Sombras, nada mais!
Ricardo Ramalho |
Ricardo Ramalho*
“Sombras, nada mais, a torturar os
meus dias...” cantava Nilton Cesar nos alto-falantes da Difusora Rádio Maringá,
sob a batuta de Clemildo Brunet, espalhando canção nas ruas e casas de Pombal.
Adolescente e apaixonado por música
me enlevava ao som das “difusoras”, penduradas na Coluna da Hora, no telhado do
Mercado e
outros pontos estratégicos da cidade.
outros pontos estratégicos da cidade.
Trabalhava com minha família, como
vaqueiro, outro Nilton. Mais que um vaqueiro, era um quase irmão, também jovem
que, inclusive, convivia em nossa casa como se fora da família. Encantado por
uma namorada que ora lhe queria ora lhe ignorava, pediu-me, já que era
analfabeto, que escrevesse uma carta a um programa de rádio da Difusora a fim
de dedicar uma “página musical” à moça pela qual nutria uma irreversível
paixão.
Sem uma preocupação com o sentido da música e sua relação com a
situação em si dos namorados, escrevi a carta e fomos juntos, de bicicleta,
entregar nos “studios” da Maringá. Recebida a carta, aguardamos, ansiosos, a
difusão da mensagem nos ares de Pombal, uma vez que isso nem sempre ocorria no
mesmo dia.
Finalmente, perto das nove horas da noite, a voz de Clemildo ecoava
e, romanticamente, anunciava: atenção, atenção Maria das Neves, ouça essa canção
que lhe dedica, com amor, Nilton; a seguir “Sombras” com Nilton César. Os
acordes da música e a voz do cantor encheram corações e mentes dos enamorados,
com uma mensagem triste e até desesperadora, linha melódica e poética que
dominava na época. Por não haver atentado essa contradição de objetivos
escolhera uma canção que não condizia com o desejo de Nilton, o vaqueiro. Mas,
quem se importava com isso? O que valia mesmo era ter os nomes e sentimentos
revelados aos ouvintes da Difusora e os inevitáveis comentários que
repercutiriam com o fato. E os alto-falantes a bradar: “... sombras, nada mais,
a torturar os meus dias, sombras, nada mais, nunca mais tive alegrias...”.
*Engenheiro agrônomo, pombalense.
Sombras, nada mais!
Reviewed by Clemildo Brunet
on
6/04/2014 04:40:00 AM
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