A CASA DO ROSÁRIO PERTENCE À CONFRARIA DOS NEGROS DO ROSÁRIO

Jerdivan Nóbrega de Araújo

Jerdivan Nobrega de Araújo*  

            
Em boa hora foi levantado o debate a respeito da possível venda da casa do Rosário de Pombal. A pergunta que restou, depois dos debates e “disse me disse”, foi: “A QUEM PERTENCE À CASA DO ROSÁRIO?” A reposta correta e mais imediata é:
pertence ao Povo de Pombal.

            Para se chegar a esta resposta vamos retroagir na linha do tempo, até o final do século XIX, quando  a cidade de Pombal concentrava seu centro urbano, com casas bem construídas, em umas poucas ruas centrais, como Rua dos Prazeres (atual Rua do Comércio), Rua do Rio, o centro formado pelas duas igrejas, mais ao sul a Rua da Aurora, hoje denominada Rua João Pessoa e a Rua do Giro (hoje João Capuxu).

A Rua João Capuxu terminava em um riacho que desaguava, nos tempos de invernos, no leito do rio Piancó, que à época era temporário. Depois desse riacho as casas eram simples, talvez em taipas e espaçadas entre elas. Foi ali que se instalou e funciona até os dias atuais, a casa de adoração ao Rosário, mas que também era a casa do Juiz da Irmandade dos Negros Rosário de Pombal.

Portanto, o primeiro juiz que se tem noticias, Manuel Maria Cachoeira, residia na hoje Casa do Rosário, situada na denominada Rua do Rosário, confluência com a Rua Manuel Maria  Cachoeira, que  à época era de taipa e precariamente construída.

Possivelmente naquela localidade morasse, não apenas Manoel Antônio de Maria Cachoeira, o primeiro juiz da Irmandade depois do reconhecimento oficial por Lei Provincial e em seguida pela cúria em Olinda, como também residisse nas imediações outros membros da Irmandade, formando assim uma comunidade de casas simples onde residiam uns poucos negros recém-libertos.

Sem uma igreja própria e sem o reconhecimento oficial da parte da Cúria, eles se reuniam na casa do Juiz, nas nove noites em que antecediam o dia sete de outubro, para rezar  as “Novenas” e cultuar o Rosário.  Acreditamos que não era celebrado nenhum ato litúrgico, nem era permitido sair em procissão pela cidade, já que não havia o reconhecimento oficial da irmandade por parte  da  Igreja, nem tampouco o apoio dos vigários que por ali passaram. Mas, certamente o grupo de devotos se deslocava em romaria de um a outro ponto e, por ser um povo bastante festivo, realizava algum tipo de comemoração.

A Casa do Rosário foi reformada pela Confraria, com dinheiro esmolado por seus devotos, nos sítios e vizinhanças da cidade de Pombal, ao longo do tempo, passando de uma simples casa de taipa para a hoje majestosa casa alicerçada em tijolo batido.

Não temos dúvidas que a casa pertence à Confraria e não a Igreja e, se for verdade que já venderam a de número 232, se cometeu crime de apropriação indébita e, mais do que isso, crime contra o patrimônio histórico e cultural da cidade de Pombal.

Os reis e Juízes da irmandade alem dos padres como Monsenhor Oriel Fernandes, Padre Solom de França entre outros, sabiam que a casa pertence  Irmandade.

Na reunião do dia 21 de agosto de 1983, por exemplo, foi registrada em ata a preocupação do Juiz Antônio Felismino com a manutenção da casa:

“... falou também o juiz Antonio Felismino que a chave da casa do rosário seja entregue a ele para que seja feito alguns melhoramento na mesma, pois a casa estar muito deteriorada...”

 Na ata da reunião de 20 de maio de 1984 o juiz Antônio Felismino de Sousa volta a fazer cobrança a mesa em ralação a casa do rosário:

  “... O Juiz queria saber quem era que mandava na Igreja por que ninguém combinava com ele sobre o rosário de nossa senhora do Rosário, que não vive no pescoço da santa e também sobre a casa do rosário que em vez de morar um irmão  do Rosário mora um estranho que não sabe o que é a irmandade  do rosário

 Hoje, quem ocupa a casa do Rosário, já há 30 anos, é a Rainha perpetua Rosa Batista,  que tem plena consciência  que a casa é de propriedade  a Irmandade.

Portanto, não restam duvidas que a Casa do Rosário pertença à Irmandade e não a Igreja e, como já fez a Irmandade dos Negros do Rosário de Caicó, que transformou a casa do Rosário na galeria “Rei Pedro Mariano dos Santos”, para contar em imagens a história do grupo, a Casa do Rosário de Pombal, que é um patrimônio da Irmandade, precisa ser transformada em um memorial, onde possamos acessar sem dificuldades, os documentos históricos da Confraria da Irmandade dos Negros do Rosário e que a adoração e a procissão do Rosário jamais vai poder ser deslocada para outro lugar, como é desejo de uns poucos.

*Extraído do Jornal “Alto Sertão” pág 11 Edição de julho/2014.