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“A JOVEM GUARDA NÃO ERA APENAS UM PROGRAMA...”

Clemildo "A Voz da Cidade" (1966)
CLEMILDO BRUNET*

Gosto de lembrar as coisas boas do passado e quem não gosta? Recordemos, pois, aquele que foi o maior programa jovem de todos os tempos da televisão brasileira nas tardes de domingo, que entraria para nossa história como Movimento “Jovem Guarda”.

O Programa Jovem Guarda na TV Record em 1965 sob o comando do rei, Roberto Carlos, do Tremendão Erasmo Carlos e da ternurinha Wanderléia, ecoou não somente pela música; mas também pela política que era tema principal dos anos sessenta. A juventude estava dividida em duas alas:

A mais intelectualizada, que assistiam a programas como o fino da bossa de Elis Regina e Jair Rodrigues na TV Record não perdiam um Festival da Canção; e das camadas populares, esta bem mais numerosa, que curtiam os discos e programas daqueles jovens que tocavam à sua maneira um rock básico ao modo de Beatles, Rolling Stones, Beach Boys e outros.

A Jovem Guarda passou a ser uma marca e não apenas o nome de um programa. Chegou a conquistar fãs tão fiéis que até hoje sustentam seus artistas, independentemente de eles terem discos novos lançados ou de contarem com a grande mídia ao seu lado. O Movimento sempre foi forte, Sempre vendeu muito mais discos que a bossa nova e a MPB em geral.

Quando se observa a vida de seus artistas todos têm carro bonito, boas casas, mesmo sem ter disco na praça. Esses artistas souberam cultivar seu público e não dependem de crítica, de matérias em jornais, enfim, não depende da mídia da zona sul carioca. A imprensa pode não dar valor, mas o público dá. Eles vivem de fazer shows. O Renato Barros, de Renato e Seus Blue Caps, por exemplo, não tem disco novo na praça e recebe royalties baixos dos relançamentos em CD dos velhos vinis, mas faz shows de quarta a domingo no Brasil inteiro.

A Jovem Guarda não deve ser encarada apenas como um movimento musical pleno, ela também inspirou mudança de comportamento; em pouco tempo, a moda adotada pelos apresentadores tinha se espalhado pelo país. Caças colantes de duas cores em formato boca- de- sino, cintos e botinhas coloridas, minissaia com botas de cano alto, bem como seus gestos e gírias – broto, carango, legal, coroa, cuca, barra limpa, barra suja, iê iê iê, cuca, mancada, pão, papo firme, maninha, pinta, pra frente e “é uma brasa, mora?”.
Ela, a (Jovem guarda) deve ser vista também como uma reunião de vários artistas, empresários e produtores que apostavam no emergente rock’n’rool como um fascinante meio musical de expressão, assim como, o mais novo nicho mercadológico para ganhar o coração da juventude. A efervescência e o sucesso que o rock fazia entre os jovens no mundo todo, fizeram a recente indústria midiática brasileira render-se ao estilo e veio a ser chamado aqui no Brasil de “Iê-Iê-Iê”.

Guardo na lembrança os momentos vividos nessa época, pois a Voz da Cidade, (emissora de fabricação caseira) adentrava os lares pombalenses com o Programa BROTOLÂNDIA que ia ao “ar” no horário de 12 às 14 horas e com índice de audiência muito elevado. As músicas mais tocadas eram as de Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Wanderléia, Wanderley Cardoso, Renato e Seus Blue Caps, Ronnie Von, Os Incríveis, Deny e Dino e tantos outros que começavam a surgir como astro na música. Entre tantas outras está a de Agnaldo Timóteo que arrebentou com a canção “Siga em Paz”. A produção e apresentação do Programa eram minhas.

Para quem viveu à época há de considerar que foi maravilhoso. Um tempo em que éramos felizes!  Crianças, jovens e adultos deixavam-se embalar pelas canções românticas lentas ou de ritmos agitados, cheias de candura e ingenuidade, um fenômeno que conquistou três gerações.

Em 2005 nas comemorações dos 40 anos da Jovem Guarda foi gravado um DVD com alguns cantores e compositores da época. A Lilian Knab da dupla Leno e Lilian, em seu depoimento no disco, diz o seguinte: “era muito divertido, porque a gente encontrava todo mundo, a gente ria muito, se divertia muito, namorava muito, tudo ali naquele nosso ambiente que era uma coisa muito tranquila, muito sadia e até um pouco ingênua”.

É interessante notabilizarmos fatos históricos que marcaram a MPB e a música POP no nosso país. Uma começou no rádio na década de vinte “A velha Guarda” e a outra na televisão brasileira “A Jovem Guarda” na década de sessenta.

São fatos históricos da nossa música de qualidade que perdura até hoje, atravessando séculos e que serão lembradas pelas gerações vindouras, pois ainda tem muito que se ouvir e contar sobre elas. Sou um eterno saudosista de um tempo assim, pois me traz grandes recordações.
Pombal, 13 de janeiro 2014.
*Radialista, Blogueiro, Colunista
www.clemildo-brunet.blogspot.com

COMENTÁRIO
Amigo Clemildo. 
Tenho dito repetidas vezes: a medida que recordamos os fatos, o passado torná-se tempo presente.A propósito, seu artigo: A JOVEM GUARDA NÃO ERA APENAS UM PROGRAMA, resgata, com requintes de nostalgia, reminiscências, que são relíquias de um passado ainda ativo em nossa memória.Feliz ideia a partir do título escolhido. Conforme você expressa com propriedade, a Jovem Guarda, foi mais que um simples programa radiofônico e televisivo. Foi na verdade um movimento de cunho musical, cultural e ideológico que dominou o Brasil por mais de duas décadas.Confesso. li deveras emocionado. Lembrei-me dos "ANOS 60", período que vivi intensamente dançando nos clubes de Pombal ao som de "OS ÁGUIAS", destacada banda musical de nossa cidade. Com a mesma emoção lembrei-me do Programa Brotolândia que ouvia diariamente na mercearia de meu pai entre 12 e 14 horas, ficando atualizado com os últimos lançamentos.Obrigado Clemildo por me proporcionar tão agradável recordação. Parabéns.Abraços: Francisco Vieira. 
“A JOVEM GUARDA NÃO ERA APENAS UM PROGRAMA...”  “A JOVEM GUARDA NÃO ERA APENAS UM PROGRAMA...” Reviewed by Clemildo Brunet on 1/13/2014 09:55:00 AM Rating: 5

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