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INIMIZADE VIRTUAL

Severino C. Viana
Por Severino Coelho Viana*
            
      A politicagem tem um poder desmedido sobre o controle emocional das pessoas, principalmente aqueles que não sabem usar a força do argumento, mas usam o argumento da força, apesar de ter guardado o canudo de papel no fundo da maleta. E quando a alienação toma conta da mente é um deus-nos-acuda. Esquecem-se as normas de civilidade.
            A visita pessoal é coisa do passado. O sentar na calçada uma raridade. A prosa divertida nas calçadas já era. No facebook é assim, você envia e
recebe convite de amizade, a chamada amizade virtual, onde só se apura o valor quantitativo, pois o qualitativo é pouco mensurado, que pode ser de pessoa já conhecida ou desconhecida, basta um clique, tudo está plasmado para uma vida real no mundo dos contatos.
            As mensagens enviadas e recebidas vão se cruzando e se entrelaçando nos assuntos mais variados: vida, fé, acidentes, piadas, ironias, filmes, livros, religião, ateísmo, política, politicagem etc. São os que se dizem politizados que fazem a politicagem. Todos os temas parecem que se afinam, no entanto, a politicagem é desagregadora, é contaminadora, é desastrosa. E tudo isso modifica repentinamente. Numa manhã clareada pelos raios solares, logo no primeiro contato com a rede social, o amigo virtual compartilhou uma charge demolidora da moral do pré-candidato ou candidato defendido pelo receptor da mensagem. O receptor, inconformado com o desafeto virtual, busca no Google um revide muito maior contra o candidato do aliado do emissor da mensagem. Doravante, a guerra fora declarada, todas as armas são usadas e esquecem que são amigos virtuais ou até reais. Tudo muda de figura.
            O valor da amizade é indefinível, depois da estima familiar vem o apreço aos amigos. Por isso, diz o tema popular: “é melhor ter amigo na praça que dinheiro no bolso”. Isto é uma grande verdade. Ás vezes nos encontramos preocupados, ansiosos, no meio de situações complicadas, sentimos meio perdidos, porém somente o fato de conversarmos com um amigo, desabafando o que guardamos no nosso íntimo, já nos sentimos melhor, mesmo que os fatos permaneçam inalterados. Quantas vezes são os amigos que nos fazem sorrir quando tínhamos uma vontade de chorar, todavia, a presença do amigo nos traz de volta o brilho da vida. A simplicidade das brincadeiras pueris, a conversa informal naqueles momentos de descontração, uma conversa rápida ao telefone, no vai e vem do dia ou da noite, no bate-papo pela Internet, no ambiente de trabalho ou da escola, enfim, em qualquer lugar e a qualquer hora. Podemos comparar esse elo de amizade com o tempo que passa por alterações climáticas constantemente, e assim, dessa forma que aprendemos a nos conhecer, compartilhar momentos e desenvolver amizade.
            Ouvimos com frequência das pessoas e observamos comentários no Facebook afirmando que a rede social aproximou mais amigos. Amigos que não viam com tanto frequência, amigos sumidos desde os tempos da escola até os amigos do dia a dia.
            Entretanto, esta mesma rede que aproxima pode ou está afastando. Com a facilidade de um clique é possível excluir um ‘amigo’ do Facebook tão fácil quanto ele foi acionado. Para cada uma das situações reclamadas, nós podemos encontrar uma alternativa: não quer ler bobeira ou baboseira, bloqueia, exclui, não aceita; os mais radicais manda com toda a força do pulmão: “sai do face”! Deleta sua conta!
            Estas são algumas possíveis razões por trás das brigas virtuais, para não querer dizer a ansiedade politiqueira. Simplesmente, não sabem conviver com o contraditório, mas dizem-se democráticos! E falam a toda hora o respeito ás opiniões! Que engraçado!
            Nas brigas virtuais existem alguns aspectos de singularidade: as pessoas poder ser conhecidas ou desconhecidas. Outras se escondem através do anonimato; outro fator seria a distância que os separa, aí cada um fica mais a vontade para brigar, nasce a coragem de um Leônidas, mas brigam sentados ou até deitado no sofá. A discussão começa no foco político e termina no campo pessoal. O achismo pessoal enterra toda liberalidade midiática. Ora, o achismo é uma base de comportamento arrogante das pessoas, aqui é um problema educacional, que geralmente começa em casa, hoje muito ligado ao individualismo, como se a assertiva fosse verdadeira: “tenho direito a opinião e assim digo o que acho”. Não, não existe esse direito. Você tem direito a opinião, sim, mas deve fundamentá-la e não simplesmente dizê-la pela razão que for e pelo motivo que for. É necessário verificar se a sua opinião tem base na realidade e não apenas na experiência individual. Deve-se refletir sobre o que se sente e o que se pensa. Sem isso, somos arrogantes.
            Antigamente, no período de campanha eleitoral, ouviam-se comentários que vizinhos haviam brigado por causa de política. As mulheres iam-se aos cabelos uma da outra por causa de uma simples pilheria. Qualquer desagrado ao candidato a resposta vinha na ponta da língua. No período eleitoral não se falavam, estavam emburricados com os vizinhos. Esses briguentos politiqueiros eram pessoas de fraco fator emocional, na verdade, brigavam mais pela paixão que se entrelaçavam ao candidato do que por paixão ideológica. Ás vezes era o apego à sigla partidária ou ao líder local, mas depois da eleição a vida voltava ao seu percurso natural. A vitória era a desforra ao torcedor derrotado. Sabendo-se que tal fato só se repetiria na próxima eleição.
            O diferencial das brigas virtuais é que elas não têm trégua, a briga é o tempo todo, nos três turnos, quer chova quer faça sol, somente um pequeno intervalo para dormir, recheado de sonho ou pesadelo para recomeçar tudo de novo ao amanhecer.
Com tanta briga que percebemos via Internet, que não é mais virtual, sim, real demais que está posta na nossa mesa. Isto é um fato: a amizade virtual está levando a inimizade real.
João Pessoa PB, 05 de maio de 2014.
*Escritor e Promotor de Justiça na grande João Pessoa-PB.

scoelho@globo.com
INIMIZADE VIRTUAL INIMIZADE VIRTUAL Reviewed by Clemildo Brunet on 5/05/2014 09:53:00 AM Rating: 5

Um comentário

Poeta Sem Talento disse...

Pocha...obrigado, um comentário que me ensinou muito.

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