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Da Iniciativa à Acabativa

Genival Torres Dantas
Genival Torres Dantas*

Com a renuncia do presidente Fernando Afonso Collor de Mello, assume a vaga o Vice-Presidente Itamar Augusto Cautiero Franco, em 29 de dezembro de 1992. O Brasil estava mergulhado numa crise moral e financeira, com escândalo de corrupção e uma inflação de 1.119%, somente mais três (3) países, a Rússia, a Ucrânia e o Zaire tinha uma inflação nesse patamar. Com a resistência da inflação que teimava em se manter elevada apesar dos esforços da equipe econômica.

No final de 1993 o Presidente Itamar Franco confiou e autorizou que seu Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, trazido do Ministério das Relações Exteriores, especificamente para essa finalidade, elaborasse um plano econômico para acabar com a hiperinflação que atrofiava a economia nacional e
nos colocava numa situação vexatória no contexto mundial. Sabiamente Fernando Henrique Cardoso se assessora de vários economistas credenciados e se lança a um projeto que não podia falhar outros planos já tinha sido feitos, em governos anteriores, sem nenhum sucesso.

Assim, Pedro Malan, Edmar Bacha, André Lara Resende, Pérsio Arida e Gustavo Franco, conhecidos como autores do Plano Real, fizeram parte, entre outros, da equipe que conseguiram por em prática o plano de estabilidade econômica, oficializado em 27 de fevereiro de 1994, e de conformidade com a Medida Provisória número 434. Finalmente, o plano que consistia em proporcionar o equilíbrio das contas públicas, criação da Unidade Real de Valor (URV), e o lançamento da moeda Real, teve o sucesso que todos nós conhecemos. Os pilares que se baseava o plano se mantiveram por muito tempo em evidência, com o câmbio fixo, desindexação e a liberação comercial.

Com a área econômica sob controle, o Brasil parte para cuidar do seu lado social, é feito um esforço muito grande e começamos a sair do mundo dos miseráveis, o governo FHC deu os primeiros passos com a implantação de vários projetos sociais, havia sempre a contrapartida para se ter os benefícios, havia uma previsão que com a inclusão social e o acesso à educação. Periodicamente, aqueles que estivessem habilitados ao ingresso do mercado de trabalho, saíssem da tutela do governo e dessem oportunidade para outros grupos necessitados, essa era a filosofia inicial.

Com ascensão do PT e a eleição do Presidente Luís Inácio Lula da Silva, eleito no segundo turno em 27 de outubro de 2002. Em 01 de janeiro de 2003, o Presidente Lula assume e começa uma nova etapa na política nacional, agora com esquerda no poder. Lula mantém a política econômica do governo anterior, não podia ser diferente o plano era muito bom para não ser seguido, as políticas sociais são ampliadas, todos os benefícios implantados no governo FHC, foram unificados e transformados no Programa Bolsa Família. Programa meritório e que foi necessário, no primeiro momento, para redução das desigualdades sociais. 

Mas, o programa passou a ser mal administrado, o resultado é que já temos 25% da população dependente desse benefício, inclusive, muitos deles desde o inicio da sua implantação. Assim sendo, podemos verificar, não houve crescimento dessa massa da sociedade que não reagiu e não voltou ao mercado de trabalho, ou se incorporou, passando a se constituir em dependentes efetivos, quando deveriam ter sido temporários.

Mesmo assim, e apesar da indiferença do governo aos problemas nacionais, e a corrupção que permeia as entranhas da administração pública, assolando nossa economia, o Brasil apresentou um crescimento muito grande na área social, já não somos os famintos de 20 anos atrás, melhoramos bastantes, poderíamos ter obtido maiores resultados, bastava termos olhado com mais atenção para as políticas de saúde, investido substancialmente na educação, ela é fundamental para acabarmos definitivamente com a miséria, evoluímos, mas não foi o suficiente. O IDH (índice de desenvolvimento humano), entre 1991/2010, nos mostra esses resultados, evoluímos no setor social sem, entretanto, conseguirmos melhorar as diferenças, mantendo as regiões geográficas nos mesmos patamares, o Norte e o Nordeste continuam sendo as mais pobres e de menor índice de desenvolvimento. Isso prova que o governo social do PT e seus aliados, mais atrapalharam que ajudaram, principalmente pela falta de rumo.

Havia a necessidade de ajustes no plano econômico, isso era previsto, entretanto, o cuidado que era necessário para continuidade da estabilidade da moeda, crescimento do mercado, empregabilidade reforçada, contas controladas, nada disso foi feito Um verdadeiro descaso para uma situação que poderia ter se estendida por várias etapas e anos, até o Brasil se firmar no mercado mundial como um verdadeiro celeiro do mundo, já somos líderes em grãos, mas não temos logística, malha viária, ferrovias, sistema portuário suficientes e eficazes para escoamento da nossa produção, agrícola  ou mesmo industrial.

Nesse descompasso e a malfadada administração petista, com sua política catastrófica, com inflação alta e baixa produção, podendo chegar a estagflação, tendo levado a população às ruas do país, em busca de soluções emergenciais, inclusive em setores prioritários, tais como, educação, saúde e segurança, o tripé caótico do nosso país, além de outras reivindicações tão necessárias à sobrevivência das comunidades mais carentes, leva o brasileiro à uma descrença no futuro que se avizinha.

O atual estágio do governo brasileiro lembra bem o nosso mega empresário, Eike Batista, quando no devaneio do seu sonho de ser o homem mais rico, materialmente falando, entre todos os seres humanos, se firmou como um grande empreendedor, com iniciativas inovadoras, criativas, se constituindo no maior vendedor de sucesso no mercado internacional, favorecendo seus projetos e o desenvolvimento da indústria nacional, trazendo grandes somas de investimentos ao nosso país. De repente aquele extraordinário fenômeno empresarial foi levado à lona, a megalomania fez sua fortuna que tinha chegado, em 2012, a astronômica soma, para uma única pessoa, de US$34.5 bi, recuou para US$200 mi, em apenas um ano. Esse fato veio demonstrar que o empresário tinha iniciativa, era empreendedor, mas não tinha acabativa, ou seja, a habilidade de terminar uma tarefa iniciada com resultados positivos.

O nosso governo agiu pior, se apropriou de idéia e programa de outros governos anteriores, Itamar/FHC, ampliado no governo Lula, com todos os méritos, não conseguiu mantê-lo de forma absolutamente sólido como se esperava, jogando o país numa situação de intranquilidade e comoção social. Isso prova a falta de visão e planejamento dos nossos gestores, inabilidade ao tratar com a diversidade e diversificação de áreas distintas, sabendo administrar precariamente apenas um único projeto, no caso, o social.
“Existem pessoas que navegam, outras naufragam”.
 *Escritor e Poeta

Da Iniciativa à Acabativa Da Iniciativa à Acabativa Reviewed by Clemildo Brunet on 8/03/2013 05:51:00 AM Rating: 5

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