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G O N Z A G A De pai para filho


Severino Coelho Viana
Por Severino Coelho Viana*

Uma semana exaustiva de trabalho e com o cansaço deixado pela própria rotina, passeando pelo shopping, depois do desembolso na livraria, segui aquele ligeiro visual nos filmes em exibição, faltando apenas quinze minutos para o início da sessão, não podia deixar para outro dia, assisti ao filme: GONZAGA – De Pai para Filho – direção de Breno Silveira.

Este sim, por ter um diferencial dos outros, no estilo musical, é um roteiro de caráter memorialista, que os aplausos deverão soar aos quatro ventos deste Brasil afora. Pode esperar o resultado: os prêmios virão de todos os pontos cardeais, e,
é claro, merecidamente.

O diretor do filme já se tronou um experimentado nos longa metragem de temas musicais, que estreou no cinema com – OS DOIS FILHOS DE FRANCISCO, sobre Zezé Di Camargo e Luciano. Neste último de Gonzagão a Gonzaguinha, ele extrapolou o campo cinebiográfico e mostrou uma época de vida e costume, regra moral e conduta social, lazer e sofrimento, entre o sertão nordestino e a região Sudeste do Brasil.

Os nordestinos que convivem no dia a dia de nossa era contemporânea e sabem a história do Nordeste do início do século passado, o filme é um reviver de emoção. Gonzagão, quando adolescente, interpretado por Land Vieira, aprendeu a tocar acordeão com o pai, Januário, interpretado por Cláudio Jaborandy, que consertava o instrumento.

O homem nordestino é retratado como uma figura de homem forte e que não tem medo do trabalho, capaz de lutar até o último momento para manter a família, superar os obstáculos e impelidos a aceitar o destino fatalista trazido pela seca. Aceitar os desafios da seca causticante e não temer as atrocidades dos coronéis e dos cangaceiros que assolavam o Nordeste brasileiro.

E assim faz-nos relembrar aquelas cenas vivenciadas por muitos no sertão nordestino. Sanfoneiro iniciante apaixonou-se por Nazinha (Cecília Dassi) “rica, branca e letrada”, enquanto ele era um “mulato pobre, sem eira nem beira”. Com a ingerência da família na vida da donzela, Gonzaga foi ameaçado de morte, e, por conta dessa ameaça, tentou a sorte no exército, e, finalmente, na década de 1940, chegou ao Rio de Janeiro, onde o seu reinado começou.

Neste período, de 1940 a 1945, no Rio de Janeiro, disseminou mais na classe feminina as crises de doença mental e tuberculose, justamente, quando Luiz Gonzaga iniciou a sua peleja musical, apaixonou-se pela mãe de Gonzaguinha, que morreu de tuberculose, deixando-o órfão em tenra idade, sendo criado pelos os padrinhos, com a ajuda financeira do pai – Gonzaga.

Na Capital Federal, à época, levava uma vida de altos e baixos, mas insistia e não perdia os princípios morais de suas raízes telúricas. Sofre, é humilhado, recebe gorjeta e toca sanfona no meio da rua que lhe serve de ganha pão. Nesse período de turbulência nasceu Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior – O Gonzaguinha – que registrou, teve, manteve e o considerou como filho biológico.

Os intérpretes de Gonzaguinha dão um verdadeiro show. Alisson Santos, na infância; Giancarlo Di Tomaso, na adolescência; enquanto que Júlio Andrade, na fase adulta, não é um intérprete, porém o sósia de Gonzaguinha.

Quando o assistente se personifica dentro do roteiro, ora seus olhos enchem de lágrimas, ora seu coração palpita de emoção. As cenas revelam situações comoventes de perda, de dor, de frustração, de desencanto, de incerteza, mas, sobretudo, de muita coragem. As tiradas cômicas e as passagens panorâmicas de alegria, o assistente enxuga as lágrimas e imediatamente começa a sorrir.

Na paisagem seca do sertão tórrido, gado morto na beira da estrada, crianças de cabelos assanhados pela dor da fome, o pai de olhar sofrido por falta de condições de subsistência, a mãe que sente o tamanho de um coração sofredor. Cactos ou mandacaru, que às vezes servem de alimentos, resistente à falta d'água, existe um drama, um flagelo histórico vivido por um povo sofrido - o do sertão nordestino. O rio que abastece o local secou. O nordestino que o seguia para um lugar melhor, onde não houvesse tanta pobreza, tristeza e morte, se perdeu. A seca expulsa muitos nordestinos de suas terras e os empurra para a cidade grande em busca do sonho de uma vida melhor, sem tanto sofrimento. Mas na cidade grande há tanta desigualdade social que muitos nordestinos experimentam apenas uma enorme desilusão. Quem ganha dinheiro nas cidades são os políticos e os banqueiros. A palavra de pranto anunciada na voz do pranto de Luiz Gonzaga, pelos seus próprios méritos, tornou-se o Rei do Baião.

Conjuntamente a história do pai segue a história de vida do filho – GONZAGUINHA. Pai e filho se conflitam o tempo todo até o momento da reconciliação. O roteiro não deixa bem claro e sutilmente sentimos a distinção de conflito ideológico entre o pai da direito e filho da esquerda. Não há um aguçamento de pensamento político/ideológico, salvo exposição de cenas ocorridas no período do regime militar implantado no país, nem demonstrado em palavras e atos. Parece-nos que o mais notório é o conflito de geração, rigidez familiar e comportamento na vivência dos ambientes totalmente antagônicos dos dois personagens, que por sua vez, devido o tempo e o espaço redunda nos estilos musicais diferenciados.

No pano de fundo do roteiro, ficou a lição de dois estilos de vida, dois pratos de comida, duas regras de educação, duas formas de apresentação social, duas condutas de comportamento familiar e dois mundos diferenciados entre os costumes do Nordeste e do Sudeste, mas que podem viver e conviver harmoniosamente pelos laços de amor.

João Pessoa, 05 de novembro de 2012.

*Escritor pombalense autor de vários livros e Promotor de Justiça em João Pessoa PB.

G O N Z A G A De pai para filho G O N Z A G A  De pai para filho Reviewed by Clemildo Brunet on 11/06/2012 06:26:00 AM Rating: 5

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