reais possibilidades de cada candidato ao executivo e legislativo municipal, em todo Brasil. A propaganda se acelera na tentativa de reverter quadros, fugir de posições desconfortáveis, marcando posição, possibilitando um possível acerto, com os vitoriosos, nas futuras administrações. Esse é o Brasil da política onde o balcão de negociações é uma realidade quase irreversível nessa mentalidade arcaica de políticos viciados no poder, com forte desejo de perpetuação nos seus cargos. Peremptoriamente, esse é
 o quadro sistêmico onde não ou leis, pela absoluta falta de fiscalização, que segure o estardalhaço da corrupção galopante que avassala o país.

Apesar do esforço do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), alertando para a moralidade das eleições, a imprensa ajudando nesse sentido, com propagandas, artigos, crônicas e avisos importantes, o que verificamos é um verdadeiro tumulto, quando a negociata substitui a negociação e os absurdos acontecem, tanto para cargos visados no âmbito municipal. Não há regras nem limites, um verdadeiro descalabro. Os fatos estão aí, mas não há como coibir, tudo é feito longe dos olhos da lei, com o consentimento por parte da população, que ver nessa época a oportunidade de ganhar algum dinheiro, mesmo que ele represente o espúrio, a vergonha, e a total ausência de honestidade.

Há os candidatos que compram votos por poucas moedas, é assim que tratamos os vendáveis, muitas vezes com promessas de emprego, em troca de produtos de baixo custo, mesmo que fossem de custos elevados não se justificaria a trama. Na outra ponta encontra-se o eleitor que se justifica na sua incapacidade financeira ao aceitar em troca do sufrágio enlutado pelo gesto desumano e latrocida, que mata, sem antes envergonhar a consciência dos justos, participar dessa nódoa e mazela.

No segundo turno a história não muda, piora, além da permanência na troca de favores, com a compra e venda dos votos no varejo, há as grandes negociações quando os vencidos se entregam aos vencedores na busca de um lugar ao sol do poder, levando consigo legiões de eleitores, que dizem possuir, como se pessoas fossem gado que se engorda nos confinamentos e abate nos abatedouros, muitas vezes clandestinos, para servir à gula dos insaciáveis inescrupulosos.

Nesses casos não há controles, maior a demanda menor o dolo, é nesse momento que a negociação é feita por atacado. Um verdadeiro mercado onde se troca cargos por apoio, em alta escala, a famosa dança das cadeiras. Supostas transações indecorosas se estendem entrem correntes políticas, antes antagônicas, de princípios e filosofias diferentes, agora aliadas na possibilidade de aferição de lucros com o erário público. Nessa hora sentimos que os porcos se lambuzam com a fatídica lama que escorrem dos esgotos da política de um país que tem a obrigatoriedade do voto, imposta pela sua democracia plena, sem nem mesmo perceber a contradição das regras.

Depois de tudo consumado, eleições passadas, vencidos e vencedores se voltam para o cotidiano do absurdo, monta-se novas estratégias para o embate de novo pleito dentro de dois anos, até lá há o espaço para recuperação dos investimentos feitos e o retorno dos valore, muitas vezes de origem duvidosa, através de obras, compras e negociatas em todos os patamares.

É um país que precisa urgentemente fazer uma reengenharia de sua administração e seus valores, morais e éticos. Temos que começar, ainda existe políticos sérios, que se salvaram dessa areia movediça, que vem tragando a moralidade política e cultural da nossa terra, que se alastra por todo território nacional, entre todas as facções políticas. Persistem, entre os ignóbeis, os fortes de espíritos e abnegados que continuam acreditando na esperança e nos valores que devem nortear a dignidade humana. Dignidade essa tão desprezada pela massa criminosa que pregam e praticam o inconcebível disparate da insana deslealdade quando no exercício no cargo público.

Ainda há tempo de mudanças profundas, basta usarmos o bom senso e termos a coragem de agirmos dentro da legalidade, da honestidade, e não aceitarmos o despropositado comportamento dos enganadores e mal feitores do patrimônio público, que é de todos nós.

Esses atos cometidos, e não observados pelo poder público, pela sua ineficiência operacional, nos remete ao final do século X1X e começo do século XX, quando um jovem poeta iluminista, com seu livro único de poemas Eu, traduziu o sentimento da alma na dor física ou moral, nas suas palavras duras e verdadeiras, quando se trata o ser humano.

Nos VERSOS ÍNTIMOS de AUGUSTO DOS ANJOS, deparo-me com a crueldade no entorno das nossas vidas, quando as palavras antigas traduzem o sentimento atual:

...”Vês! Ninguém assistiu ao formidável, enterro de tua última quimera. Somente a Ingratidão – esta pantera – Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera! O Homem, que, nesta terra miserável, mora entre feras, sente inevitável necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro,

a mão que afaga é a mesma que apedreja. Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
apedreja essa mão vil que te afaga, escarra nessa boca que te beija!”...


*Escritor e Poeta
Segundo Turno: Novas chances velhos Vícios Segundo Turno: Novas chances velhos Vícios Reviewed by Clemildo Brunet on 9/30/2012 05:49:00 PM Rating: 5

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