O Pessimismo que não passa
Genival Torres Dantas*
Conversando com uma amiga psicóloga, especialista em
Recursos Humanos (RH), como é costumeira nesses nossos momentos de trocas de
experiências, ela reclamou da minha tendência ao pessimismo, facilmente
encontrado nos os, quando o assunto é política ou economia nacional.
Não fiquei
desapontado com a colocação da minha amiga interlocutora, pessoa extremamente
positiva, desejosa que o nosso país seja um projeto que efetivamente entre na
rota do equilíbrio e
bom senso; também não sou diferente, com uma distância
muito grande, em decorrência da minha militância política, desde a época da
juventude, anos 1960/1970, já lutava por um país, além de mais desenvolvido, que
fosse mais justo com a sua população, principalmente os mais sofridos e
carentes de oportunidades, negados por vários séculos e governos que só
souberam trabalhar em causa própria, não se importando nem mesmo com os
problemas mais minimamente relevantes aos homens que tentavam sobreviver às
duras penas numa terra explorada por aqueles que sempre usaram a política para
enriquecimento ilícito e abusaram dessa artimanha engenhosa e que se faz
secular em nossas terras.
Discorremos por
vários assuntos e aspectos, dentro da cordialidade dos contrários sem ser
inimigos, chegamos até a ser cúmplices em ideias que sempre achamos relevantes
para que o país tivesse uma posição mais assertiva em direção ao
desenvolvimento como um todo e em todas as regiões, renunciando a política
populista, que sempre deu certo por algum período em alguns países que
insistiram com o seu prolongamento e o final não foi dos mais felizes, exemplo
dos cortinas de ferro que só estão dando certo depois de se abrirem ao mundo
capitalista, que não é o melhor sistema econômico, e adotarem uma base de
governo flexível, o exemplo mais claro é o caso da China que vem dando uma
verdadeira lição aos emergentes, dentre eles o próprio Brasil.
Sabemos que o nosso
país é riquíssimo, na expectativa das commodities, principalmente os recursos
que criaram novas perspectivas com o pré-sal, somando-se ao alargamento da
exploração dos grãos, transformando-nos num dos maiores exportadores nesse
setor, se não o maior desse bem renovável; nossa pecuária é reconhecida
mundialmente na qualidade dos produtos in natura, além dos industrializados,
elaborados por indústrias, nacionais do setor, se constituindo num dos maiores
parques industriais do mundo, hoje multinacionais.
Nos últimos 20 anos
o Brasil teve a possibilidade de dar um salto maior no seu desenvolvimento,
faltou pegada, mais firmeza, um grande líder com a visão de um Juscelino Kubitschek de
Oliveira, tivemos tudo para estarmos melhores; enquanto o resto do planeta
passava por crises localizadas, nós tínhamos todos os ingredientes para um
grande passo, crescemos, mas não o que deveríamos ter crescido, apesar de todos
os itens que nos beneficiava.
Temos hidroelétricas que nos sustenta com energia
limpa, com distribuição nacional, é preciso ter apenas consciência das nossas
reais necessidades para incrementarmos esse setor de quem tanto dependemos para
nos transformarmos em potência. Com as rodovias interligando regiões de norte a
sul, leste oeste, problemas existem, para viabilizarmos uma logística
condizente com as nossas necessidades, basta-nos responsabilidade, vontade e
interesse político.
A mão de obra nossa é farta, ainda não é
especializada, mas temos tudo para transformá-la numa das mais técnicas do
hemisfério sul e norte, somos capacitados em universidades, é preciso apenas
que reconheçamos a educação como prioridade, tratar os professores como
mestres, dando-lhes dignidade, principalmente, com reconhecimento em salários
dignificantes.
O Brasil tem uma indústria automobilística das mais
produtivas, entretanto, temos um automóvel dos mais caros que existe, é uma
aberração; durante 2013 o governo federal fez renuncia fiscal, mais uma vez e
especificamente para esse setor, abrindo mão de recursos que fizeram falta, principalmente,
para os municípios e Estados que têm direito a uma parcela importante desses
impostos, no caso IPI, para no final não ser repassado ao consumidor, ficando o
benefício apenas para as montadoras, considero esse caso um erro de gestão,
quando esses recursos deveriam ter beneficiado outros setores mais carentes e
necessitados, trazendo benefícios em cadeia, chegando ao consumidor final,
indiretamente, Estados e municípios, nesses moram e recolhem seus impostos, os
consumidores.
Nosso país tem cometido vários erros de gestão,
desenvolvemos o projeto do Proálcool, nos anos 1970, simplesmente abortamos uma
ideia maravilhosa, um combustível limpo, renovável, com aproveitamento de áreas
já disponíveis, sem necessidade de derrubada de matas, sem prejuízo ao meio
ambiente, para fazermos frente ao gás de xisto, já largamente explorado pelos
EUA. Temos o petróleo, mas, não é a mesma coisa, o petróleo é poluente e não
renovável, temos que trabalhar hoje com a cabeça no amanhã. Acompanhei de perto
o desenvolvimento desse projeto, com levantamento do setor sucroalcooleiro para instalações e
ampliações das usinas, muito investimento foi feito, hoje, comparando ao que
foi projetado, é um verdadeiro parque sucateado e o desprezo ao setor pelas
autoridades não há precedentes. Qual a verdadeira
rejeição das autoridades por esse projeto? Uma pergunta que continua no ar até
hoje sem respostas.
Não obstante o favorecimento de tantos dados positivos ao nosso país, atravessamos
a fase negativa, internacional, dos últimos anos, desencadeada pela bolha
imobiliária americana 2008/2009, quando o prejuízo para a economia mundial foi
bastante sentida, com enxugamento de investimentos e liquidez internacional.
Era o momento certo para o Brasil ter dado o seu salto, pois tinha uma economia
sólida, reservas altas e produção estável, entretanto, a fase passou e não
conseguimos fazer o dever de casa que todos esperavam, mantivemos números
insignificantes ante o nosso potencial e reais condições; fomos inoperantes e
incompetentes, não arriscamos no momento certo, enquanto formos permissivos não
mudaremos a rota que estamos acostumados, e os costumes é a senhora do mesmo,
quando ficamos a praticar os mesmos erros sem enxergar o atoleiro que nos
metemos e somos arrastados indefinidamente ao marasmo da incompetência. Por
isso, a incerteza toma conta das nossas esperanças, e, por conseguinte, do
nosso futuro.
Já não somos um mercado aplicador, os investidores já preferem os países
desenvolvidos pela certeza de retorno que eles vislumbram. Mesmo dentro do
grupo dos países emergentes, representamos uma incógnita pelo nosso
comportamento de passividade, se não reagirmos seremos suplantados por países
menores e com potencial menos representativo. O que mais nos desencanta é que
sabemos o caminho a seguir para sedimentarmos futuras décadas de sucesso, amplo
investimento na educação. Charles
André Joseph Marie de Gaulle (general,
político e estadista francês, 1890/1970) disse um dia: “Não fazer nada, é ser
vencido”. Façamos, pois.
Genival Torres
Dantas
Escritor e Poeta
O Pessimismo que não passa
Reviewed by Clemildo Brunet
on
1/31/2014 05:41:00 AM
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