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POLIDEZ DE LINGUAGEM

Severino Coelho
Por Severino Coelho Viana

Os, grandes inventores tiveram as ideias na busca do bem, mas o homem sempre desvia a finalidade para o uso do mal. Por exemplo, os chineses inventaram a pólvora no século IX, a pólvora foi inventada para explosões de terrenos petrificados e exploração de minérios e depois passou a divertir as pessoas com seus pequenos foguetórios que riscavam o céu com suas luzes multicoloridas. É sabido que Alfred Nobel detestava prêmios. Se, por algum milagre, pudesse voltar à vida e, na sua qualidade de químico e inventor da dinamite, fosse indicado para receber o prêmio que leva o seu nome, ficaria, na certa, profundamente contrariado. Desdenhava qualquer tipo de honraria ou de publicidade. Quando lhe pediam dados biográficos ou fotos, respondia invariavelmente com a negativa, alegando, que “nestes tempos de publicidade gritante e
despudorada, apenas os particularmente dotados para esse gênero de coisas devem permitir que os jornais publiquem a fotografia”. Santos Dumont, quando inventou o objeto "mais pesado que o ar" estava pensando em transportar pessoas a grande velocidade, facilitando e aproximando países e pessoas e não em aviões de combate para a guerra. Seu uso é que foi modificado com o passar do tempo. Já a invenção da bomba atômica foi um ato diferente e intencional, foi usada para parar uma matança sem fim de ambos os lados. Não colocaram em pole position. o homem que cria o bem, porém vive em campo de batalha na esteira do mal; não vive para alegrar e divertir, mas para matar e destruir! Um faz sem o propósito de ferir e outro faz com o propósito determinado de ferir!
A nossa era contemporânea, com o desenvolvimento dos meios de comunicação, a mídia em geral, está mudando para pior o comportamento das pessoas, principalmente na forma de expressão, que negligencia com o uso da linguagem e o deboche de palavras chulas que só causam uma má educação na sociedade. É uma verborreia desmedida e, como sabemos, verborreia é a qualidade de quem fala ou discute com grande fluência e abundância de palavras, mas com poucas ideias, que frustram o diálogo.
O falar e o escrever são duas atividades cotidianas que merecem ser usados como meio civilizatório no meio social em que vivemos. Presenciamos todos os dias, de forma virtual, a grosseria de linguagem escrita e falada entre transmissor e receptor da mensagem.
Comunicação é o processo de troca de informações entre o emissor e um receptor. Um dos aspectos que pode interferir nesse processo é o código a ser utilizado, que deve ser entendível para ambos. Quando falamos com
alguém, lemos um livro ou revista, estamos utilizando a palavra como código. Esse tipo de linguagem é conhecido como linguagem verbal, sendo a palavra escrita ou falada, a forma pela qual nos comunicamos. Certamente, essa é a linguagem mais comum no nosso dia a dia. Quando alguém escreve um texto, por exemplo, está usando a linguagem verbal, ou seja, está transmitindo informações através das palavras.
A virtualidade das palavras escritas e, particularmente, o facebook leva o transmissor da mensagem ao isolamento ou individualidade, mas sua mensagem transmitida alcança rapidamente o globo terrestre de acordo com os compartilhamentos retransmitidos. Individualmente, a pessoa joga sua ideia para total conhecimento dos internautas, conhecidos e desconhecidos, isto é, não existe mais segredo. Lembre-se que não estão conversando informalmente com uma patota de amigos íntimos ao redor de uma mesa de bar, contando uma piada e logo finda num estrondo de gargalhadas. Portanto, a forma de expressão dever ser cuidadosamente utilizada dentro dos padrões da civilidade e do respeito às ideias contrárias. Todavia, não é isto que vemos ante a nossa realidade. Há casos de verdadeira ridicularidade!
Em nossa opinião, o facebook era para ser uma ótima ferramenta para compartilhar e divulgar conteúdo próprio, transmitindo boas ideias e conhecimentos, com civilidade e urbanidade, educando e educando-se, não utilizá-lo como instrumento de fofoca, de maneira rude e descortês . Assim como outras redes sociais, o site vangloria-se de ser um espaço aberto para a liberdade de expressão e difusão de ideias para qualquer pessoa, sabendo manusear com os argumentos da civilidade e respeito mútuo. Urbanidade não se contrapõe à liberdade de expressões, pelo contrário, ajustam-se.
O dever de urbanidade não é um mero código de civilidade e etiqueta social. Fundamenta-se no respeito pelo valor da dignidade do ser humano. A urbanidade ou polidez precede as boas ações e a elas conduzem e, por isso, constitui uma espécie de proteção da moral. Quem pratica a polidez dá garantias de saber respeitar os outros e orientar a sua vida pelas virtudes sociais da tolerância, da justiça e do bem-comum.
A falta de urbanidade abre as portas a todos os males
Lastimavelmente, as críticas políticas são contundentes e não merecedoras de crédito, num nível de despolitização sem rédea, esquecendo a própria honestidade pessoal e enveredando nos caminhos tortuosos do sectarismo partidário e ideológico, escondendo a verdade dos fatos, tentando enganar a todos e a si mesmo. E a sua honestidade e seu caráter são jogados na lixeira? O importante é agradar a facção política o qual é seguidor.
No campo religioso dá-se uma verdadeira guerra de raios metafísicos, ninguém analisa o lado do livre arbítrio ou o direito de professar qualquer credo ou não ter nenhum, que se conflita com a sincronia ao estado democrático de direito e termina arrojando à crítica ao limbo de natureza pessoal. O terceiro acompanhante das discussões termina decepcionado com a fragilidade
dos argumentos. A tolerância é deletada e o respeito enterrado. Ninguém conhece quem é quem, se religioso, fanático, ateu, agnóstico, ou qualquer coisa que o valha, o negócio é está jogando verborreia de torpedos, uns contra os outros! Pois, os guerrilheiros estão completamente afastados do doutrinamento da linha filosófico-religiosa adotada conforme o seu próprio discernimento de enxergar as coisas e os fatos da natureza.
A pior situação verifica-se quando o transmissor perde o controle emocional e termina irritando todos os receptores que discordam dos argumentos frágeis, ou apresentam-se como instrumento de uso político-ideológico ou fanatismo religioso.
Concebe-se, ainda, que no facebook a maioria das mensagens são fofocas, inclusive praticadas por pessoas de nível superior, que deveriam ter um pouco de moderação, mas têm uma mente de baixo nível porque falta polidez, delicadeza, racionalidade e argumentos bem embasados. Na macarronada da Internet, ressalvando-se alguns sites e blogs merecedores de crédito, todos nós somos protagonistas dos nossos próprios conteúdos, acrescidos do milagre da multiplicação dos compartilhamentos.
Como encontramos na linguagem da Internet: “as fofocas são criadas por invejosos, espalhadas por tolos e aceitas por idiotas”.

João Pessoa PB, 20 de fevereiro de 2014.

ESCRITOR E PROMOTOR DE JUSTIÇA DE JOÃO PESSOA - PB
scoelho@globo.com
POLIDEZ DE LINGUAGEM POLIDEZ DE LINGUAGEM Reviewed by Clemildo Brunet on 2/21/2014 05:26:00 PM Rating: 5

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