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Ventos da Seca

Onaldo Queiroga

Onaldo Queiroga*

Entra ano e sai ano, dias e noites, e, de vez em quando a estiagem faz morada no sertão. Essa fêmea impiedosa trás o Sol para bem perto do chão e um calor insuportável começa a beber a água dos riachos, açudes e barragens.

Vêm, então, os ventos que sopram e que levantam poeiras quentes. No meio delas monstros que se erguem e engolem plantações, animais, homens, a paciência, a esperança e sonhos. Os ventos da seca são como facas amoladas, que no descampado mundo sertanejo corta olhares romeiros, espalha as nuvens que molhariam e banhariam as terras e lajedos. São ventos que trazem aos nossos ouvidos o canto agourento da Acauã. Ventos que levam a chuva, que conduz a fome e
a sede. São ventos que assoviam sofrimentos. 

Como é triste o cenário da seca: O dia amanhece e da rede o caboclo se levanta, caminha até a cozinha, lá panelas encardidas e sem alimentos. Num canto de parede um pote seco, meninos deitados pelo chão, um cachorro com um olhar piedoso debaixo da mesa. Ao abrir a porta ele vai até ao terreiro, no céu nenhuma nuvem, apenas o Sol que impera com o seu calor, calor que racha a pele do homem e da terra. De longe avista o seco açude, peixes que se debatem, uma vaca esquelética atolada no meio da lama, desvanecida espera a morte chegar.

A seca é assim, transforma o verde da esperança em desertos cinzentos, seres humanos tornam-se zumbis de um mundo de desolamento, esquecimento e miséria. O sertão dos verdes pastos esmorece diante da falta d’água e o povo por sua vez tem que suportar a fúria da natureza imposta pela estiagem, como também com uma fé inquebrantável fazer a travessia da perseverança, almejando um dia alcançar efetivamente uma política hídrica voltada para acabar definitivamente com esse mal secular.

Vivenciamos uma das maiores secas da nossa história, 2013 se inicia com a dor da estiagem nos sertões nordestinos, é preciso ter fé e acreditar que Deus fará jorrar as gotas d’águas da esperança. Mas há uma verdade que não se pode negar, àquela afirmada por Leandro Flores: “...somos retirantes em pleno Século XXI. Fugindo dos mesmos problemas, convivendo com as mesmas situações, alimentando os mesmos ideais e sempre, sem nunca resolver o que realmente precisa no sertão: a fome educacional”.

*Escritor e Juiz de Direito da 5ª Vara Cível da Capital João Pessoa
Ventos da Seca Ventos da Seca Reviewed by Clemildo Brunet on 1/20/2013 07:23:00 PM Rating: 5

Um comentário

Leandro Flores disse...

Gostaria de agradecer ao meritíssimo Escritor e Juiz de Direito da 5ª Vara Cível da Capital João Pessoa Onaldo Queiroga, pela citação de um texto meu. Sinto-me muito honrado pelo referencial.

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