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Quando os anos parecem travesseiros

Genival Dantas
Genival Torres Dantas*

Quando os anos parecem travesseiros

Genival Torres Dantas*

Quando atingimos a idade mais conhecida como da experiência, ou da terceira idade, somos invadidos por um sentimento de responsabilidade e tolerância bem acima daquelas que comumente tivemos até atingirmos esse patamar. É aí que os anos parecem travesseiros a amortizar os problemas acumulados, acomodar a cabeça de forma a direcionar os pensamentos em direção a objetivos menos arrojados e
mais sustentáveis, concatenar as ideias que antes pareciam uma luz difusa, se transformando num feixe de luz, iluminando estradas, caminhos e desvios como que o milagre da razão e da lógica.
Não há como, nesse momento, não fazer uma reflexão desde os primeiros dias de consciência, que nos marcaram, numa clarividência que aqueles foram os mais importantes em nossas vidas.
Não sendo diferente, procurei ser mais leal possível na identificação das imagens, coisas, sons e pessoas que fizeram parte em todo desenrolar. É mais fácil identificar o que está mais distante, no tempo, até mesmo pela ausência de cobranças e imbuído de responsabilidades.
Nasci numa rua estreita, de tão estreita levava esse nome, não era a mais bela da cidade, mas começava no eixo do comercio principal e desembocava num velho castelo da rua de um sol estonteante, portanto, pomposa e de muito orgulho para seus moradores. Transitei por ruas sem asfalto, quando muito paralelepípedos pavimentavam as vias e os principais acessos, contendo a poeira que praticamente insistia em se fazer presente por toda cidade e por todo tempo, o tempo todo, se ausentando apenas quando as águas da chuva caía nos curtos invernos do sertão paraibano.
Quando adolescente, transitei muito pouco pela velha praça centenária, com suas árvores frondosas, a ratificar sua idade e as belezas naturais, andei muito mais pela praça principal que levava o nome de um presidente simpatizante das oligarquias políticas da cidade, Getúlio Dornelles Vargas, com seu busto voltado para o caminho que me levava ao Colégio Diocesano, instituição educacional e único a educar, na segunda fase do ensino, ginasial e científico, denominações de uma época longínqua, os filhos de uma terra tradicionalmente, apesar da pobreza regional pelos poucos recursos, futuros valorosos homens e mulheres que sempre honraram o solo que nasceram, gigantes batalhadores na política, artes, ciências exatas, da comunicação, jurídicas e biomédicas, tantos outros campos lastreados por pessoas que nasceram entre nós e que tanto contribuíram para o crescimento de nosso povo.
Na juventude, por uma questão de sobrevivência virei um andarilho e por muitas terras passei, foram tantas as andanças por esse país continental, buscando oportunidades e tentando sufocar as saudades das coisas e pessoas que lá deixei. Dei de cara com um mundo alheio, totalmente diferente daquele que eu conhecia até então, sem o romantismo e a ternura das moças que me enamorei, de homens injustos e prepotentes numa sociedade onde o TER valia muito mais que o SER, e o mundo buscado, das oportunidades fáceis, era apenas efeito de retórica de quem não  tinha objetivos maiores e mais saudáveis.
O tempo passou, venci nas terras inóspitas e desumanas, graças aos valores obtidos lá distante, no início da minha vida, na superando dificuldades fui me impondo, cresci profissionalmente com o uso dos valores que fui formando na minha trajetória. Constitui família, a vida estava mais séria, já não era mais um garoto vindo do sertão para a cidade grande, era um executivo a administrar além da minha família, setores e regiões de empresas consagradas no território nacional, não podia falhar, estava em jogo várias outras famílias e situações, vidas que dependiam de objetivos traçados a partir da minha capacidade de visão mercadológica, confesso que não tinha ou não me importava com tamanha responsabilidade, sabia da minha capacidade e limites, com toda modéstia.
Como sempre fui um militante e inconformado com a filosofia de trabalho que estava no meu currículo profissional, sempre de subjugue, joguei tudo para o alto profissionalmente e fui desafiar uma nova realidade, agora como empresário. Não demorou muito para observar que no nosso país o empreendedor é um sacrificado, é um condenado as destemperanças dos governos, tem que provar que é honesto até que prove não ser desonesto, o governo é o sócio do empresário apenas nos seus lucros, nunca nos prejuízos. O pequeno será sempre preterido nos grandes projetos, até ser definitivamente engolido pelos mega empreendedores, pois não há uma concorrência efetivamente honesta, e uma politica de mercado coerente e embasada na justiça de mercado.
Quando parei para fazer um balanço da retrospectiva de minha vida,  já tinha escrito mais que um livro, tinha dois filhos, plantado algumas árvores, perdido 2 irmãos, continuava com poucos camaradas, e alguns amigos que deponha fé. Observei que a família é o nome que damos ao conjunto que amamos e queremos mantê-los para sempre, como se fora uma joia preciosa; a esposa é a alma gêmea, se tivermos a felicidade de encontra-la no momento do milagre do amor, os filhos representam um trabalho bem elaborado, feito com todo esmero, e a sua continuidade não depende mais de nós; o sucesso  independe apenas de inteligência, além dela, tem que haver a oportunidade, esse binômio as pessoas normalmente chamam de sorte.
Nesse momento atual da vida quando o exercício das atividades é mais produtivo, principalmente pela forma sensata de enxergar as consequência das ações, já tivemos a oportunidade de viver as emoções que a vida nos ofereceu em toda sua plenitude e em todos as etapas, passamos pelos ranços indesejáveis que nos perseguiram numa determinada fase ou várias delas, superamos as incertezas e os desalentos proporcionados pelas decepções que não foram poucas, fomos bombardeados pela inveja e a ira provocadas por aqueles que tínhamos o respeito e a admiração com a congruência  de um amigo mais próximo, ficamos invadidos por alguns momentos pela indiferença daquelas que achávamos está sendo correspondidos num sentimento de amor profundo, na realidade não passava de perfídia exacerbada e desumana.
Enfim, esse estágio só resume as suas belezas que tem, e que trazemos, pelo sentimento de vitorias sobres os males que nos afetaram, hoje se transbordamos em equilíbrio e sensatez creditamos esses fatos a toda experiência acumulada no transcorrer das nossas vidas. Eu que sempre fui um admirador da obra de Van Gogh (1853/1890), não posso deixar de lembrar algumas palavras que ele nos deixou, talvez até para justificar sua atitude, por ter suicidado aos 37 anos, quem sabe, por não ter conseguido constituir uma família e manter sua própria subsistência, vivendo no ostracismo, de fracasso em fracasso, e mesmo assim, sua obra é considerada como uma das melhores em todos os tempos, é uma pena que tenha sido reconhecido apenas depois da sua morte, assim como a maioria dos artistas, disse ele: "Que a cada dia você tenha Paciência para as Dificuldades, Sensatez para as Escolhas, Delicadezas para as Palavras, Coragem para as Provas... Ame muitas coisas, porque em Amar está a verdadeira Força! Quem AMA muito conquistará Muito! E o que for feito com Amor estará bem feito..."

“DEDICO ESSE TEXTO AOS MEUS FAMILIARES, VERDADEIROS AMIGOS E LEITORES FIÉIS QUE SEMPRE ME HONRARAM COM SUAS PRESENÇAS EM MINHA VIDA. 07/03/2014”

*Escritor e Poeta
Quando os anos parecem travesseiros Quando os anos parecem travesseiros Reviewed by Clemildo Brunet on 3/07/2014 10:17:00 AM Rating: 5

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