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REFAZER A NOSSA HISTÓRIA?

Ignácio Tavares

Ignácio Tavares*

Wilson Seixas e José Gregório foram os primeiros filhos da terra a despertar interesse pelos fatos do cotidiano assim como a formação histórica da terra onde nasceram. Wilson através dos seus escritos elucidou a história de Pombal, até então restrita alguns verbetes encontrados nos livros de história da Paraíba de autores conhecidos. Foi um trabalho exaustivo em razão das pesquisas que fez juntos aos arquivos públicos, entre outras fontes escritas e
orais.  

Vez por outra estou a pensar nas dificuldades que esses dois notáveis escritores tiveram de enfrentar dada a escassez de informações com as quais haviam de trabalhar a fim de escrever e editar seus respectivos livros. Não foi nada fácil garimpar e relatar fatos históricos como fez Wilson Seixas, numa escala menor José Gregório, numa época em que tudo era difícil. Isso mesmo, nada era fácil, pois não havia bancos de dados formais que pudessem disponibilizar as informações indispensáveis a elaboração de suas  obras.

José Gregório usou, com certa frequência, informações orais para produzir seus livros (Jesuino, Sertão Perverso) a envolver a história de um temido cangaceiro norteriograndense, entre outros fatos da rotina sertaneja. Wilson, repito, como historiador ( Velho Arraial, Pordeus, Sta. Casa, entre outros) para produzir suas obras recorreu a informações bibliográficas, orais, além das pesquisas realizadas junto aos  livros de apontamentos dos principais cartórios da cidade, até mesmo de outros municípios.

É importante ressaltar que foi através da oralidade que Wilson conseguiu resgatar grande arte da obra de Cazuza Ferreira cujo informante principal foi o meu sogro Raimundo Gomes de Sousa, parente próximo do poeta. Da mesma forma conseguiu resgatar os versos de Silvestre Honório, entre outros. É isso mesmo, quem faz história necessita recorrer a memória de certas pessoas com a finalidade de fazê-las lembrar de fatos passados os quais no presente são desconhecidos.

Wilson foi um pesquisador compulsivo a ponto de comprometer a sua saúde com o passar do tempo. A sua grande contribuição como escritor, além dos livros que escreveu foi a formação do mais completo acervo sobre a história da Paraíba, nos períodos colonial e pós-colonial. Certa vez, nas nossas caminhadas matinais perguntou-me se havia interesse por seu acervo. Respondi-lhe que não, porque nunca fez parte dos meus modestos projetos como pesquisador, enveredar pelas vertentes históricas do Estado da Paraíba, salvo do meu município. É tanto que ocasionalmente recorro à história para ilustrar alguns dos meus escritos, mas sem pretensões de me apresentar como historiador. Isso jamais.

Com efeito, com o passar do tempo pus-me a pensar que seria interessante apropriar-me de uma pequena parte do acervo de Wilson especificamente sobre o município de Pombal. Mas sempre estava a me perguntar: o que fazer com esse material? Ah, sim podia ser útil aos meus raros escritos que envolvo temas históricos do meu município. Mesmo assim continuava a relutar sobre essa possibilidade, pois entendia que não precisaria do acervo de Wilson para produzir meus textos, porque o Arraial, em grande parte é bastante para atender as minhas curiosidades sobre a formação histórica da terrinha.

Por que em grande parte? É verdade que as leituras que sempre estou a fazer dessa obra clássica de Wilson levam-me a pensar que vale a pena acrescentar algo mais alem do que está escrito. Às vezes chego a pensar em dar uma roupagem diferente à interpretação dos fatos históricos que deram origem a minha terra. Desse modo a única contribuição seria fazer algumas considerações sobre as razões da ocupação do interior paraibano a partir do momento que Portugal decidiu ocupar e colonizar integralmente, a sua mais importante colônia do alem mar, logo apos desvencilhar-se do jugo espanhol.

Noutras palavras seria buscar as explicações políticas e econômicas que possivelmente induziram Portugal acelerar a ocupação e colonização de uma vasta área do interior nordestino, distante das povoações instaladas no litoral da colônia. Em alguns dos meus escritos fiz breve ensaio sobre essa questão porem sem maior profundidade. Seja, fiz algumas referencias a partir da ruptura das relações entre Portugal e Espanha com a interveniência da Inglaterra, justo no século XVII. É lógico que depois desse episódio Portugal precisava desesperadamente reconstruir suas finanças para poder resistir às crises que haveriam de vir em razão do cerco econômico do governo espanhol.

É verdade que a Inglaterra ajudou Portugal a libertar-se do jugo Espanhol, mas, a um preço político e econômico muito elevado. Desse modo, sem um tesouro financeiramente reconstituído, equilibrado, dificilmente a nação lusitana poderia cumprir os compromissos assumidos com a nação mais poderosa do mundo, pelo menos naquela época. É verdade que o ocidente preparava-se para as grandes mudanças que estavam por vir nos séculos seguintes como reflexo da revolução cultural iluminista que resultou no advento e explosão do capitalismo industrial, a partir da segunda metade do século XVIII.

Com efeito, todo processo de ocupação e colonização do sertão paraibano tem sua raiz na libertação de Portugal do jugo Espanhol. Assim sendo, todo historiador que queira dar continuidade a obra de Wilson, necessariamente vai ter que volver o olhar para essa questão, caso contrário poderá continuar na mesmice das narrações enfadonhas que não levam a lugar algum. Sem a ênfase das relações de  “causas e efeitos” não se faz história no sentido amplo da palavra.

Wilson não era um historiador de formação, mas a sua contribuição a elucidação dos fatos históricos  da Paraíba, até então desconhecidos, em particular os fatos que dizem respeito a ocupação do sertão, ampliou as fronteiras dos conhecimentos da história da Paraíba. Agora cabe  aos novos historiadores ampliar as fronteiras dos seus estudos, porem de uma forma mais reflexiva a envolver relações causais entre os atos e fatos que impulsionam a história no espaço e no tempo.

Quanto à obra de José Gregório não há motivações para dar seguimento, pois, trata-se do relato de fatos que se prendem mais a sociologia do que mesmo  a história. São fatos que marcaram uma época em que os conflitos resultantes da ocupação da terra tinham sua origem na disputa pelo poder local. Os coronéis notabilizavam-se pela quantidade de homens que possuíam nos seus domínios, dispostos a servi-lo em qualquer situação quando necessário.

Jesuíno não era paraibano, mas circulava entre a Paraíba e Rio Grande do Norte a serviços dos poderosos da região. Essa história contada por Jose Gregório na sua obra difere substancialmente do modo de fazer história de Wilson. Isso porque não foi preciso debruçar-se sobre os arquivos de cartórios para coletar as informações necessárias a construção da sua obra. Prevaleceu neste caso, em grande parte o fator oralidade, quando muito a recorrência a processos criminais arquivados em cartórios ou mesmo delegacias.  Assim penso eu.

João Pessoa, 10 de Fevereiro de 2013

*Economista e escritor pombalense

COMENTÁRIO

REFAZER A NOSSA HISTÓRIA? SIM, É PRECISO.

               

A história, que é constituída por um conjunto de fatos, imprime um caráter dinâmico. Ela não para. Novos e marcantes acontecimentos se sucedem e a ela são inseridos enriquecendo seu contexto, os quais são narrados por memórias privilegiadas como a sua. Graças a pessoas como você, Verneck, Jerdivan e outros, que colocam o talento a serviço da “terrinha”, conseguem divulgar e enaltecer as peculiaridades do município que fazem de Pombal um lugar ímpar.
Dado o dinamismo da história, refazê-la é preciso, à medida que os fatos forem acontecendo para não ser vencida pelo tempo, como você mesmo sugere. Parte do acervo de Wilson Seixas, em seu poder, pelo seu cabedal de conhecimento, estaria em boas mãos e teria bom proveito.   
Louvável sua ideia de resgatar neste artigo as figuras de Wilson Seixas e José Gregório, ambos precursores na difusão da nossa história. A exaltação desses nomes, sobretudo, é uma atitude de justiça e reconhecimento ao incansável trabalho de busca que serviu de base sólida para a sua edificação. Afinal, por meio desses desbravadores tudo começou.
            Parabéns Inácio. Você é um celeiro vivo de conhecimentos e patrimônio ativo de nossa história. A você toda minha reverência.

Pombal, 14 de fevereiro de 2013.

Prof. Francisco Vieira.
REFAZER A NOSSA HISTÓRIA? REFAZER A NOSSA HISTÓRIA? Reviewed by Clemildo Brunet on 2/10/2013 07:47:00 AM Rating: 5

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