VIDA DE PROFETA NO SERTÃO SEMIÁRIDO DO NORDESTE BRASILEIRO
16 mar 2013
José Roberto de Sá |
Por
José Roberto de Sá*
No momento,
meteorologicamente falando, tudo está turvo, disse o profeta! Contudo, o mesmo
profeta diz: nada impede de em segundos ocorrer as necessárias mudanças de
tempo. As condições presentes, em breve, podem ser transformadas… Folhas secas,
vistas caídas ao solo, na presença da água da chuva, podem se decompor e
devolver ao solo os nutrientes essenciais às plantas e promover toda condição
de estresse ao total desenvolvimento delas.
O profeta sempre acredita
que a tristeza pode ser convertida em alegria. O profeta se distancia do meio
do povo e firma o seu olhar ao céu, inclinando o pescoço, sente o prazer de
observar as formações das nuvens e
o tocar do vento em suas pernas, ascendendo
todo seu corpo, em todos os orifícios da epiderme. O profeta observa o sol, a
lua, as estrelas, a aflição dos animais, levando todas essas observações para o
seu cérebro e, daí, meditando e tirando suas conclusões meteorológicas.
O profeta do sertão sempre
amanhece com aquela necessidade de renovar suas esperanças e seus estudos
meteorológicos. O profeta acredita na construção da casa da joana de barro,
acredita no castigo e no milagre também. Segundo o profeta, o castigo não é
nada de rancor de Deus com o homem, mas apenas um corretivo. O profeta é, antes
de tudo, um analista do sistema solo-planta-atmosfera e todo tipo de vida em
sua volta. O profeta analisa e se encanta com os estudiosos científicos da
meteorologia e até classificou as explicações de um estudioso no rádio sobre a
média da temperatura dos oceanos, como a dança da manivela dos oceanos, dizendo
que o pacífico está quente e o atlântico está “frio”, abaixo da média,
implicando na estiagem recente. O profeta fica tão entusiasmado, contente e
encantado com o homem do rádio ao cantar o refrão da música: “A Triste
Partida”, sublime composição poética de Patativa do Assaré, interpretada pelo
nosso profeta maior LUIZ GONZAGA.
Hoje um profeta local correu
em trajeto leste-oeste, sentindo a força do vento e a formação de calor no seu
próprio corpo e chegando no leito do assoreado Rio morto trapiá, abriu as
pernas e os braços no sentido norte-sul, sem roupa, com apenas um saco de estopa
sobre sua cintura pélvica, com seus membros inferiores e superiores se
distanciando da parte central do seu corpo. O profeta, psicologicamente retirou
o seu pescoço do corpo e desligou seu cérebro da cabeça e do mundo e se ligou
aos raios solares e às nuvens que se encontravam parcialmente no céu nublado.
Em total desligamento de si e do mundo, o profeta falou e, profeticamente,
explicou com poucas palavras: o homem! Eh, homem! Oh, homem, deixa de ser
perverso por apenas um instante… Oh, homem, o sertão do semiárido do Nordeste
brasileiro depende das tuas ações…
Em total dormência e
inconsciência no leito do rio, o profeta emitiu sobre o saco de estopa usado
como suas vestes as seguintes interrogações: cadê a vegetação? Cadê todos os
abraços químicos das águas descendo o rio abaixo com seus belos barulhos
debaixo das árvores, conduzindo frutos, flores e restos de vegetais, onde todos
mergulhavam no remanso ou vórtex? Todas essas interrogações o profeta faz um
elo com as ações do homem (ação antrópica). Essas observações encantam a vida
do profeta, pois tais observações para o profeta geram vida e alegria nos
corações de cada sertanejo. Daí o profeta respirou e voltou os abraços e pernas
e o pescoço e o cérebro à normalidade da constituição do seu corpo e disse:
apesar da esperança que não morre em mim, Eh! Eh! Eh! Homem tudo pode mudar,
porém, tudo só depende de Deus.
Seguindo outras profecias, o
profeta, o poeta perguntou: cadê o chocalho? Cadê o berro? Cadê os bichos de
caça? Cadê os cânticos dos pássaros? Ao sentar as nádegas sobre uma rocha de
granito super aquecida em uma curva do morto Rio trapiá, com apenas um saco de
estopa sobre sua cintura pélvica, o mesmo de antes, e, ao observar o movimento
das borboletas de diversos tamanhos e cores o profeta disse: os homens não
merecem, mas por outras razões, as conversões meteorológicas vão acontecer e
vai chover no sertão.
*José
Roberto de Sá. Natural de São José da Lagoa Tapada (PB). Engenheiro Agrônomo
(UFPB). Doutor em Nutrição de Solos (ESAL). Poeta e Escritor. Autor do livro “A
Química do Pensar”, publicado pela Fundação Vingt-un Rosado/Coleção
Mossoroense.
Enviado por José Romero Cardoso.
VIDA DE PROFETA NO SERTÃO SEMIÁRIDO DO NORDESTE BRASILEIRO
Reviewed by Clemildo Brunet
on
3/16/2013 11:14:00 AM
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