“Vento do Aracatí” de Pombal”
Paulo Abrantes de Oliveira |
Paulo
Abrantes de Oliveira*
Quando menino em Pombal,
minha cidade, senti que era costume do povo pombalense sentar-se na calçada de
suas casas, sempre à noitinha, a esperar, com grande alegria, a chegada do
conhecido “Vento do Aracatí”, que passava açoitando na noite, quando alcançava
a cidade, soprando seu vento frio, arejador e balsamizador de quatro sertões
diferentes: o do Ceará, o da Paraíba, o do Rio Grande do Norte e parte de
Pernambuco.
Era fácil notar e
sentir
esse vento impetuoso, rústico, e itinerante que quando bate na lombada do
nordeste causa espanto com seus açoites, descendo e subindo quebradas e
montanhas distantes de todos os tabuleiros erodidos e cascalhentos, cobertos de
folhas soltas, secas e carcomidas, as quais são levadas para locais
desconhecidos e acumulados para formação de um paú que era utilizado para adubo
na agricultura local.
Quando passava pela caatinga
sertaneja estremecia toda paisagem florística, causando espanto aos animais
noturnos da fauna silvestre, que se preparavam para abandonar suas tocas em
busca de alimentos para sua sobrevivência. Assustava nos ninhos, interrompendo
o sono das aves tropicais, que aqueciam seus ovos e filhotes pequeninos.
Assim, era e continua sendo
o vento de minha terra, transportando um monte de saudades de seu povo, ele que
passa carregando o aroma verde de terra molhada ao iniciar a estação chuvosa.
Logo agora, quando escuto que o sertão está chovendo, lembro daquele vento
estrepitoso, arrasador, rude, que esconde e apaga segredos rudimentares dos
temíveis esconderijos que ficavam abrigados por matas e tabuleiros e que ainda
hoje guardam as sombras e rastros dos andarilhos malfeitores caminhantes do
Riacho do Bode.
È um “vento forte” em
TUPI-GUARANI, que carrega o frescor das matas. Entra na cidade, de peito
aberto, pelas ruas e descampados, que bate furioso por não encontrar nada
verde, nada produzindo nos campos e percorre, sussurrando furioso todas as
ruas, uma a uma, na época sem calçamento, e ao varrer a poeira, com seu sopro
veloz levantava nuvens espessas de poeira infernal. Era uma visão avassaladora
que arremessava, sobre as calçadas, indo de encontro de inúmeros grupos de
amigos e familiares, sentados em cadeiras nas calçadas, em forma de círculos,
como opção de lazer. Lá, se escutava uma
mistura de conversas animadas, de Gerinha á Açoite doido, do Padre da Freguesia
ao Prefeito. Era o nosso jornal diário, noticioso, oral e domiciliário que agia
na hora do Ângelus em Pombal. Era comum ver o vento arejar as faces macias das
morenas sertanejas, que, rapidamente, fugiam alvoroçadas das calçadas,
segurando suas saias longas, que o vento tentava sacudi-las para longe. Assim
podemos dizer que o Vento do Aracatí é vento característico do verão. Sua
permanência depende exclusivamente, de verão intenso, como o do nosso sertão.
É um vento que beija e
balança a alma do pombalense. Vento que traz e leva saudades de nossa terra. È
o vento que encanta e areja a alma que anseia o verde da terra. Vento que é uma
dádiva de Deus para amenizar o calor das plagas sertanejas. Vento que aflora
versos emocionantes dos imortais pombalenses, Membros da Academia de Letras de
Pombal, Luiz Barbosa Neto (Luisinho) ao
cantar “LAMENTO SECO” e da ilustre poetisa pombalense, de saudosa memória,
Maria da Soledade Assis, que se inspira no soneto que transcrevo abaixo:
VENTO
DO ARACATÍ
Vento do Aracatí, que tanta grandeza encerra,
Arejando o Nordeste com toda a sua destreza,
E no
percurso que atravessa a nossa terra.
Ele
descreve um poema de beleza!
È
esperado pelo povo nas calçadas do sertão;
Vento
que sibila nas paisagens com proeza,
Que
desalinha os cabelos das mulatas no verão,
Que canta nossa alegria e murmura nossa tristeza.
Numa praia cearense nasce o sopro colossal,
A percorrer quatro Estados, vai morrer na amplidão,
Decantando em melodia na cidade de Pombal.
È o
Aracatí que abastece sem lamentos
As noites sertanejas em sudeste
direção
Amenizando
o calor nas grandezas deste vento.
*Engenheiro
Civil e escritor pombalense
“Vento do Aracatí” de Pombal”
Reviewed by Clemildo Brunet
on
2/20/2013 09:55:00 AM
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3 comentários
Desconhecia o lado poético do colega Engenheiro Paulo Abrantes de Oliveira e parabenizo pela união da poesia com a tecnologia, afinal tod@s estamos sempre aprendendo a cada dia, lembrando as palavras do educador Paulo Freire, quando afirma que “Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre.” Abraço Afetuoso.
Desconhecia o lado poético do colega Engenheiro Paulo Abrantes de Oliveira e parabenizo pela união da poesia com a tecnologia, afinal tod@s estamos sempre aprendendo a cada dia, lembrando as palavras do educador Paulo Freire, quando afirma que “Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre.” Abraço Afetuoso.
Meu caro Paulo,
É sempre prazeroso receber uma lufada do Aracati, na forma física ou na literária.
Parabéns pelo maravilhoso artigo.
Abraço conterrâneo.
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