Dominguinhos: O príncipe da sanfona
Onaldo Queiroga |
Onaldo Queiroga*
Garanhuns, terra do frio, a Suíça pernambucana, considerada a
nascente que entregou ao mundo o príncipe da sanfona, o mestre Dominguinhos.
Logo cedo ele mostrou-se especial, pelo dom que o ligava a música. Aos 8 anos
de idade, como integrante do grupo musical “Os Três Pinguins”, se apresentou
para o Rei do Baião na sua terra natal. Com 13, já morando em Nilópolis-RJ, ele
passa a frequentar diariamente a residência do Gonzagão, convivência que
resultou num aprendizado importantíssimo na construção não só do músico, como
também do próprio ser humano. Tratado como se filho fosse por Gonzaga,
Dominguinhos começa assimilar as orientações e
a ganhar sua confiança, por
isso, já aos 16 ele entra em estúdio para acompanhar, com seu acordeon, Luiz
Gonzaga na gravação da música Forró no Escuro.
Ele andou por todo esse país dirigindo, abrindo shows,
acompanhando instrumentalmente e até mesmo fazendo companhia ao Gonzagão.
Conheceu o ápice, o declínio e o retorno triunfante da carreira de Luiz
Gonzaga, isso contribuiu para o seu amadurecimento profissional e espiritual. É
importante afirmar que mesmo diante de toda essa base gonzaguiana, Dominguinhos
conseguiu demonstrar que podia e pôde ter uma identidade própria, porém, mesmo
assim, sempre tocava as canções do “Lua”. Fidelidade? Lealdade? Sim, mas acima
de tudo um compromisso de gratidão e uma ligação espiritual muito forte. Nos
anos 1960, ele tinha um programa de rádio, contudo, ao invés de divulgar seu
trabalho, na verdade só tocava o repertório de seu Luiz. Chamado atenção pela
direção da emissora, no programa seguinte, incrivelmente, ele tocou novamente
Gonzaga.
Era assim, e foi assim até o fim. Mas devemos ainda lembrar que
após a morte do Gonzaga em 1989, Dominguinhos passou a ser o seu discípulo
maior, e cumpriu a risca os mandamentos gonzaguianos, pois nunca fugiu da linha
do forró, mas também mostrou ao mundo que sua sanfona era eclética, transitava
por diversos ritmos, sendo um dos mais requisitados instrumentistas deste país,
tanto é que gravou com a Bossa Nova, tocou com a Tropicália, era bamba no
chorinho, gravou jazz, frevo, jovem guarda, e tantos outros ritmos.
Enfrentou a doença de frente, jamais esquecendo o sorriso e a
simplicidade. Andou por estradas e estradas, sempre com seu amor maior, a
sanfona. Numa missão derradeira foi ao Exu no centenário do Rei do Baião, e no
dia 13 de dezembro fez seu último show, despedindo-se do público cantando Asa
Branca. Com sua partida, ficou o exemplo de humildade, simplicidade e do músico
por excelência, de insubstituível musicalida. Mas, enquanto houver uma sanfona,
uma zabumba e um triângulo ele viverá. Viva Dominguinhos!
*Escritor
pombalense e Juiz de Direito da 5° Vara Cível em João Pessoa-PB.
Dominguinhos: O príncipe da sanfona
Reviewed by Clemildo Brunet
on
8/13/2013 05:39:00 AM
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