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EMPREENDEDORES – Experiências passadas

Ignácio Tavares
Ignácio Tavares*

 Recebi com certa alegria a notícia que a minha terra está entre os municípios que mais empreendem no Estado da Paraíba. Pra ser mais preciso, Cajazeiras e Pombal são considerados os municípios que mais se destacam na abertura de novos negócios. Sem dúvida este é um bom momento que poderá resultar na retomada do desenvolvimento local.
 É verdade
que n’outras ocasiões empreendedores locais tentaram explorar determinados setores produtivos a fim de produzir mercadorias com boas perspectivas de mercado. A primeira tentativa aconteceu no fim dos anos setenta ao início da década seguinte cujo foco foi a atividade doceira. Muita gente investiu nesse setor na esperança de auferir lucros extraordinários, por conseguinte aumentar o patrimônio familiar
 Realmente, naquela época, no início do ciclo havia espaço para todos, mas com o passar do tempo as restrições de mercado, bem como a exacerbação do processo inflacionário obrigou a maior parte dos investidores a encerrar suas atividades. Foi a partir daí que os nossos empreendedores começaram a entender quão é complexo lidar com atividades produtivas em meio a um ambiente de incertezas.
 Também pudera, na ocasião a possibilidade de captação recursos pra investimentos, bem como capital de giro, não era tão fácil o quanto é hoje. Por isso, alguns candidatos a empresários se desfizeram dos seus bens a fim de fazer recursos para poder ingressar na nova atividade. Não sei se conseguiram reaver o valor do patrimônio desfeito porquanto o mercado consumidor favoreceu a atividade doceira.
  Com efeito, em razão das incertezas, muitos foram a falência, principalmente os empresários mais descapitalizados. Com o passar do tempo, das vinte uma fabricas de doce existentes na cidade restaram apenas duas, por sinal as mais capitalizadas. Este foi o fim de um ciclo de empreendimentos tocados por pessoas que acreditaram no sucesso de uma atividade produtiva de alto risco.
 Salvo engano, nos anos noventa desponta um novo ciclo focalizado na atividade pesqueira. Um banco oficial na cidade disponibilizou recursos, a juros generosos, para quem quisesse investir na criação e comercialização de peixes. Cerca de 32 proprietários, habilitaram-se a ingressar na atividade em questão. Parecia ser uma excelente oportunidade para ganhar dinheiro com um produto que não tinha problemas de mercado.
 Com efeito, essa nova aventura empreendedora não foi a frente, por conseguinte todos que ingressaram na atividade se viram endividados do dia pra noite. Havia muitas pedras no caminho que impediram o sucesso, entre as quais a falta de qualificação para lidar com a piscicultura.
 Os produtores não estavam preparados para o exercício da prática e manejo de uma atividade até então desconhecida. As metas de produção não foram atingidas. Digo, o ponto ótimo de produção que seria de dez toneladas/hectare ano. Esta produção, se atingida, era suficiente para cobrir os custo de produção e gerar lucros e ainda assegurar o pagamento dos investimentos. Seja, ninguém conseguiu sequer atingir dez por cento dessa meta.
  Desse modo, o que seria uma excelente oportunidade para ganhar dinheiro, como produtor de peixes, transformou-se numa tremenda dor de cabeça, principalmente, na hora de pagar as primeiras parcelas dos empréstimos realizados junto ao banco.
 Na sequência houve outra oportunidade para incentivar investimentos com o objetivo de explorar a criação de gado leiteiro. Tudo bem, mas, da mesma forma que as situações anteriores, os resultados não atingiram as expectativas esperadas.
  Dada a quantidade dos inscritos e beneficiados com recursos disponibilizados, houve uma certa dificuldade para órgãos envolvidos pôr em prática ações de acompanhamento e avaliação permanente para evitar desvios dos verdadeiros objetivos do projeto. O resto da história todos nós sabemos.
 Feitas essas considerações sobre algumas tentativas empreendedoras não bem sucedidos entremos na situação atual. Ao contrário do que acontecera anteriormente, quando as pessoas tinham dificuldades para tocar seus negócios por falta de apoio público, hoje existe um programa especifico amparado na Lei Geral de Micro e Pequenas Empresas, cujo objetivo é incentivar, orientar e financiar projetos de pequenos e médios empreendedores.
 Ótimo, com essa iniciativa de apoio governamental torna-se mais fácil o acesso a recursos financeiros, bem como a apoio técnico, para quem queira se estabelecer em determinadas atividades voltadas para os setores de serviços, agroindústria, indústria, educação, saúde, entre outros.
 Até aí tudo muito bem, mas é importante salientar que a etapa seguinte, pós instalação dos empreendimentos, é a fase mais importante para que os negócios sigam em frente, sem riscos de alguém encerrar suas atividades por absoluta falta de assistência técnica, entre outros serviços de assessoria de caráter gerencial.
 É verdade a maioria dos empreendimentos têm o olhar voltada para o mercado local. Acontece que o mercado doméstico tem um tamanho definido que por sua vez limita o crescimento do empreendimento. Neste caso para que os negócios tomem a direção de uma linha de expansão, faz-se necessário buscar novos mercados em áreas próximas ou mesmos distantes.
 Em meio a tudo isso surge uma pergunta: o município está preparado para atender os serviços básicos de apoio técnico, gerencial, entre outros, a esses novos empreendedores? Ah sim, o Sebrae poderá atender em parte as demandas em questão, mas sozinho não pode atender a todos porque os recursos humanos disponíveis são limitados, não é?
 Neste caso, cabe ao município através da sua secretaria de indústria e comercio contratar e disponibilizar técnicos para que juntamente como o Sebrae possa assegurar os serviços indispensáveis a sobrevivência dos novos empreendimentos que estão a surgir. Caso contrário será mais um ciclo de empreendimentos a passar, assim como os demais passaram e deixaram pra trás um rastro de dívidas a pagar.
 Não é isso que desejamos, mas compete-nos fazer as advertências necessárias para que os esforços e sonhos de pessoas bem intencionadas não se transformem em pesadelos. Se as coisas não derem certas é ruim para os investidores, muito pior será para a economia do município, que há muito tempo está a caminhar em marcha lenta, quase parando, porquanto os municípios vizinhos a cada ano que passa robustecem cada vez mais suas respectivas economias.
João Pessoa,  02 de Agosto de 2014
*Economista e Escritor.
EMPREENDEDORES – Experiências passadas EMPREENDEDORES – Experiências passadas Reviewed by Clemildo Brunet on 8/02/2014 09:38:00 AM Rating: 5

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