NOS TEMPOS DO CACHIMBO ETERNO
Maciel Gonzaga |
Maciel
Gonzaga*
Lendo e relendo o artigo do
mestre Inácio Tavares, “Roteiro da Minha Terra: Pombal, bairros, ruas e fatos”,
me chamou a atenção o trecho em que o autor se refere ao Cachimbo Eterno e à
moradora Dona Cornélia. Como nasci nas cercanias da referida localidade, me
atrevo a escrever estas linhas, porque conheci de perto a personagem emboladora
de coco.
Cornélia era casada com José
Genoíno, ou Zé do Baixio. A molequeira da rua – e
eu me incluo entre eles –
como Pé de Bola ou Dedé da Caçamba; seu irmão Geraldo Inocêncio ou Bucho Verde;
Geraldo de Neném de Procotó; Zé Coelho; os irmãos o Gordo e o Magro; meu irmão
Massilon e tantos outros ficavam à espera, no final da tarde, para festejarem a
passagem de Zé do Baixio pela nossa rua. Lembro-me bem, ele caminhava lentamente,
fumando um cachimbo, portando um surrado chapéu de coro e com um “borná” a tira
colo. Um dos moleques, que recebia a designação a cada dia diferente, gritava:
“Cangaceiro de Lampião!”. Aí era festa! A resposta era incontinente: “É o rabo
da mãe!”. Isso quando não ia mais adiante e dizia um impropério impublicável.
Em frente a nossa casa,
morava o irmão de Cornélia, o pescador Vital, pai de Zé Corró e de Manezinho
Pão de Milho (Mané Pescador). “Seu” Vital saía em defesa do cunhado – Zé do
Baixio – e passava a reclamar dos moleques. Um deles, geralmente o meu irmão
Massilon (o Nêgo Quinha), gritava: “Cachorro Barbudo!”. Nesse ínterim, Zé do
Baixio e Vital, cada um com uma peixeira na mão, corriam atrás de nós, que
tomávamos rumo a uma mata de Mofumbo que existia nas proximidades, bem em
frente a bodega de Severino Espalha. Aliados aos dois também vinham contra nós
Maria de Vital e Chica de Vital, ambas, respectivamente, mãe e irmã de Zé
Corró, com objetivo de identificar quem eram os moleques que estavam na “farra”
para, em seguida, denunciá-los às suas mães. Era uma farra danada, que
acontecia quase que diariamente. Um gritava: “Cangaceiro de Lampião!”. Outro
emendava: “Cachorro Barbudo!”. E os dois, corriam para um lado e para outro na
tentativa de pegar um daqueles moleques. Nunca pegaram!
Da última vez que estive em
Pombal, em 2012, me contou Dedé da Caçamba, em uma demorada conversa na calçada
de sua casa em que relembramos tudo isso, que na verdade o objetivo era atingir
Vital Pescador, porque esse era quem ficava mais bravo. O grito inicial para o
“Cangaceiro de Lampião” era apenas uma forma de atingir o seu cunhado.
Também, além disso, havia
uma brincadeira de coco de roda e ganzá lá pras bandas da casa de Dona
Cornélia, um pouco mais a frente já chegando perto de Nova Vida, que todos das
redondezas iam apreciar. E nós também! Mas, infelizmente, nos limitávamos
apenas a bater palmas porque nessas ocasiões sempre a minha avó Dona Bernardina
e minha mãe Roza estavam presentes e não permitiam de forma alguma qualquer
tipo de manifestação contra os nossos personagens preferidos. Ambas sabiam e
reprovavam as nossas atitudes de forma veemente. Portanto, me lembro plenamente
de Conélia, Zé do Baxio, seu filho Zezinho das Cachorras ou Zé dos Caroços, Vital
Pescador e tantos outros que moravam no Cachimbo Eterno. Como muito bem diz o
mestre Inácio Tavares, a Pombal de antigamente ninguém pode esquecer.
*Pombalense. Jornalista
e Advogado. Natal RN.
NOS TEMPOS DO CACHIMBO ETERNO
Reviewed by Clemildo Brunet
on
5/27/2013 11:38:00 AM
Rating:
Nenhum comentário
Postar um comentário