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COISAS DA MINHA TERRA

Prof. Vieira

FRANCISCO VIEIRA*
           
 Pombal é uma cidade semelhante a outras tantas e diferente como ela só. Fatos curiosos, casos hilariantes e personagens emblemáticas, fazem sua história, imprimindo ao lugar um caráter suigeneris.
Na Terra de Maringá o simples tem conotação especial. O que seria comum em outro lugar, aqui tem algo a mais: um toque mágico e inexplicável que faz a diferença. Em Pombal o riso tem mais graça e o belo mais beleza.
            Como se não bastasse ser a terra de Rui Carneiro – senador durante vinte e oito anos consecutivos, Celso Furtado – o mais renomado economista do Brasil, quiçás do mundo, Leandro Gomes de Barros – poeta popular e
Pai do Cordelismo, suas histórias inusitadas, revestidas de graça e espontaneidade, fazem da terrinha um lugar ímpar e único.
            Cheia de particularidades, Pombal tem coisas tão raras que até Deus duvida. Há em cada canto um fato interessante, uma história, enfim, algo justificando sua peculiaridade. Partindo do princípio de que, “em Pombal tudo é possível”, os casos envolvem a todos, gregos e troianos, que vão desde pessoas simples até autoridades, como promotor, delegado, padres, etc, tendo sobre cada uma algo interessante a contar.
            Para justificar esse conceito lembrarei alguns fatos, no mínimo extraordinários, ocorridos no passado. São casos reais, responsáveis pelo lado cômico de nossa história e que ainda recebem muito riso e graça quando bem contados.
 O lado jocoso da história de Pombal, não poupou sequer a religião, senão vejamos. Como numa atitude desrespeitosa a igreja, um eletricista, cumprindo determinação superior, sem nenhum constrangimento ou complacência, cortou a energia da Igreja de N. S. do Bom Sucesso – padroeira do município. Pasmem! Por ironia do destino seu nome de batismo é JESUS.
Coincidência ou não, esse mesmo Jesus, após cobrar de Padre Sólon quantia exorbitante por seus serviços profissionais foi prontamente discordado pelo vigário. Como dois bicudos não se beijam os ânimos se acirraram gerando intensa discussão. Inconformado e sem medir as consequências o eletricista disse insultos ao religioso, coisas do tipo “fique com o dinheiro e coma de esmola”, retirando-se bruscamente do local sem dar ouvidos ao vigário que o chamava repetidas vezes. Tendo esgotado sua paciência - que nunca foi muita - o vigário pede ajuda as pessoas presentes se expressando assim: “menino, chame aí esse Jesus do inferno”.
            Ainda na área religiosa deu-se outro fato interessante protagonizado pelo Sr. Osmídio Calisto, católico devotado e intensamente dedicado às atividades sacrossantas. Como homem ligado à igreja tornou-se uma figura emblemática em todas as cerimônias. Sua presença era marcante nas procissões. Sempre na linha de frente, conduzindo a Cruz de Cristo, símbolo maior da cristandade, mostrava-se um fiel contrito. Em um desses cortejos, tentando impedir a ação de um boi bravo que desgarrado do rebanho investia contra a multidão, sem pensar duas vezes, levantou a citada cruz contra o animal pronunciando a seguinte frase: “vai pra lá se não eu meto-lhe o diabo”. Interessante é que, embora a violência tenha prevalecido sobre a fé, o animal afastou-se voltando a reinar a calmaria entre os fiéis.
As histórias são as mais diversas. São tantas que nem mesmo Ten. Raposo, delegado da cidade foi poupado. Como autoridade mostrava-se enérgico, mantenedor da ordem e do respeito. Contudo, não deixou de participar como ator principal de um dos casos mais cômicos. Certa vez, nas costumeiras rondas noturnas, após ter abusado do álcool, prendia a todos que encontrava: culpados e inocentes. Extrapolando sua autoridade, deu voz de prisão a um poste de iluminação pública, ordenando seus comandados levá-lo preso a todo custo.  
Outro fato também divertido e digno de graça ocorreu entre Dr. Nelson Nóbrega – Promotor Público e Cícero (Ciço) de Bem-Bem – amigo do alheio, que sendo portador de cleptomania tornou-se figura folclórica na “arte” de levar o alheio sem avisar ao dono, o que lhe custou várias prisões. Numa atitude de excessiva confiança Dr. Nelson lhe encomendara três perus para a festa de casamento de sua filha no que foi prontamente atendido, cujo pagamento era feito no ato da entrega. Abusando dessa liberdade, Ciço colocava a ave no quintal da casa e deixava propositadamente o portão aberto, para no dia seguinte levá-lo e vendê-lo novamente ao mesmo comprador. Após repetir a cena por duas vezes foi interpelado pela autoridade que desconfiada assim se manifestou: “existe muita semelhança entre esses perus. Parece serem todos da mesma ninhada.” Após ser o caso esclarecido e tratar-se da mesma ave, Ciço foi preso passando alguns dias hospedado no “hotel do governo”, como denominava Ten. Caxias, delegado da época.
Também curiosa era a cadeia velha que fora no passado a prisão de afamados e temíveis cangaceiros, como Chico Pereira, servira também de concentração para Nego Adelson, goleiro do São Cristovão. A fim de privá-lo do álcool e garantir a sua sobriedade era recolhido à prisão um dia antes. Com todas as regalias possíveis: cigarro, rádio, refeição ali ficava até momentos antes do jogo.
Lembro também Orígenes Bezerra e Padre Oriel. Coincidência ou não, cada um possuía um Jipe Willis e as mesmas inabilidades profissionais. Em se tratando de motorista ambos demonstravam inoperância e a certeza de que jamais seriam ases do volante. De um lado Orígenes, que mostrando falta de noção de espaço, vez por outra, media os lugares mais estreitos temendo a passagem. Ainda mais, para viajar, mesmo fretado, escolhia os locais para os quais as estradas não ofereciam obstáculos. Contudo, alcançou o recorde em velocidade atingindo 150 Km/h, isto de três vezes. Enquanto isso, Padre Oriel, sempre inseguro, sequer soltava o volante para buzinar, preferindo ante os obstáculos dizer aos gritos a seguinte frase: “saia do meio menino. Cuidado com o carro da paróquia”. Com toda imperícia ambos foram felizes não se registrando nenhum acidente com eles. Com certeza uma obra divina.
É no mínimo incrível, saber que Padre Valeriano Pereira tinha uma caligrafia tão embaraçada que ele sequer lia o que escrevia. Igualmente inacreditável, porém verídico, era o Cego Roseno, caminhar sem guia nas ruas de Pombal, vender seus quitutes e passar troco sem dificuldade. Também estranho era o mudo (filho João Martins), trabalhar como vendedor de revistas.
Também interessante deu-se com “Cancão”, que tendo recebido voz de prisão disse com muita propriedade ao delegado: “o senhor me prende por um tempo, mas quando eu lhe prender será para sempre”. Diante de tamanha determinação e sentindo-se ameaçado o delegado insistiu: “quem é você com tanta autoridade”, no que prontamente respondeu: “eu sou Canção, o coveiro da cidade”.
Enfim, lembrar Padre Andrade, que depois de um breve cochilo num filme romântico, despertou diante de uma cena amorosa onde beijos e abraços chamavam a atenção dos telespectadores. Tomado de surpresa com a cena, num sobressalto e sem medir as consequências, em voz alta assim se expressou: “eita cabra danado”, causando risos e gargalhadas incontroláveis.
Como se observa, os casos vão aos dois extremos, fruto de sua diversidade e fator evidente de nossa riqueza cultural. Existe para todos os gostos.
Enfim, são histórias que além de trazerem o passado ao presente me denunciam como eterno amante das COISAS DA MINHA TERRA.

Pombal, 11 de outubro de 2012

*Professor, ex-Diretor da Escola Estadual "João da Mata", ex-Secretário de Administração do município de Pombal. 
                          


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COISAS DA MINHA TERRA COISAS DA MINHA TERRA Reviewed by Clemildo Brunet on 10/12/2012 04:36:00 AM Rating: 5

Um comentário

JERDIVAN NOBREGA DE ARAUJO disse...

Professor vieira

A cada dia que passa você vem nos ofertando estes texto contando os fatos das ruas da nossa terrinha.
Pode ter certeza que, quando alguém escreve e reverencia a sua aldeia seroa reconhecido num futuro próximo. As pessoas que você escreve são os esquecidos das ruas e que, sem nossos textos nossas memoria assim ficariam.
Não há anda mas prazeroso do que a leitura de um texto, cujos personagem cruzaram conosco em algum momento da nossa existência.
Outra coisa: Tenho sim recebido seus e-mail e repassado para amigos que vivem fora da nossa cidade assim como tenho copiado o link do blog de Clemildo e feito a divulgação entres os meus contatos.

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