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OS TRÊS PILARES DA MÚSICA NORDESTINA

Maciel Gonzaga

Maciel Gonzaga*
O Filme “Luiz Gonzaga: De Pai para Filho” fez renascer na elite da mídia nacional o gosto pelo nosso forró, música criada por Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. Particularmente, eu gosto de afirmar nas conversas com amigos sobre o tema, que o nosso forró tem uma espécie de “Santíssima Trindade”: Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e João do Vale, os três pilares da Música Popular Nordestina.

Durante parte da minha vida morando em Campina Grande, tive oportunidade de me aprofundar no gosto pela Música Popular Nordestina. Trabalhando em rádio e “empresariando” cantores musicais eu me aproximei ainda mais com a música e
com suas estrelas. Pude conviver muito próximo com Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. Fiz do forró a minha música predileta e passei a integrar um grupo de pessoas da cidade “Rainha da Borborema” que se auto intitulava “Os Forrozeiros” e radicalmente defendia esse gênero musical. Não tenho modéstia em dizer que participei ativamente, trabalhando na administração do prefeito Ronaldo Cunha Lima, da criação do “Maior São João do Mundo” nos meados da década de 80.
uma foto com Luiz Gonzaga e um grupo de jornalista, em Campina Grande, no início da década de 80...
Na foto estão pela ordem: Hermano José, Olga Barros - LUIZ GONZAGA - Graziela Emerenciano, Josildo Albuquerque, o publicitário Fernando Vasconcelos, e Maciel Gonzaga de Luna (eu como empresário de Luiz Gonzaga na região de Campina Grande). Foi um almoço com a imprensa no restaurante Manuel da Carne de Sol..

Sou um fã incondicional de Luiz Gonzaga. Mas, acho que a melhor definição sobre o “Velho Lua”, quem deu foi o mestre Câmara Cascudo: “Ele próprio, Gonzaga, é a fonte, cabeceira e nascente de suas criações. O sertão é ele, a paisagem pernambucana, águas, matas, caminhos, silêncio, gente viva e morta. Tempos idos nas povoações sentimentais, voltam a viver, cantar e sofrer, quando ele põe os dedos nos teclados de sua sanfona. Luiz Gonzaga é a colaboração sem preço de uma informação viva, pessoal e humana”. Para mim, falar de Luiz Gonzaga é também lembrar dos grandes mitos nordestinos: Padre Cícero, Antônio Conselheiro, Lampião, Leandro Gomes de Barros, Frei Damião, Luiz da Câmara Cascudo, etc.

A minha simpatia por Jackson do Pandeiro vem dos tempos – início da década de 60 – das apresentações do boneco “Terezão”, na Festa do Rosário, em Pombal. Ainda hoje não me sai da lembrança as músicas “Baile da Gabriela” (o verdadeiro nome é “Na Base da Chinela”) e “Como Tem Zé na Paraíba”. O meu pai José Firmino de Luna – o “Alegria”, da Brasil Oiticica - era um fã incondicional de Jackson do Pandeiro e de Zito Borborema. Tudo por conta da sua estreita ligação com Campina Grande onde havia residido antes de ir morar em Pombal. Contava ele que viu muitas vezes Jackson do Pandeiro cantando nos forrós do bairro de José Pinheiro. Faço minhas as palavras do mestre Rolando Boldrin: “Se Luiz Gonzaga era uma espécie de Pelé na música, então Jackson do Pandeiro só pode ser comparado a Mané Garrincha”. Jackson deu uma grande colaboração para popularizar o forró.

Destarte, que a primeira música gravada com o nome forró foi “Forró do Mané Vito” (Luiz Gonzaga e Zé Dantas), em 1949: “Seu delegado / Sem encrenca eu não brigo / Se ninguém bulir comigo / Num sou homem pra brigar / Mas nessa festa / Seu dotô, perdi a carma / Tive que pegá nas arma / Pois num gosto de apanhar”. Posteriormente, vieram: “Forró em Limoeiro”, Forró em Caruaru”, “Forró em Campina”... Todas narram uma confusão no baile. A valentia, assim como a sensualidade, sempre esteve no ambiente da festa.

O servente de pedreiro João Batista do Vale, simplesmente João do Vale, um nordestino da cidade de Pedreiras-MA, se projetou musicalmente no Rio de Janeiro e se tornou conhecido pelas suas poesias, composições que foram musicadas e cantadas por muitos artistas e que lançou a divina Maria Betânia para os palcos da vida, no Show Opinião, em 1964, com a música “Carcará”. Neto de escravos, aos 8 anos João do Vale já fazia versos e era o “amo” do Bumba-meu-Boi. Muitas composições suas ficaram conhecidas como sendo do intérprete, o que no Brasil é muito comum, como foi o caso de “Peba na Pimenta” e “Pisa na Fulo”, com Ivon Cury e, posteriormente, Marinês; “O Canto da Ema”, com Jackson do Pandeiro; “Coroné Antônio Bento”, com Tim Maia; “Uricurí”, com Nara Leão; e “Carcará” com Maria Betânia.

Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro representam o que há de mais importante na Música Nordestina. Gonzaga tinha um traço mais rural, enquanto Jackson representava o Nordeste urbano. Já João do Vale conseguia fazer a alquimia que misturava o samba ao baião. Assim os três são os grandes pilares da Música Popular Nordestina!

*Jornalista, Advogado e Professor – Natal RN.
OS TRÊS PILARES DA MÚSICA NORDESTINA OS TRÊS PILARES DA MÚSICA NORDESTINA Reviewed by Clemildo Brunet on 11/26/2012 08:30:00 AM Rating: 5

Um comentário

Inácio Gonçalves de Souza disse...

Como conseguir um exemplar deste livro?

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