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MINHAS DÚVIDAS, MINHAS ESPERANÇAS

Ignácio Tavares
Ignácio Tavares*

As minhas dúvidas, de forma mais acentuadas, despontaram na transição da adolescência pra idade adulta. Foi a partir daí que entendi que o mundo não era tão certinho como acreditava que fosse. Antes dessa fase, lá pelos idos da minha infância, pela primeira vez, movido por dúvidas, questionei algumas pessoas da família no interior da mais importante templo da cidade.
 Foi isso mesmo, na ocasião, justo na semana santa, ao lado da minha Mãe, bem como das tias Enedina, Emília, escutava preces e

súplicas apropriadas àquele momento. Tinha cerca de seis anos, portanto não entendia porque três pessoas, em voz alta, rezavam, suplicavam de forma fervorosa, com os olhos fito na imagem do Senhor Morto. 
 Terminada as orações, as súplicas, perguntei a minha Mãe: Ele está vivo? Não meu filho! Completei: então por que vocês rezam e pedem tantas coisas a uma pessoa que não vê e não escuta, seja está morta? As minhas tias ficaram indignadas e de imediato recomendaram a minha Mãe, de forma enfática: Lourdes cuida desse menino! Você ouviu o que ele falou? Já é tempo de explicar a importância de Deus na sua vida. Não deixe que ele cresça com essas ideias malucas na cabeça!
 Essa estória minha Mãe me contou que ao lembrar-se de forma saudosa as minhas artimanhas, enquanto criança. Posso dizer com segurança que esta foi a primeira dúvida que povoou o meu imaginário de criança  e se estendeu até a idade adulta. Essa situação me perseguiu durante muito tempo e só me foi possível passar a limpo depois de reflexões a preço de leituras exaustivas, conversas e discussões com renomados religiosos aqui de João Pessoa.
  Com o passar do tempo outras dúvidas despontaram na minha vida. Desta vez foram de ordem política e social, porquanto, a esta altura da minha vida já enxergava o mundo com olhares críticos que me levavam a fazer perguntas a um e a outro, porém, sem respostas convincentes. Já não era mais adolescente, portanto já estava a pensar como gente grande. Busquei encontrar nos livros respostas que pudessem mitigar as incertezas que matraqueavam a minha cabeça a todo o momento.
 Não estava sozinho nesta busca, pois os amigos do mesmo naipe etário, que trilhavam pelo mesmo caminho, alimentavam as mesmas dúvidas, decerto, as mesmas preocupações. A essa altura já nos preocupávamos com as questões sociais, que nos levaram a esposar ideias incompatíveis com o modo de pensar da maior parte da sociedade da época. Desse modo fomos tomados pela ansiedade de construir uma nova sociedade mais humana, justa, de tal sorte que todos, igualmente, pudessem ter as mesmas oportunidades de construir e reproduzir suas famílias num ambiente de paz e dignidade. 
  Os ideais que abracei levaram-me a tomar gosto por assuntos econômicos e sociais, posto que julgava que este era o caminho através do qual podia encontrar respostas às minhas indagações. Em parte sim, mas, na minha trajetória pensante havia um espaço cinzento que impediam o entendimento das casualidades dos problemas que me preocupavam. Resolvi ser economista porque, em se tratando de um curso alinhado as ciências humanas ajudavam-me a entender o porquê das grandes diferenças sociais, de rendas, de bem-estar entre as diversas classes sociais.
 Ledo engano. As coisas não eram tão fáceis qual estava a imaginar. Nos emaranhados da teoria econômica não havia respostas às minhas inquietações de ordem econômica e social. Com efeito, passei a entender que dificilmente encontraria soluções prontas e acabadas para as perguntas que sempre estava a me fazer. Desse modo, fui tomado por dúvidas e mais dúvidas, que sem dúvidas foram importantes para minha melhor compreensão dos limites da ciência econômica.
 Foi nesse clima de dúvidas e incertezas que iniciei a profissão de economista em duas áreas distintas. No magistério tentei repassar para os alunos a incapacidade dos conhecimentos da teoria econômica, por si só, apresentar soluções para os problemas mais urgentes de uma sociedade emergente. Isso porque para que as coisas acontecessem necessariamente tem que haver vontade política por parte dos que estão à frente do poder.
 Como pesquisador busquei identificar as causas das diferenças sociais e econômicas, seja identificar as razões da pobreza em regiões especificas, bem como seus efeitos perversos. Essa é mais importante matéria prima, indispensáveis a formulação de políticas públicas direcionadas a solucionar problemas sociais e econômicos em tempo e espaços diferentes.
 Como Técnico em Planejamento engajei-me na elaboração de vários planos de governo entre 1975 e 1979, retornando em 1995, na administração de Antônio Mariz. A cada Plano surgia novas esperanças de que a economia do Estado retomaria os caminhos do desenvolvimento conforme as expectativas das projeções realizadas.
  Com efeito, o conflito entre o Planejamento e a vontade política para tocar, em ritmo de políticas públicas, as proposições apresentadas trouxeram-me mais dúvidas do que certezas. A exceção no governo de Ivan Bichara, de certo modo no primeiro governo de Buriti, quando o Planejamento viveu os seus melhores momentos. Daí por diante nada de novo aconteceu.
 Surgiu uma nova esperança no governo de Antônio Mariz, mas, infelizmente o amigo não viveu para cumprir o prometido, seja administrar o estado através de ações planejadas a fim de realizar o que prometera nos discursos de palanque.
 Com esse infausto acontecimento as dúvidas tomaram conta de mim. Não houve alternativa, arrumei meus teréns e definitivamente encerrei minhas atividades como funcionário público engajado nas atividades de pesquisa e planejamento Foi assim que vivi mais de três dezenas de anos entre a esperança e a dúvida.
João Pessoa, 16 de Abril de 2014.
*Economista e Escritor Pombalense


MINHAS DÚVIDAS, MINHAS ESPERANÇAS MINHAS DÚVIDAS, MINHAS ESPERANÇAS Reviewed by Clemildo Brunet on 4/16/2014 11:37:00 AM Rating: 5

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