banner

THE END



W. J. Solha
W. J. Solha*

Adeus ao cinema. Tenho recebido alguns convites – não muitos, mas expressivos – pra integrar elencos de outros filmes, depois de O Som ao Redor e de Era uma vez eu, Verônica – de Kleber Mendonça Filho e Marcelo Gomes - e faço este comunicado porque não quero parecer – a este ou aquele diretor - estar recusando o trabalho que acaso vier a me oferecer.

Estava exausto, no final de 2010, quando voltei do Recife com esses dois títulos no currículo e a caminho do sertão, pra participar do curta Antoninha, Laércio Ferreira em sua primeira experiência com ficção. Fui ao sítio Acauã justamente pra não parecer subestimar o roteiro, de que gostara muito, nem o produtor Heleno Bernardo, que me convidara. Mas não tive condições físicas de fazer minha parte como deveria, e acho que tirei o brilho maior que o filme poderia ter. Pela primeira vez eu sentia o que significa “idade”.

Mas por que me esgotara tanto? Por causa do peso da responsabilidade que assumira ante tão grandes roteiristas-diretores, em Pernambuco. Passava as noites em claro, nos quartos em que fiquei em Boa Viagem, entregue a ensaios solitários, procurando, milimetricamente, a exatidão de cada olhar, gesto e
fala a serem utilizados durante o dia.  Valeu a pena, claro.
Recebi muitos elogios de críticos daqui e de fora, depois, naturais em obras tão premiadas. E é fácil, para mim, ver que se me saíra bem agora, isso nunca se dera antes, a não ser no curta A Canga, de 2001, em cima de meu livro homônimo e com direção de Marcus Vilar, elenco preparado pelo Nanego Lira.

É óbvio que o fator determinante fora o de  receber papeis mais densos em 2010, trabalhar com grandes diretores e, também, com grandes assessores deles: Leonardo Lacca e Amanda Gabriel, em O Som ao Redor, Pedro Freire no Verônica.
Os papeis, por outro lado, vieram-me por conta do físico certo para meus personagens – o chamado physique du rôle – descoberto pelo cineasta Daniel Aragão ao me ver subir ao palco do Teatro de Santa Isabel, com o maestro Eli-Eri Moura, no final de nossa ópera Dulcineia e Trancoso.

Quando ele me ligou, dias depois, convidando-me para um teste, recusei-me. Não queria, mais, me dar mal ante as câmeras. Insistiu tanto, que lhe pedi o roteiro do Som... e vi que ali estava um filme e um personagem extraordinários, um modo de superar todo o trauma que me atormentava desde a produção de O Salário da Morte, em 70. E acertei, como acertei ao ser o primeiro a ver que o Vau do Sarapalha iria estourar. Daí que, feita a minha catarse, volto à velha, querida e ingrata literatura.  That´s all, folks!

*Escritor - autor de vários livros, artista plástico, dramaturgo e cineasta.
THE END THE END Reviewed by Clemildo Brunet on 1/18/2013 07:16:00 AM Rating: 5

Nenhum comentário

Recent Posts

Fashion