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SAUDADES DO JORNAL “O GRILO”

Ignácio Tavares

Ignácio Tavares*
Nos anos cinquenta, a sociedade de Pombal vivia intensamente os bons momentos proporcionados pelo “boom” econômico que marcou o inicio do primeiro ciclo econômico do município. As festas eram animadas, pois o dinheiro era fácil em razão da posição de Pombal como o segundo maior produtor de algodão do Estado, depois do município de Sousa.

A juventude por ocasião das festas, orgulhosamente ostentava vestes elegantes, símbolo de classe média bem sucedida. Nessa época eu era menino, mas observava atentamente a movimentação da sociedade opulenta dos anos cinquenta. O núcleo da juventude era formado por Raimilson Felinto, Manoel Bandeira, Epitácio Queiroga, Zé Pretinho, Agu Rodrigues dos Santos, Belino Queiroga, Raminho Rodrigues, Carneiro Arnaud entre tantos outros que me fogem a memória.

Eram esses jovens que movimentavam a sociedade de Pombal no início dos anos cinquenta ao lado de belas jovens cujos nomes deixo de citá-los para não cometer omissões por esquecimento. Pois é,
as festas eram bastante animadas sobretudo quando se tratava das efemérides da Padroeira e do Rosário, realizadas em épocas diferentes.

O ápice das festas era um jornalzinho denominado o “Grilo” que bisbilhotava a vida de todo mundo. Os principais redatores do jornaleco eram doutor Lourival e Manoel Bandeira. Ninguém fugia ao olhar arguto dessas duas criaturas. Noticiavam-se namoros findos, namoros próximos a iniciar, moçoilas a procura de um príncipe encantado, entre tantos acontecimentos do dia a dia da juventude local. O jornal era vendido a um preço simbólico e a renda resultante das vendas era revertida em favor das obras sociais da igreja.

Mas a partir de determinada horas da noite o “Grilo” era lido por Manoel Bandeira no serviço de autofalante da Igreja, para que a comunidade também se deleitasse das tiradas bem humoradas  improvisadas pelos dois redatores. Lembro-me, como se fosse hoje, a chegada do material para a confecção de o “Grilo” na tipografia de Afonso Mouta, localizada a Rua Cel. José Fernandes, nas proximidades do mercado público.

Quando tinha doze anos estagiei nessa tipografia a fim de aprender a arte de linotipista, com o senhor José Trajano, responsável pelos trabalhos da firma. Tudo era feito de forma manual. Havia umas pranchas onde se colocava tipos de chumbo, claro, depois de formar as palavras que iriam da forma ao jornaleco. É lógico que antes de iniciar os trabalhos eu lia tudo que estava escrito, de tal sorte que era o primeiro a ter conhecimento do conteúdo da próxima edição do “Grilo”.

Como tudo passa o “Grilo” passou para sempre. Houve uma tentativa de reeditá-lo nos anos sessenta porem sem sucesso. Mesmo assim, o saudoso jornaleco é uma grata lembrança dos bons tempos que a juventude de Pombal divertia-se com criatividade. É pena que a nossa sociedade hoje esteja dividida politicamente, diga-se de passagem, de forma radical, o que impossibilita a criatividade bem humorada, a exemplo dos anos cinquenta, no meio da nossa juventude.

O ranço político levado às últimas consequências neste último pleito define muito bem o grau de divisão a que está submetido o nosso povo sem nenhuma perspectiva de mudanças no horizonte, pelo menos nos próximos vinte anos. Queira Deus que as minhas previsões estejam erradas. E você (pueri ignave) o que é que acha?

João Pessoa, 31 de Janeiro de 2013

*Economista e Escritor pombalense
SAUDADES DO JORNAL “O GRILO” SAUDADES DO JORNAL “O GRILO” Reviewed by Clemildo Brunet on 1/31/2013 07:43:00 AM Rating: 5

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