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HEXA: UM SONHO ADIADO.

Francisco Vieira
Francisco Vieira*

          De forma trágica, a conquista do Hexa pelo Brasil foi novamente adiada. Assim, a apaixonada torcida brasileira, continuará aguardando pelo menos por mais quatro anos.
         Infeliz coincidência, mas o sonho de ser campeão do mundo em casa tornou-se outra vez uma frustração, um pesadelo, para o país do futebol. Se não bastasse a perda do título para o Uruguai em 1.950,

temos a partir de agora que amargar a eliminação com a desastrosa goleada de 7 x 1, para a Alemanha, coisa nunca vista em toda história da Seleção Brasileira de Futebol.
         O expressivo placar favorável aos Germanos foi uma raridade. Em se tratando de Copa do Mundo, um resultado que pode ser considerado de acidente futebolístico, contudo, humilhante. Na verdade reflete a decadência do nosso futebol, hoje carente de talentos e qualidade.
         Nesta copa, nossa seleção, acostumada a grandes conquistas e exibições de gala, além de anfitriã, nada mais foi que mera coadjuvante de uma competição muito bem organizada. Com um time limitado e um futebol apático, mostrou-se sem criatividade e pouco ofensivo. Vencendo, sem convencer, suas exibições, seguidas de sofridas vitórias não serviram de estímulos ou sequer incitaram a mínima confiança do mais ingênuo torcedor. Torcíamos mais pelo espírito esportista e, sobretudo patriótico que nos levaram a esperar o melhor, mesmo desconfiando. Era acreditar, desacreditando.  
         O que vimos foi um massacre que poderia ter sido ainda maior, não fosse o respeito dos alemães ao passado de tantas glórias do escrete brasileiro. É o que suponho. Se de um lado uma Alemanha bem estruturada, experiente, consciente e bem definida, havia do outro um time perdido fazendo o jogo parecer mais uma zorra. Com todo respeito, parecia um time do interior, formado de última hora para jogar na cidade mais próxima. A seleção alemã, detentora de três títulos mundiais, esbanjando um futebol cadenciado, ignorava o adversário e chegava facilmente a nossa área, fazendo a jogada desejada e o gol quando queria. Tamanha era a facilidade que parecia estarem jogando sozinhos. Irreconhecível a postura da seleção brasileira.
         Sem dúvida, a pior partida do escrete brasileiro, foi algo de difícil explicação, se é que a tragédia pode ser explicada. Nem mesmo o conhecido azarão Mick Jagger, presente ao estádio, pode evitar tão horrenda fatalidade. Quão desagradável surpresa. Ouso até afirmar, que nem mesmo o mais incrédulo dos brasileiros ou o mais otimista dos alemães, seria capaz de imaginar tamanha ousadia.
         A propósito, o incidente tem para mim uma conotação especial, pois o que poderia ser meu presente de aniversário transformou-se num presente de grego, fardo que certamente hei de carregar anos a fio. Em que pese à união do grupo, o profissionalismo e a garra, a seleção esteve muito aquém de suas características. Não vimos o futebol arte, que encantou o mundo no passado, detentor de grandes conquistas.  Em momentos assim, bate uma saudade imensa de Pelé, Garrincha, Jairzinho, Rivelino, Sócrates, Falcão, Zico, Ronaldinho Gaúcho, Romário, Ronaldo – O Fenômeno - e muitos outros que ao longo da história deram ao Brasil cinco títulos mundiais e o destaque de ser o único país penta campeão do mundo.    
        A propósito, um cenário inusitado e desolador. Um momento ímpar que gostaria fosse único. O que poderia ser motivo de alegria transformou-se em tragédia e causa de chacota. O entusiasmo da torcida se transformara em lágrimas e murmúrios. O Hino Nacional cantado com garbo não mais ecoou, enquanto as bandeiras, antes desfraldadas, enxugavam as incontidas lágrimas de torcedores feridos, como que escondendo o rosto ante o fracasso e a decepção. Ao mesmo tempo crianças desejosas do primeiro título choravam incontinentes, assim como quem perde seu brinquedo de estimação. A Arena Mineirão, palco da tragédia se transformara num cenário de lamentações, reflexo do sentimento e frustração de 200 milhões de brasileiros que amam o futebol.
         Mesmo reconhecendo as qualidades de Felipão e em que pese enaltecer sua dignidade em assumir a culpa, é mais convincente dividi-la com todos, comissão técnica e jogadores, afinal de contas futebol é um esporte coletivo.
         Partindo da premissa de que aprendemos mais com os erros, espero que nos sirvam de lições. Que nesse aprendizado possamos reconhecer que nos faltam talentos e qualidade no futebol. Que não podemos viver do passado como museu, exaltando antigos ídolos, nem esperar muito de quem tem pouco ou quase nada para dar.
         Como consequência ficará a sensação de dor marcada no coração de cada brasileiro a evidência de que esta foi a pior seleção de todos os tempos formada no Brasil e a certeza de que os jogadores de 50, foram heróis, se comparados aos atuais. E, como se não bastasse, com mais uma derrota de 3 x 0 para a Holanda o Brasil faz sua melancólica despedida.  
          Contudo, que seja implantado um trabalho de reestruturação do futebol brasileiro a partir dos clubes e atletas. Que nossos jogadores, hoje de corpos tatuados, cabelos coloridos e brincos, valorizem mais a profissão que a imagem, visando resgatar a dignidade e a confiança perdidas.
         Todavia, como bom brasileiro e amante do futebol, continuarei torcedor fiel na esperança de que tudo mude para melhor e o sonhado Hexa torne-se em breve uma realidade.
         Viva o futebol brasileiro.
Pombal, 08 de julho de 2014.
* Professor e Escritor.
HEXA: UM SONHO ADIADO. HEXA: UM SONHO ADIADO. Reviewed by Clemildo Brunet on 7/13/2014 05:26:00 AM Rating: 5

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