Religiosidade, Paixão e Civismo
Genival Torres Dantas*
Genival Torres Dantas |
Desde
quando o homem sentiu a necessidade de não mais vagar pela terra, parando com a
vida nômade, se fixando em algum lugar, procurando assegurar sua sobrevivência
com o produto do seu trabalho, com a pesca e o cultiva da terra. Com esse novo
modo de vida surgem mudanças profundas no seu comportamento e relacionamento
com os demais membros dos grupos que foram se formando ao longo do tempo.
Com
o estabelecimento em áreas determinadas o sentimento pelo lugar escolhido foi determinante
para que os primeiros grupos formassem comunidades e procurasse se ajudar
mutuamente. Evidentemente aparecem os princípios sociais, divisão de tarefas,
conceitos, princípios filosóficos, e
uma gama de problemas relacionados ao dia
a dia do relacionamento humano, tão normal até hoje.
Pelo
desejo de obter mantimentos para o seu sustento durante todo o ano e em todas
as estações, sem interrupção ou prejuízo às suas tarefas do cotidiano, se
sentindo impotente diante de tantos problemas novos, o homem começa a criar
desenvolver seus mitos, normalmente relacionados a natureza e sua sabedoria,
deuses, apelando para o sobrenatural, passando a questionar sua origem e a
providencial ajuda da força de um universo que um dia ia explorar e até
conquistar, como conquistado foi seu espaço delimitado pela sua capacidade de
ação e visão.
Aparece
a religiosidade, a devoção naquilo que se acredita ser a força superior que
protegia e dava coragem para sua luta. Na seqüência, não necessariamente numa
ordem lógica e objetiva, e não demorou muito, o sentimento de religiosidade se
transforma em paixão desmedida ao ponto de criar situações ou novos elos para
ser motivo de devoção e dedicação, era a perda da razão. Essa mistura de ação e
reação foi sendo criado um sentimento maior de apego ao seu local, ou o lugar
escolhido para formação dos núcleos e seu desenvolvimento com segurança para a
futura geração que surgia com a nova classe chamada família. O amor a terra
trouxe o sentimento de civismo, o apego às coisas que foi formando e
construindo com o seu trabalho pessoal ou em grupo.
Pela
religiosidade o homem cria seitas que se transforma em organizações poderosas
de grande influencia para sua formação moral. Com a paixão aparece uma série de
situações onde o homem procurava se refazer do cansaço, em decorrência do seu
trabalho que se acelerava pelo desejo de conquistar novas terras e fazer
fortuna, a simples sobrevivência já não era motivo suficiente para se manter
devotado ao trabalho. Com o crescimento dos núcleos e o conseqüente transtorno,
ocasionado pelos vários tipos de personalidades, aparece aqueles se organizaram
para administrar as comunidades, por ordem nos inconformados, segurar os
direitos individuais e coletivos.
Estava
o homem diante de uma sociedade civil que procurou se estruturar, criando
ideologias, formando as massas e direcionando suas vidas.
Hoje
somos participantes de uma nova sociedade, o Brasil é formado, em termos de
religiosidade, basicamente pelo cristianismo, onde muitas religiões pregam um
mesmo Deus, mas as correntes trabalham em função de mostrar suas virtudes e
qualidades.
Nossas
paixões são muitas, temos nossos ídolos nos esportes, principalmente no
futebol, seara de grandes nomes, eternas lendas, memoráveis artistas da bola.
Entretanto, outras competições teem seus seguidores e heróis.
Quando
tratamos de civismo imediatamente surge a política, esse é um campo de muitas
contradições, benfeitores e malfeitores, é exatamente nesse espaço que o homem
desenvolveu seu lado mais cruel, mais desumano.
Temos
uma sociedade administrada pelo regime democrático, constituído de partidos
políticos, inicialmente formados para trabalharem em benefício da causa comum,
desenvolvendo o Estado, para o engrandecimento do ser humano. Infelizmente a
grande maioria não tem se comportado dessa forma, mantendo nos seus quadros
elementos nocivos a nossa sociedade, que subtraem nossas riquezas,
emporcalhando nossa moral com comportamentos dilacerantes, verdadeiras
catástrofes humanas. Sinistras personalidades de indesejáveis presenças no
nosso meio, mas que sobrevive da incapacidade da justiça em extirpá-los, por
furos nas leis que nos regem, e pela nossa absoluta ignorância, mantendo-os no
poder com a nossa anuência, nossos votos de conveniências por atos de
verdadeiras imoralidades.
Precisamos
aprender com nossos erros e acertos passados, a nossa sociedade inchou não
cresceu, esticou não evoluiu, estudou não entendeu a lição, andou em torno de
si não caminhou em direção alguma. Estamos estáticos, vendo nossos destinos sendo
dirigidos por elementos, muitas deles subproduto do suprassumo da escória
humana, atuando com o propósito único de tirar proveito para enriquecimento próprio,
sem se
Importar
com a causa alheia, apenas se locupletando do erário público.
Esse
é o nosso retrato de ontem e de hoje, não podemos permitir que ele seja o mesmo
no futuro, nos dedicamos à política com verdadeira religiosidade, paixão e sem
nenhum civismo, uma verdadeira falta de visão e consciência.
É
definitivamente hora de mudarmos, nada melhor que começarmos na base, nas
nossas cidades, elegendo pessoas com verdadeiros espíritos públicos, sem
comprometimento com grupos ou pessoas que não sejam com o ser humano e o Estado
livre e independente.
*Escritor e Poeta
Religiosidade, Paixão e Civismo
Reviewed by Clemildo Brunet
on
10/06/2012 11:24:00 PM
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