Medo. Metáfora da condição humana
Teófilo Júnior |
Teófilo Júnior*
Promover mudanças não é
uma tarefa das mais fáceis e tranquilas. Somos, por obra de nossas próprias
construções sociais e até religiosas, formadores e fomentadores de medos,
paradigmas e convenções que, quase sempre, permanecem em nossos invólucros,
embalados confortavelmente em nossos guardados, protegidos de nós mesmos, fora
do alcance de nossas ocasionais investidas e até questionamentos.
O rotineiro não nos
assusta. Já conhecemos os caminhos e
seus atalhos. Nos
sentimos seguros em tudo quanto conhecemos e dominamos. Então, revirar isso
tudo por quê? Tudo está indo tão bem! Por que arriscar tudo numa potencial mudança?
Não raramente, o novo
nos assusta! Não apenas porque representa “transformação”, mas porque põe em
dúvida a nossa postura já tão bem agasalhada em nossos lençóis interiores.
Somos, por assim dizer, propensos a resistência ao que nos causa expectativas,
ao apontamento de outras direções estranhas aquela que já conhecemos e nos
sentimos, digamos, “protegidos”.
Inconscientemente, essa
oposição às mudanças se manifesta não apenas no ambiente familiar (geralmente
sentamos à mesa no mesmo lugar, tomamos água no mesmo copo, dormimos sempre do
mesmo lado da cama), mas se faz presente também em nossas supostas verdades
subjetivas, no nosso cotidiano social e, sobremaneira, no nosso ambiente de
trabalho, na adoção de práticas mecanizadas, herdadas de regras perdidas no
tempo e que se repetem sucessivamente a exaustão, imunes aos nossos “porquês”.
Adotamos com entusiasmo
um discurso pragmático, ético e libertador frente às inquietudes deste início
de século, mas nos guardamos céticos em nossos embates pessoais, repetindo e
desprendendo ações circulares, de pouca efetividade frente ao nosso papel de
agente transformador, tal qual Sísifo em sua interminável e redundante
sentença.
A propósito, o mito de
Sísifo é aquele no qual um homem é condenado pelos deuses gregos a rolar uma
enorme pedra colina acima, apenas para deixá-la descer novamente. Sísifo foi
condenado a repetir essa infrutífera tarefa eternamente. Não precisamos ir
muito longe para compreender esse mito como uma metáfora da condição humana
moderna. Não raramente empreendemos enormes esforços e muita energia em tarefas
que nada realizam verdadeiramente. O medo é recalcitrante. Adotamos posições
que em nada acrescentam ou possibilitam o desbravar de novos horizontes.
Acredito ser esse,
frequentemente, o problema dos indivíduos contemporâneos, sejam eles
trabalhadores braçais ou intelectuais. É verdade que um burro de carga executa
sua tarefa com a força de sua inconsciência e de seu serviço, mas o homem,
nessa missão, se vê atribulado, mergulhado na consciência do seu medo e do seu
imobilismo ante tudo que é novo.
O mito de Sísifo se
repete em nossos dias, em nossas ações e, igualmente, em nossas omissões, em
nosso descompromisso com a ousadia das mudanças. Mas, sinceramente, acredito
que o espirito humano, inquieto e indomável, ainda é capaz de resistir a
qualquer coisa, até mesmo a sentença implacável e incompreensível de Sísifo.
*Bacharel
em Ciências Jurídicas e Sociais pela UFPB. Especialista em Direito Processual
Civil pela UFCG e Pós-graduação em Pratica Judiciária pela Escola Superior da
Magistratura da Paraíba. Técnico Judiciário do Tribunal de Justiça da Paraíba.
Medo. Metáfora da condição humana
Reviewed by Clemildo Brunet
on
6/25/2014 05:10:00 AM
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