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Quando a algaravia do anacronismo extrapola a sensibilidade humana

Genival Torres Dantas
Genival Torres Dantas*

            As razões pelas quais somos levados a aceitar determinadas idéias e refutarmos incondicionalmente outros padrões comportamentais, está intrinsecamente ligada a tudo aquilo que durante a nossa vida fomos construindo na nossa personalidade e é, sem dúvida, o resultado dos valores que fomos somando ao longo da nossa experiência. Tudo aquilo que foge a nossa capacidade de entendimento, por algum momento não fizemos questão de nos aprofundarmos na sua essência por não acharmos relevantes ou mesmo que tivesse alguma importância para o nosso desenvolvimento.
            Nos últimos tempos temos observado que alguns valores estão sendo substituídos muito rapidamente e
o que tem ficado são paradigmas que tem ajudado a formar uma nova sociedade sem nenhum padrão de moral ou ética, prevalecendo sempre a velocidade que as coisas tem que acontecer, pois, há uma pressa enorme em se conseguir o objetivo traçado, ignorando-se até mesmo os meios, tão respeitados num passado não muito distante, e desconsiderado nos dias atuais, importando apenas o resultado positivo naquilo que se almeja.
            Para tanto, há uma prática desrespeitosa, quando suprimimos o consensual dever de lealdade, eliminamos o receio de ofendermos alguém ou alguma coisa, na sua integridade, física ou moral, desconsideramos a mais elementar da lógica do bom senso, esquecendo o limite do outro e avançamos em direção ao nosso intento, não importando a quem estejamos ou não machucando.
            O que temos assistido nos últimos dias é um verdadeiro atentado a honra do nosso país e a oficialização do descalabro na administração pública brasileira. Em decorrência dos últimos absurdos denunciados pela imprensa nacional, tendo como principal vítima a maior empresa brasileira e uma das maiores do mundo, a Petrobrás, com uma sequência de fatos, com  denúncias de superfaturamentos em obras pontuais e desvios de objetivos, alguns deles chama atenção pelos prejuízos financeiros causados ao patrimônio da empresa, como também ao patrimônio moral, ela está no meio de um escabroso caso de assalto ao seu patrimônio, de envergonhar qualquer brasileiro, pela quantidade de fatos e volume de dinheiro envolvido. O prejuízo financeiro já foi consolidado, temos que evitar é o prejuízo no mercado, podendo suas ações serem desvalorizados muito mais que já foram, levando a empresa a um colapso administrativo sem precedentes na nossa história.
            O caso da refinaria de Pasadena nos EUA vem imbricado com tantos outros tão dantescos quanto esse de rumoro  episódio maculador à história política brasileira, por várias razões. Temos o caso do contrato da empreiteira Odebrecht, de 2010, para prestação de serviços em 10 países onde opera a Petrobrás, ainda no governo Lula, valor de US$825,6 mi, o Tribunal de Contas da União (TCU), encontrou 8.800 itens com suspeita de fraudes; há a denúncia de suborno de US$139.2 mi, pagos a funcionários da Petrobrás, pela empresa holandesa SBM Offshore, na negociação de plataformas. O mais volumoso e indescritível é o caso da Refinaria Abreu e Lima, de Pernambuco, orçado em US$2,3 bi e já estamos com chegando aos US$20 bi, sem sua efetiva concretização.
            No Congresso Nacional, a oposição com apoio de alguns congressistas do PMDB e de outros partidos menores, da base aliada, conseguiram assinaturas suficientes para instalação de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), uma no Senado e outra mista, com a participação da Câmara Federal, para investigarem especificamente esses casos na Petrobrás. O governo Federal não conseguindo evitar a CPI, e para evitar que seja feita uma investigação mais profunda, trazendo prejuízo ao núcleo do governo, pelo que possa ser levantado, tenta blindar a Presidente da República, e prováveis sequelas aos partidos de apoio, também quer fazer uma CPI mais abrangente, incluído-se casos prováveis de corrupção no Estado de São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco, Estados governados pela oposição e fortes redutos opositores.
            Com esse gesto, fica evidenciado que o governo quer apenas inibir qualquer ação mais esclarecedora da oposição, na Petrobrás, se negando a fazer CPI isoladamente, uma para a Petrobrás e outra para investigação nos Estados citados, de assuntos denunciados e quem vir a tona problemas de relevância para esclarecimento público.
            Nesse quadro desolador é de esperar que nada seja feita para que se possa comensurar o tamanho da descompostura por parte dos políticos que hoje regem o poder em nosso país, em todas as esferas. Ficarão trocando farpas, como se estivessem trabalhando em defesa da pátria e do povo, como num teatro mambembe, apenas para diversão da plateia pasma e incrédula, pelas atitudes que não tiveram nossos ignóbeis representantes. Para desencanto dos que tem consciência política, uma pequena minoria, que lá estão, vão ficar numa situação humilhante, vexatória, de mãos atadas, sem nada poder fazer, numa completa desolação, como bem descreveu o ilustre senador por Pernambuco, Jarbas de Andrade Vasconcelos (PMDB). Isso é uma farsa, também é um fato.
*Escritor e Poeta

Quando a algaravia do anacronismo extrapola a sensibilidade humana Quando a algaravia do anacronismo extrapola a sensibilidade humana Reviewed by Clemildo Brunet on 4/06/2014 08:34:00 AM Rating: 5

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