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NO TEMPO DAS LOUCEIRAS .......

Ignácio Tavares
Ignácio Tavares*

Capítulo II

  
  A base econômica de Pombal esteve por muito tempo a mercê do setor agropecuário. A riqueza estava no campo, por conseguinte, a dinheirama que circulava na cidade, dependia da riqueza gerada neste importante setor de produção. A economia urbana pouco ou quase nada representava na formação do produto interno bruto do município.
 Em razão disso, o maior status que um cidadão podia apresentar, no âmbito da sociedade, era ser grande proprietário de terras. A posse da terra tornava as pessoas influentes, por conseguinte, dominadoras da situação política local.
 Era assim mesmo, os grandes fazendeiros, politicamente, exerciam o papel de representantes provincianos da aristocracia rural estadual, nacional há muito incrustada no poder através de acordo que permitiram a consolidação da hegemonia política de São Paulo e
Minas Gerais, a nível nacional, através de acordos, entre os quais, o conhecido ¨Café com Leite¨. A dominação política pelos os dois estados do centro sul, a nível nacional estendeu-se até 1930.
 A partir dos anos trinta o país mudou. Claro, em razão da implantação do regime ditatorial liderado por Getúlio Vargas. Com efeito, as velhas oligarquias cederam lugar a uma nova geração de políticos, menos comprometidos com a aristocracia rural. Aqui em Pombal, Janduhy Carneiro desponta com um novo modo de fazer política. Mas não foi capaz de desmantelar a força política dos poderosos barões da terra. Desse modo, somente quando Ruy Carneiro assumiu o governo do Estado, no início dos anos quarenta, foi que a aristocracia rural de Pombal sofreu um pesado golpe, pra melhor dizer um golpe de misericórdia, posto que já apresentava sinais de decadência.
   Mas, antes dos acontecimentos dos anos quarenta,  Sá Cavalcante, autentico representante do baronato local, é eleito prefeito de Pombal. Em meio a toda essa movimentação política, a força da economia do município ainda estava localizada no campo. A instalação da Brasil Oiticica, sem dúvida, fortaleceu a economia urbana, mas não o suficiente para desbancar a força da economia rural.
 No fim dos anos quarenta, no pós-guerra, nos Estados Unidos e na Europa Ocidental ressurge com toda força, a indústria de fiação e tecelagem. Em função disso, explode no mercado internacional a procura pelo fio e pluma de algodão.
 Assim sendo, desponta, com toda força, o ciclo do algodão, que veio a fortalecer cada vez mais o setor agropecuário, como principal fonte geradora de emprego e renda. Foi aí que iniciou a fase esplendorosa da economia de Pombal. Esse ciclo teve a duração de quase três décadas. Foi um espaço de tempo considerado virtuoso, enquanto durou.
 Em meio a toda essa efervescência a economia urbana da terrinha tinha sustentação, na indústria de processamento da amêndoa do fruto da oiticica e na de beneficiamento de algodão. Paralelamente, as pequenas empresas de   caráter familiar, poucas influentes como geradoras de emprego e renda, faziam parte do cenário econômico.
 Alfaiatarias, casas de consertos e fabricação de calçados rústicos, oficinas mecânicas, bares, cafés, bodegas, casas comerciais de vendas no varejo e grosso, casas de tecidos, restaurantes, hotéis, a indústria artesanal de utilidades domésticas, pra não dizer, a indústria de processamento de argila para a fabricação de louças e vasilhames, tudo isso formava o universo das unidades de produção de Caráter familiar.
  Nesse grupo de produção familiar, várias famílias da Rua da Cruz se dedicaram a fabricação de mercadorias de uso doméstico. O objetivo era servir a população através da disponibilidade de uma diversidade de vasilhames utilitários usados no dia-a-dia nas atividades domésticas.  
O mercado para os produtos derivados da argila era próspero, por isso convidativo. Pois, naquela época as peças de alumínios eram raras, quando apareciam no mercado, os preços eram tão elevados que tornavam proibitiva a compra dessas mercadorias para grande parte de população. Geladeiras? Nem pensar, pois era coisa de gente rica. Assim sendo, produziam-se pratos de barro, potes, jarras, tigelas, quartinhas, urinóis, aguidás, baixelas, formas pra bolo, entre tantas outras serventias doméstica.
 As mais habilidosas artesãs do barro, que conheci, foram Lica, a família de Jubinha, Gera, Maria Louceira, esposa de seu Euclides, entre outras. Muitas vezes me punha a observar a habilidade com a qual a argila era manuseada no fabrico das referidas mercadorias.
 Não era um trabalho fácil, pois, exigia muita habilidade no trato da argila para se poder gerar um produto final de qualidade. A meu ver, a fabricação do pote, da quartinha, parecia ser mais complicada, porquanto a fabricação de tigelas e pratos era mais fácil, por não exigir muita criatividade.
 O domínio das utilidades domésticas de argila durou até quando começou aparecer no mercado, de forma massiva, novos produtos de plásticos. Não eram tão baratos, mas, eram duráveis e fácil manuseio. Esses produtos invadiram os mercados, a preços populares ao alcance dos segmentos de baixa renda.
  Em razão disso, o mercado para produtos derivados da argila começo a esfriar. Os filtros substituíram os potes. As geladeiras, produzidas em grande escala industrial, popularizou-se. Outros utilitários de plásticos, tais como, pratos, bacias, copos, xícaras, pires, baixelas e tantos outros, passaram a ocupar os espaços dos armários de todas as classes sociais.
  Com o passar do tempo, as antigas louceiras afastaram-se do mercado produtor, por morte ou por desencanto, por conta da retração do mercado consumidor. Hoje, apenas as filhas de Jubinha, vez por outra, expõem  suas mercadorias na calçada da praça centenário, porem, sem muito sucesso. Para superar as dificuldades, iniciaram a produção de novas mercadorias.
 Digo, passaram a produzir bonecos, cofrinhos, cavalos, aves, algo parecido com as cerâmicas produzidas pelos seguidores do Mestre Vitalino, bastantes valorizadas na conhecida e famosa feira de Caruaru. Mas sem o apoio necessário para divulgar esses novos produtos a tendência é que desapareça para sempre a indústria cerâmica artesanal da terrinha.
 Lembro aqui ao pessoal que está à frente da Casa da Cultura, que atentem para esse problema. Vale a pena criar uma galeria para que as remanescentes das louceiras possam expor o pouco que resta, do que outrora fora tão importante. Está dado o recado. 

João Pessoa  20   de Fevereiro    de   2014

*Economista e Escritor 


  
NO TEMPO DAS LOUCEIRAS ....... NO TEMPO DAS LOUCEIRAS ....... Reviewed by Clemildo Brunet on 2/20/2014 06:06:00 AM Rating: 5

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