ESTELIONATO ELEITORAL
Severino Coelho Viana |
Por
Severino Coelho Viana*
As eleições municipais,
2012, terminaram e já divulgados os resultados finais, majoritária e
proporcional, depois do primeiro e segundo turnos, com vencedores satisfeitos e
derrotados conformados. Muitas promessas ditas e não sabemos se serão
cumpridas. O nosso ideal não pode apagar a luz de esperança, mas não queremos
que o povo seja o grande perdedor, que vive na fome, na miséria e na
ignorância.
O período de propaganda no
rádio e
na televisão, quando se busca a verdade de “propostas apresentadas”,
numa análise acurada, sem o sectarismo partidário ou as recompensas de ordem
pessoal, a nosso sentir, não são alentadoras.
Os nossos tímpanos se
untaram de um óleo especial para ouvir as baboseiras de candidatos
despreparados no horário da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na
televisão. Na verdade, vemos e ouvimos, acreditamos se quiser nas palavras
enganadoras de determinados candidatos que não tinham a menor noção do que
sejam os pilares do regime democrático nem tampouco o mínimo de respeito para
com o povo. E maus coordenadores de campanha que não sabiam exercer o seu fiel
papel de organizador de campanha política. Coordenaram o deboche na mídia
social, como se isso fosse o fator imprescindível para conquistar o voto, ledo
engano! Esqueceram-se de pontuar questões sociais de cunho propositivo e
passaram para o revanche pessoal. Criaram tanta ilusão que terminaram
acreditando nas suas monstruosas criações. Muitos casos o monstro revoltou-se
contra o seu criador. Pareciam saber tudo e não sabiam nada! E, justamente, os
cidadãos são os construtores do ideal democrático, muitos deles são levados ao
matadouro como uma fera bravia, quando o abate se dá depois do resultado das
urnas.
Organizar uma campanha eleitoral
é como abrir uma empresa que tem como meta a liderança de um setor. Mas em
tempo recorde e sem direito a falhas. Sim, é como fundar uma empresa que começa
do nada e tem que funcionar em poucas semanas se não perfeitamente, ao menos
muito melhor que as suas concorrentes. Essa tarefa inclui desde o contratar um
grande time que nunca trabalhou junto até estabelecer hierarquias, estruturas,
fluxos, padrões, estratégia, táticas etc. E depois de tudo alcançado, mesmo que
seja a campeã, esta empresa de sucesso está fadada ao mesmo fim das empresas
fracassadas: fechar suas portas.
No jargão do jornalismo
político “estelionato eleitoral” é quando um político promete muito e não
cumpre nada do que se dispôs a fazer quando chega ao poder. Cada candidato é
obrigado a apresentar por ocasião do registro da candidatura o plano de
governo. Muitos fazem um emaranhando de tópicos genéricos apenas para não
correrem riscos de cancelamento do registro por falta de cumprimento a uma
exigência legal. A partir dessa exigência poderíamos ter na lei uma punição bem
severa para o estelionato eleitoral. A lei do estelionato eleitoral só surgirá
a partir de uma iniciativa popular tal qual a lei da compra de votos nos anos
1990 e mais recentemente a chamada lei da ficha limpa. A prática de estelionato
eleitoral sendo crime tornaria a campanha eleitoral mais limpa e diminuiria o
peso da propaganda (enganosa) nos palanques eletrônicos ou não.
Uma péssima coordenação leva
ao caminho da derrota. O maior erro de uma coordenação de campanha é criar o
excesso de confiança. A vitória de uma campanha eleitoral exige trabalho até o
último minuto. Estupidez, ignorância, arrogância, queixo empinado, falta de
consideração, confiança somente no dinheiro e no poder que exerce são fatores
que denigrem a dignidade de muitos eleitores honestos. Este número de eleitores
honestos pesa no resultado final, que se dá pela maioria.
Passamos por um daqueles
momentos em que muito havia que se ouvir, pois muitos queriam falar, mas pouco
ou nada havia a dizer, porque muitos queriam ver o que eles iam dizer.
A cada dia vemos algumas
classes da nossa sociedade perdendo crédito, respeito e com moral cada vez mais
baixa. No meio da plantação parece existir mais joio do que trigo. Alguém pode
dizer: 'Mas, você está julgando!' Não é questão de julgamento, é apenas não ser
cego e ver o que estão fazendo, ou melhor, deixando de fazer.
A cada dia o uso da palavra
se torna sempre mais rebuscado e requintado por indivíduos que aprendem a
manipular seus ouvintes. Porém, a habilidade que têm em falar, não é a mesma
que têm para viver o que dizem acreditar.
No horário da propaganda
eleitoral, por exemplo, é de arrancar risos, para não dizer lágrimas ao ver e
ouvir os velhos jargões 'eu fiz', 'eu farei', 'vou lutar por vocês', 'pela
educação, saúde e segurança', 'mais empregos para os jovens', e por aí vai, a
lista é interminável.
Para ser franco, tudo não
passava de balela. Discurso pronto, bem pontuado, bem ensaiado, uma produção
neuro linguisticamente calculada.
O resultado de verdade é bem
conhecido: mensalão, maleta de dólar, cueca recheada de dinheiro, reuniões
clandestinas em sofisticadas coberturas, empresas fictícias, talão de notas
frias, ambulância que vale mais que ônibus etc. São apenas palavras belas, bem
pronunciadas, mas pouco vividas. Há muito tempo, a incoerência entre o discurso
e a prática era patente de político. Na Grécia antiga chamavam-se de
sofistas. Estavam fora desse grupo os homens e mulheres que sempre foram
conhecidos como pessoas de Deus, ou que usavam racionalmente a inteligência
humana.
Infelizmente, essa distinção
já está se tornando muito difícil de fazer. Muitos que dizem pregar amor,
compaixão, perdão, humildade, servir ao próximo e batem no peito dizendo fazer
como Cristo ensinou, estão longe de saber o que é ser imitador do Mestre da
Vida. Jesus jamais compactuou com qualquer atitude em que um homem tentasse
sobrepor-se ao outro quer pela lei quer pela força.
Ele ensinou e viveu de tal
forma a mostrar que para Deus não há acepção de pessoas. O apóstolo Tiago
escreveu em sua carta que quem faz acepção de pessoas comete pecado. Muitos
podem não saber ou fingir que não sabem, mas a presunção de dizer: 'eu sou mais
santo do que tu', como profetizou Isaías, também é acepção de pessoas.
Não podemos generalizar,
salvo pouquíssimas exceções, muitos discursos não só foram pecados porque
estavam mentindo para si mesmo, mas crime que desrespeitam a cidadania e a
dignidade da pessoa humana.
Na vida real, a fome, a
miséria, a escassez de atos acalentadores de atendimento à saúde, a educação
sucateada e os desvios de dinheiro público não admitem enganação, exigem ação
concreta quanto ao cidadão será reconhecido a sua dignidade humana e a
valorização do seu estado de viver, e viver bem!
João Pessoa, 30 de outubro
de 2012.
*Escritor pombalense
autor de vários livros e Promotor de Justiça na Capital do Estado.
scoelho@globo.com
ESTELIONATO ELEITORAL
Reviewed by Clemildo Brunet
on
10/30/2012 01:26:00 PM
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