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A IRMANDADE DOS NEGROS DO ROSÁRIO DE POMBAL

A VIAGEM MANOEL ANTONIO DE MARIA CACHOEIRA A OLINDA:

PARTE III
Jerdivan
Jerdivan Nóbrega de Araujo*

Alguns outros autores chegaram a duvidar das três viagens a Olinda realizada por Manoel Maria Cachoeira e que é registrada pela tradição oral. Estes autores afirmam que na verdade trata-se de mais uma alegoria para reafirmar o seu heroísmo, transformando-o em mais um “conto folclórico”, ao narrar que este realizou “três tarefas impossíveis” para pessoas comuns antes de conseguir o seu intento.
Não faz nenhum sentido duvidar desta “façanha” de Manoel Maria Cachoeira, salvo se você de forma equivocada, comparar a cobertura desta distância como os meios disponíveis nos dias atuais, quando é possível fazê-la em apenas seis ou sete horas de viagem, a distância entre Pombal e
Olinda. No entanto, até as primeiras décadas do século XX, antes da chegada do trem, este percurso era feto a pé e durava entre 30 e 40 dias, ida e volta.
A dúvida seria se o Manoel Antonio Maria Cachoeira fez sua viagem de forma solitária ou a na trilha dos inúmeros tropeiros que cruzavam os sertões do Rio Grande do Norte e Paraíba, saindo de Caicó, em suas mulas carregadas com fardos de peles e de algodão, com destino a Recife, e paradas obrigatórias em Pombal, Solidade, Campina Grande, Goiana até chegar a Olinda.
Nesse sentido, é possível que Manoel Maria Cachoeira tenha agregado valores dos festejos de Reis de Goiana e Olinda á Festa do Rosário de Pombal.
 Folcloristas e historiadores da região concluíram que o fato de Manoel Cachoeira ter viajado a Olinda pedir autorização ao Bispo para criar a “Irmandade” nos aponta, mais uma vez, a falta de apoio do pároco local, já que estes documentos deveriam ser enviados oficialmente pela Igreja e não conduzidos por um negro cuja chance de ser recebido por um bispo era remota. Mas, não podemos ignorar o fato de que se o Manuel Cachoeira foi recebido pelo bispo, e  isso aconteceu, temos que deduzir que ele levou alguma carta de recomendação, anuência ou concordância pela legalização da Irmandade, ao contrário, sequer seria recebido na Cúria, e essa carta de recomendação só uma autoridade de Pombal poderia assiná-la: o próprio vigário.
  Se for verdade, eu acredito que é, a informação que Manoel Cachoeira viajou por três vezes e só foi atendido na terceira tentativa, pode ter sido por que das vezes anteriores ele não tenha conseguido a simpatia do vigário contemporâneo de Manoel Maria Cachoeira, que no final do século XIX foram os seguintes: 
Luiz Inácio Cardoso/1842
José Ferreira de Sousa/1850
Manoel José Ferreira/1863
José Cabral Vasconcelos/ 1878
Manoel Vieira da Costa /1878
João Soares de Albuquerque/1878
 Amâncio Leite da Silva/1881
 Victor Ferreira Finizzola/1884
Bemvindo Ferreira Dantas / 1887
José Cabral de Vasconcelos/ 1888
Manuel Mariano de Albuquerque/1889(foi  Dep. Provincial e Dep. Constituinte)
 Nazário de Souza Rolim /1891
Valeriano Pereira de Sousa /1893
Como a nossa conclusão é a de que a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário já existia de forma informal bem antes do seu primeiro Juiz oficial Manoel Cachoeira ter nascido, também concluímos que Manuel Cachoeira foi o seu primeiro Juiz oficial, depois de aprovado o Compromisso em 1888.
Também não é verdade que houve um acirramento dos negros de Pombal contra o clero local. Não há registros de revoltas nem se fazia necessário esse enfretamento, já que Igreja autorizava a criação das irmandades, mas, cabia aos confrades construir o seu templo. E isto até causou confusão em alguns casos, onde historiadores registraram que as igrejas do Rosário Brasil a fora foram construídas por escravos. Na verdade foram construídas por negros confrades, que até disputavam qual confraria ia construir as maiores igrejas, como foi o caso das irmandades de São Benedito dos Homens Pretos, no Rio de Janeiro, do Rosário de Vila Rica e Rosário das Portas do Carmo, em Salvador.

Outro fato é que em nenhuma igreja construída por irmandades negras existem traços da cultura africana já que os construtores, mesmo contratados pelos negros, eram brancos. (próxima parte a mulher e a Irmandade dos Negros do Rosário de Pombal)

*Escritor e Pesquisador da história de Pombal 

A IRMANDADE DOS NEGROS DO ROSÁRIO DE POMBAL A IRMANDADE DOS NEGROS DO ROSÁRIO DE POMBAL Reviewed by Clemildo Brunet on 1/06/2014 10:03:00 AM Rating: 5

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