O olho da noite
Onaldo Queiroga |
Onaldo Queiroga*
Era
noite quando a Lua surgiu quebrando a escuridão e espalhando sua luz nas águas
verdes do mar do Cabo Branco. Lua cheia, esplendorosa, nascendo lá no fim do
horizonte, como se viesse de dentro do oceano, imensa e enigmática.
De
posse da câmera fotográfica, comecei a capturar imagens daquela Lua. Foram
inúmeras fotos, até que algumas nuvens ficaram entre nós. De repente, as nuvens
foram se dissipando e a Lua ficou ali, posicionada
entre elas, numa formação que parecia um olho, um olho da noite a observar o
mar, a terra e
o homem. Logo fiz a foto daquele instante. Lá do seu altar
celestial, a Lua em formato de olho passou-me uma impressão contemplativa, e,
ao mesmo tempo, de tristeza. Era como se ela tivesse percebido como as coisas
haviam mudado no mundo Terra. Cabisbaixa, certamente procurou e não encontrou
os seresteiros com seus violões, canções românticas, e, das janelas, o sorriso
feliz de suas amadas. Ampliou o seu olhar e também não visualizou os namorados,
de mãos dadas, a caminharem pelas
calçadas tranquilas das praças e praias.
A
Lua, sem dúvida, viu clarões velozes rasgando a noite, e logo percebeu que não
eram de fogos de artifícios, mas sim decorrentes de armas de fogo, de projéteis
que cortavam luminosamente
o escuro noturno, pintando de
vermelho a violência insana dos homens. Viu uma fumaça intensa espalhando-se
pelo céu, e também logo observou que ela, a fumaça, não sinalizava a paz, mas a
destruição decorrente de uma imensa poluição gerada pelas máquinas construídas
para suprir a insaciável ganância humana. Viu o avanço da droga fazendo valer
suas pedras de crack, a maconha, o ecstasy, a cocaína e a impiedosa merla. Viu
crianças, jovens e adultos perdidos num trajeto que, na maioria das vezes,
apresenta-se sem volta.
Nesse
instante, as nuvens foram novamente cobrindo a Lua. Era como se o olho da
noite estivesse se fechando de tanta dor
e tristeza, ao ponto de uma leve neblina cair sobre nós, como se lágrimas
fossem. A Lua ficou encoberta por alguns instantes, e a noite se fez escura.
Logo depois, como num sopro divino, as nuvens foram se afastando, e, na
amplidão da noite, ela surgiu novamente, como um imenso olho, com sua luz a
anunciar esperança e fé em dias de paz, como se procurasse acordar a humanidade
para os ensinamentos de Martin Luther King: “O que me assusta não são as ações
e os gritos das pessoas más, mas a indiferença e o silêncio das pessoas boas.
Pouca coisa é necessária para transformar inteiramente uma vida: amor no
coração e sorriso nos lábios. O que vale não é o quanto se vive...mas como se
vive”.
A Lua sempre estará no céu para nos transmitir
expectativas de um futuro melhor!
*Escritor e Juiz de Direito da 5ª Vara Cível de João Pessoa PB.
onaldoqueiroga@oi.com.br
O olho da noite
Reviewed by Clemildo Brunet
on
1/31/2014 05:12:00 AM
Rating:
Nenhum comentário
Postar um comentário