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ULYSSES: DESAPARECIDO SIM, ESQUECIDO NÃO

Genival Torres Dantas
   Genival Torres Dantas*

Faz 20 anos que o Brasil chora a morte de um dos seus maiores líderes políticos e patrono da redemocratização brasileira. Ulysses Silveira Guimarães, simplesmente Ulysses Guimarães, morreu em acidente aéreo, queda de helicóptero, no sul do Estado do Rio de Janeiro, exatamente no litoral fluminense, Angra dos Reis, em 12 de outubro de 1992. Oportunidade que faleceram mais 4 pessoas, a esposa Mora Guimarães, o ex-senador Severo Fagundes Gomes e a esposa Anna Maria, além do piloto, cujos corpos foram localizados com exceção o do líder das Diretas Já, como ficou conhecido Ulysses Guimarães.

O grande político foi torcedor fanático do Santos Futebol Clube, professor de Direito Internacional Público, da Universidade Mackenzie (SP), Direito Municipal na Faculdade de Direito de Direito de Itu (SP) e
Direito Constitucional na Faculdade de Direito de Bauru (SP). Portanto, um homem preparado para a política nacional, sendo eleito pela 1° vez, deputado Estadual em São Paulo, à Constituinte de 1947, elegendo-se deputado federal por onze vezes consecutivamente, de 1951 a 1995, não completando o último mandato pelo seu trágico falecimento aos 76 anos. Durante sua vida pública exerceu o cargo de Ministro da Indústria  e Comercio, no governo parlamentarista, de duração efêmera, de Tancredo Neves, (1961-1962).

Foi durante o governo da ditadura militar que Ulysses Guimarães foi reconhecido como o grande brasileiro democrata, muito embora tenha apoiado a revolução na derrubada do presidente João Belchior Marques Goulart, popularmente conhecido como Jango, logo após passou para a oposição, e com a instauração do bipartidarismo (1965), filiou-se ao (MDB) Movimento Democrático Brasileiro, sendo vice-presidente e presidente do partido.

Como símbolo ao repúdio e a indignação ao regime militar, lança sua anticandidatura à Presidência da República, tendo como vice o não menos lendário jornalista, advogado, escritor, historiador, ensaísta e político (foi governador de Pernambuco 1948-1951).
Ulysses com lideranças políticas do MDB em Pombal década de 70
Com o fim do bipartidarismo em 1979, o MDB converteu-se em (PMDB) Partido do Movimento Democrático Brasileiro, onde viria ser presidente nacional e de memoráveis lutas para a redemocratização, a luta pela anistia ampla, geral e irrestrita.

Foi no período de 1983-1984 que a batalha política pela volta a sistema democrático tornou-se mais dura, com a participação de líderes como: Tancredo de Almeida Neves (MG), Gerson Camata (ES), Iris Rezende Machado (GO), Miguel Arraes de Alencar (PE), Roberto João Pereira Freire (PE), Jarbas Vasconcelos(PE), Teotônio Brandão Vilela (AL), Dante Martins de Oliveira, Mario Covas Junior (SP), Orestes Quércia (SP), André Franco Montoro (SP), Luiz Inácio Lula da Silva (SP), Eduardo Matarazzo Suplicy, Fernando Henrique Cardoso (RJ),  e tantos outros, além do próprio Ulysses Silveira Guimarães.

Apoiados pela ideia de um deles, o senador por Alagoas Teotônio Brandão Vilela, que num programa de televisão, “Canal Livre, da TV Bandeirantes”, lança o movimento Diretas-Já. A partir desse momento e embalado pelas músicas, “menestrel das Alagoas”, de Milton Nascimento e Fernando Brant, interpretada pelo próprio Milton, e “coração de estudante” de Wagner Tiso, e imortalizada como hino do movimento, na voz de Fafá de Belém, era o momento de união pela mente e o coração de uma nação  cansada da opressão, o Brasil sente a força da voz do povo, na ânsia pela redemocratização, nos grandes comícios, marca maior daquele movimento. 

Muito embora a Emenda Constitucional Dante de Oliveira, tenha sido votada e derrotada no Congresso Nacional, um ano depois, em 1985, Ulysses Guimarães ver seus ideais democráticos brotarem, parcialmente, na vitória de Tancredo de Almeida Neves, e ser eleito Presidente da República, juntamente com José Sarney de Araujo Costa, como vice-presidente, pelo Colégio Eleitoral. Com a morte do Tancredo Neves e a posse do José Sarney, Ulysses Guimarães, como Presidente da Câmara Federal, passa a ter o 2° Cargo do Poder, naquele momento político e com a posse do vice-presidente como presidente, portanto, na hierarquia dos poderes constituídos, passou a existir vacância do cargo de vice-presidente
Ulysses Guimarães toma posse como presidente da Assembléia Nacional Constituinte, em 1° de fevereiro de 1987. Em 5 de outubro de 1988 a Constituição da República Federativa do Brasil é promulgada, sendo a sexta ou sétima constituição Brasileira em um século de república, considerando ou não a Emenda Constitucional n° 1 como texto constitucional, da ditadura militar, no regime de exceção. Com 67 emendas e mais 6 revisão, foi a constituição que mais sofreu emendas na nossa história.

Como presidente da Câmara dos Deputados, Ulysses Guimarães assume por várias vezes a presidência da República, em substituição ao Presidente José Sarney, constituindo-se como o primeiro paulista a assumir a presidencia depois de Ranieri Mazzilli em 1964.
Foi candidato à presidente da República em 1989, com uma atuação pífia, o Brasil exigia o novo, mais mudanças e prevaleceu o discurso de caça aos marajás, que tinha se implantado no governo, do Fernando Collor de Melo que venceu as eleições na época.

Ulysses Guimarães, o Sr. das Diretas, é sem dúvida o maior símbolo à resistência ao governo militar que o país teve de 1964-1985, o homem que conheceu e conviveu com o poder sem se prostituir ou se deixar levar pelo glamour que os cargos ostentam na imagem dos políticos pobres de espíritos que muitas vezes se agarram ao poder por pura vaidade, sem nenhum interesse em trabalhar pelas causas populares e pelo bem comum. Esse grande patriota pode ter desaparecido na profundeza das águas, mas ficará eternizado na história como um dos grandes patrocinadores da liberdade e dos direitos humanos, pela democrata que sempre foi, tendo lutado sem medo da truculência de um regime que nasceu fadado à derrota, pelo que ele representou e representa para o povo brasileiro.

*Escritor e Poeta
ULYSSES: DESAPARECIDO SIM, ESQUECIDO NÃO ULYSSES: DESAPARECIDO SIM, ESQUECIDO NÃO Reviewed by Clemildo Brunet on 10/22/2012 07:17:00 AM Rating: 5

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