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O Sacrossanto

Genival Torres Dantas
Genival Torres Dantas*

A semana que passou na realidade não passou, vamos levar algum tempo movidos pela energia emanada daqueles dias de confraternização entre a juventude mundial, reunida no nosso país, na Jornada Mundial da Juventude (JMJ), quando a perfeita harmonia ocorrida entre a força do pensamento jovem, e o equilíbrio nas ações coerentes do líder maior da Igreja Católica, o Pontífice Papa Francisco, ocorreu todo o desenvolvimento de pensamentos voltados ao bem coletivo, formando uma verdadeira áurea positiva para engrandecimento dos espíritos voltados para a paz entre os homens.

Não tenho dúvida que foi uma verdadeira maratona para aquele que já passou dos 76 anos e
se viu envolvido numa programação exaustiva, cansativa até para os jovens peregrinos, ele não se furtou aos compromissos assumidos. Foi coerente nas suas falas, falou dos problemas existentes na sua igreja, os pontos fracos, decisões já tomadas e projeto para o futuro na tentativa de resolver os impasses pendentes. Pregou a união entre as religiões que buscam no cristianismo uma vida saudável, a resposta nas suas dúvidas existenciais, e de justiça social.

Alertou para o que ele chamou de política de exclusão, quando as organizações mundiais, valorizando o material em detrimento ao espiritual, tem promovido uma verdadeira segregação, deixando de lado aqueles que estão chegando, os jovens, que ainda é um peso para a humanidade, pela sua falta de produção, apenas em ritmo de formação. Convocou os jovens a lutar por mudanças, aproveitar a fase da vida que não tem muitas amarras, e os seus sonhos normalmente levam a enfrentar desafios por um futuro melhor.

Na outra ponta, o idoso, aquele que fez tudo que devia ter feito, nesse momento, que poderia ser aproveitado, pela sua longa experiência acumulada, para orientar os jovens iniciantes, simplesmente é tirado fora do convívio social, como um obstáculo a ser colocado à margem da sociedade, representando apenas custos, sem retorno ao sistema. Entretanto, eles têm muito a contribuir com os que estão começando e esse entrelaçamento precisa existir nas comunicações dos povos.

Aos descriminados foi enfático, sua mensagem foi direta, objetiva, para não julgarmos aqueles irmãos que vivem sofrendo apenas por uma opção de vida, devemos sim, conviver com eles de forma absolutamente normal, acabarmos com as barreiras preconceituosas.

Nos seus trajetos, enquanto aqui esteve, priorizou as crianças, idosos e doentes, abraçando-os, beijando-os, dando afeto tão importante nas relações harmoniosas, sistematicamente relevadas pela grande maioria que passaram a não ter tempo para esses gestos de carinho na interação humana.

Aos religiosos da sua igreja, pregou mudanças, não adiantando continuar fazendo a mesma coisa e querer resultados diferentes. É preciso ir às ruas, buscar os fiéis, ficar próximo deles, procurar entender os homens do nosso tempo, ter humildade e trabalhar as periferias das grandes cidades, nos bolsões de miséria. Ser piedoso também é ser caridoso, há uma complementação de ações.

Aos que se acham poderosos, aos gestores dos países, foi diplomático, usou da serenidade que lhe é peculiar, apontando as prioridades que uma nação precisa. Citou a educação como o caminho mais curto para o desenvolvimento de um povo. Fez menção a uma boa gestão na saúde como uma determinante para o futuro de uma nação que busca o desenvolvimento de sua gente. Sendo solidários com os pobres, principalmente os mais necessitados, que buscam no poder público o socorro e o sanativo para a cura dos seus males.

Criticou, sem ser intruso, a corrupção que assola o nosso planeta, se constituindo no maior câncer da democracia, não que o sistema seja por si só corrupto, mas, os que trabalham nele tem a facilidade de ludibriar, enganar e desviar recursos destinados ao bem comum para benefício próprio.

Priorizou fundamentalmente o ser humano, citou o apego que hoje temos pelo dinheiro, viramos escravo do status e suas benesses, somos orgulhosos do que temos em vez de nos sentirmos melhores no que somos. Basicamente esquecemos a humildade, a simplicidade, o amor ao próximo, estamos, portanto, na contra mão da história, desnudado de qualquer sentimento humanitário.

Essa foi a leitura que fiz do homem que aqui esteve entre nós e em tão pouco tempo conseguiu ser uma unanimidade, indiferentemente do credo religioso, raça, etnia, posição social. Deixou uma grande lição de vida, é preciso que imitemos um pouco os seus gestos, procurando sermos humildes, menos materialistas, sairmos de dentro de nós e procurarmos viver mais em comunidade, com solidariedade, afeto e amor, sentimentos esses que quanto mais dividimos mais multiplicamos, eles não se gastam se reforçam e crescem com o seu uso. Lembrando: “Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível”. – São Francisco de Assis – Itália 1182/1226.
*Escritor e Poeta

O Sacrossanto O Sacrossanto Reviewed by Clemildo Brunet on 7/30/2013 11:08:00 AM Rating: 5

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