A utilidade e o amor
Onaldo Queiroga |
Onaldo Queiroga*
Recentemente recebi um vídeo que me chamou muito atenção,
principalmente pela verdade da situação ali posta pelo Padre Fábio de Melo, que
com muita propriedade fala sobre a utilidade das relações humanas e o amor.
De
forma proficiente, a citada reflexão procura demonstrar que na grande maioria
das vezes, nas relações entre as pessoas, há o toque inquestionável da
utilidade, ou seja, o homem apresenta-se prestativo, afável, solícito e amigo,
pois sabe que algo de útil pode arrancar da outra pessoa. É aquela história, em
muitas ocasiões emerge o pensamento de que a pessoa que se encontra ali próximo
gosta de você, mas na verdade nem sempre isso é verdade, pois possa ser que
aquela pessoa que lhe circunda esteja apenas interessada no que você pode fazer
por ela.
Evidentemente que não são todos os circunda que agem sob a
utilidade, mas não podemos desconhecer o fato de que existem realmente os seres
que vivenciam essa utilidade.
Com
sapiência, enfoca, ainda, que o período da velhice é o tempo onde com clareza o
ser humano consegue enxergar e
sentir com precisão o impacto da utilidade. Depois de anos e
anos de luta pela vida, sendo útil para filhos, parentes e amigos, o homem
chega à maturidade, a velhice, momento em que aposentado, sem ter mais tanta
importância no ato de servir, pelo contrário, agora surge o instante em que é
chegada a hora de ser servido, vem, então, a cruel realidade, o da dura
dependência, por exemplo, de ser levado para um banho de sol, de não ser ali
esquecido; tempo em que se espera que alguma pessoa se disponha a perder alguns
de seus minutos para conversar com você.
Como diz Padre Fábio: “A velhice é esse tempo, passa a utilidade
e fica só o seu significado como pessoa. Eu acho que é o momento que a gente
purifica, de sabermos quem de verdade nos ama de verdade, porque, só nos ama,
só vai ficar até o fim, aquele que depois da nossa utilidade descobriu o nosso
significado...”.
Diante
disso, devemos procurar sempre identificar, conviver e envelhecer ao lado de
pessoas que nos vejam não só como úteis, pois quando somos inúteis e assim
mesmo alcançamos a atenção de alguém, é justamente esse alguém que nos ama de
verdade, e na velhice estenderá a mão para o auxilio, emprestando o seu tempo
para uma bate papo, um passeio etc. Se você quiser saber se uma pessoa te ama,
então, de vez em quando veja se ela é capaz de acolher ou não sua inutilidade.
Faça o teste. Sem dúvida, você encontrará poucos que apesar da
sua inutilidade para com eles, realmente são aptos te aceitarem assim mesmo. Esses
são os que te amam.
É da análise da utilidade e da inutilidade que permeiam as
relações que se consegue extrair o amor. Esse sim, suscetível de demonstrar que
o homem tem como olhar para seu semelhante e dizer: Você é inútil, não serve
mais pra nada, mas não sei viver sem você.
*Escritor e Juiz de
Direito da 5ª Vara Cível de João Pessoa - PB
A utilidade e o amor
Reviewed by Clemildo Brunet
on
3/08/2014 09:08:00 PM
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