Umbuzeiro da Saudade
Onaldo Queiroga |
Onaldo
Queiroga*
Quando ouço uma música,
sempre emerge a curiosidade de saber em que o compositor se inspirou para
lapidar a letra da canção. Foi diante desse contexto que, um dia ao, ouvir a
música "Umbuzeiro da Saudade", fui levado mais uma fez ao mundo imaginário
de Luiz Gonzaga.
Nas minhas andanças pelas
terras gonzaguianas, procurei saber a origem da inspiração. Demorou, mas, até
que enfim, consegui descobrir. Ano passado, numa palestra proferida em conjunto
com a professora cearense Elba Braga Ramalho e o amigo Waldones, este, de
sanfona no peito, falando sobre a citada canção, disse:
"- Gonzaga foi um
dia contratado para fazer um show lá pras bandas do sertão pernambucano. Na
hora marcada, o sanfoneiro subiu no palco e deu início ao seu canto. Olhando
para a multidão, observou a presença de uma cabocla formosa que não lhe tirava
o olhar, e assim foi durante toda apresentação. Ele tocou por mais de hora. Já
era madrugada quando o Lua encerrou o show. Ao descer do palco, para sua
surpresa, lá estava a cabocla, que logo se aproximou pedindo-lhe um
autografo."
Foi nesse momento, segundo
Waldones, que Gonzaga sentiu que havia algo além do autografo. Então, conversa
vai, conversa vem, Gonzaga conseguiu levar a moça para o seu carro, uma Rural.
Ali chegando, dispensou seu motorista e saiu com a cabocla por uma estrada
vicinal. Adiante, o Lua avistou um frondoso Umbuzeiro. Estacionou o automóvel,
sob um céu estrelado e uma Lua exuberante. Os carinhos e afagos começaram, até
que, como diz a música “Karolina com K”, "o sanfoneiro lavou a égua".
Foi tão bom, que os dois adormeceram ali, debaixo do umbuzeiro. O dia já
amanhecia, e o sol, com sua luz e calor forte, acordou o “Lua”. Ao abrir os
olhos, viu que ainda estava sob a sombra do umbuzeiro, com o carro e o chão
cobertos da folhagem daquela encantadora árvore. Levantou o olhar e, do
cenário, vislumbrou ainda o voo dos pássaros, que emitiam, na revoada, cantos
que mais pareciam uma sinfonia divina.
Diante desse contexto,
Gonzaga, com uma inspiração singular, construiu a canção “Umbuzeiro da
Saudade”, que diz: “Umbuzeiro velho / Velho amigo quem diria / Que tuas folhas
caídas / Tuas galhas ressequidas / Iam me servir um dia / Foi naquela
manhãzinha / Quando o sol nós acordou / Que a nossa felicidade / Machucou tanta
saudade / Que me endoideceu de amor / Indiscreto passarinho / Solitário
cantador / Descobriu nosso segredo / Acabou com nosso enredo / Bateu asas e
voou / E hoje vivo pelo mundo / Tal qual um vem vem / Assobiando o dia inteiro
/ Quando vejo um umbuzeiro / Me lembro de ti meu bem”.
E assim surgiu a canção!
*Escritor pombalense
e Juiz de Direito da 5° Vara Cível de
João Pessoa PB.
Umbuzeiro da Saudade
Reviewed by Clemildo Brunet
on
3/19/2013 06:08:00 AM
Rating:
Nenhum comentário
Postar um comentário