banner

Marina representa choque aos interesses da república dos cartéis

Genival Torres Dantas
Genival Torres Dantas*

             Em alguns momentos da nossa história, fomos sempre atingidos com fatos trágicos trazendo resultados de mudanças na política administrativa. Nos últimos sessenta anos tivemos dois fatos que justificam esse pensamento. O tiro fatal no peito, detonado pelo próprio Presidente da República, Getúlio Dornelles Vargas, (24/08/1954), palácio do catete, Rio de Janeiro, na época Capital Federal. Ele que se sentia acuado pelos inimigos do seu governo, ao ponto de deixar uma carta testamento, só levado ao conhecimento público em 1967, ato forçado por Carlos Lacerda, antigo desafeto do presidente Vargas, e
apresentada à imprensa por Alzira Vargas do Amaral Peixoto (filha). Na carta eram apresentados os motivos pelos quais o presidente Vargas deu fim a sua própria vida, em poucas palavras, ele tinha um quadro de melancolia, dentro do pensamento exposta consta: ...(Se a simples renúncia ao posto a que fui levado pelo sufrágio do povo me permitisse viver esquecido e tranquilo no chão da pátria, de bom grado renunciaria. Mas tal renúncia daria apenas ensejo para, com mais fúria, perseguirem-me e humilharem-me. Querem destruir-me a qualquer preço. Tornei-me perigoso aos poderosos do dia e às castas privilegiadas).
         Em outra situação, numa época posterior, na política brasileira, tivemos a renúncia (25/08/1961), do Presidente da República, Jânio da Silva Quadros, alegando forças ocultas, nunca reveladas, descrevia em trecho da carta renúncia o seguinte: (... Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando, nesse sonho, a corrupção, a mentira e a covardia que subordinam os interesses gerais aos apetites e às ambições de grupos ou de indivíduos, inclusive do exterior. Sinto-me, porém, esmagado. Forças terríveis levantam-se contra mim e me intrigam ou infamam, até com a desculpa de colaboração...).
         Duas situações extremas de dois presidentes populistas e de espíritos ditatoriais, tivemos desfechos de tragédias humanas, com requinte de estremo apego ao poder, um “preferindo sair da vida para entrar na história”, o outro achando que o seu gesto faria o povo exigir sua volta triunfal ao poder, esquecendo esse, o povo tem limite de tolerância nos seus mandatários, e a história nos conta que sempre prevaleceu e prevalecerá à verdade sobre a mentira, muita embora, dezenas de verdades são sepultadas juntas com seus protagonistas, ficando a incógnita da história contada, com versões distintas, de adversários e admiradores.
             Depois de sessenta e três anos, depois do fato primeiro, o Brasil assiste uma eleição diferente de muitas que já tivemos em nosso país, logo após a instalação da República, várias fases históricas, conflitos nacionais e regionais, instalação de uma ditadura civil e outra militar, depois da prevalência da “política do café com leite”, quando havia alternância do poder entre os Estados de São Paulo e Minas Gerais. O surgimento do sistema neoliberalismo, desenvolvida a partir do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), sequenciado pela esquerda extremista, administrada pelo PT (Partido dos Trabalhadores). Cada qual com seus valores e líderes absolutos, ficando com os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, respectivamente PSDB/PT, seus maiores representantes, nesses novos tempos.
             De repente, mais do que de repente, como escreveu um dia o poeta maior, Vinícius de Morais, na corrida presidencial, em 13 último, o Brasil é sacudido pela notícia da morte do concorrente à presidência da República, Eduardo Henrique Accioly Campos, PSB (Partido Socialista Brasileiro), um jovem líder que vinha como alternativa das correntes políticas que estão no poder nos últimos 20 anos. Objetivando uma mudança radical na vida pública, Eduardo Campos, inclusive, trazendo ao seu grupo, ocupando a vaga de candidata à vice-presidente do seu partido, Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima, um dos destaques da última campanha presidencial em 2010, ficando em 3° lugar, com quase 20% dos votos úteis, uma das pessoas de reputação indiscutível, pelo seu comportamento ético, que vem mantendo, em vários cargos por onde passou, com intransigente personalidade, sem medo ou receio em defesa do seu ponto de vista, que foi sempre voltado ao bem comum, em detrimento ao individualismo.
         Um exemplo do seu posicionamento ético foi sua posição ao fato da existência na internet, de um vídeo, certamente adulterado, quando o ex-presidente Lula, apoiando candidata Marina, ao senado, pelo Estado de Goiás, malversadores se aproveitando das possibilidades técnicas adultera peça, criando mal estar entre os partidos adversários, levando o assunto, tanto pelo PT, como pelo PSB, nesse caso, a pedido da própria Marina, que levantassem os dados e responsáveis por tal descalabro, e que esses fossem condenados por tamanha irresponsabilidade.
          Na ausência do seu candidato, o PSB aprova o nome de Marina Silva para continuar com o projeto político do partido e aliados, elegendo como seu companheiro de chapa, na vice-presidência, o Deputado Federal Luiz Roberto de Albuquerque (Beto Albuquerque-PSB/RS), na luta pela presidência da República, inicialmente com preocupação por parte de alguns membros do partido e aliados, por a Marina não ser a imagem do próprio partido, mas considerada uma acomodação feita para que ela continuasse elegível nessas eleições, apenas por uma questão temporária, pois, certamente, era dará continuidade na formação do seu próprio partido que é a Rede Sustentabilidade.
       Não bastassem os problemas internos, superados com a resposta das pesquisas recentes, quando a candidata conseguiu sair dos 9%, da intenção de votos, marca final do candidato original, Eduardo Campos, e atingir 29%, derrubando o segundo candidato, Aécio Neves (PSDB), para o 3° lugar, com 19% dos votos, puxando para baixo, a candidata situacionista, do PT, Dilma Rousseff, mesmo em 1° lugar, ela perdeu pontos, ficando com 34%, se as eleições fossem hoje, com provocação automática e forçosa, do segundo turno.
       O pior para os dois candidatos, dois fatos, que até então mantinha a condição de favoritos para a segunda fase; é a ausência no próxima fase do Aécio Neves (PSDB), numa disputa direta entre Dilma (PT), Marina (PSB), quebrando a polarização entre os dois partidos postulantes, ficando a Marina (PSB), como favorita, na disputa direta, com 45%, contra 39% da concorrente Dilma (PT).
         O que mais tem assustado os dois partidos, PSDB/PT, na disputa, é o índice da pequena rejeição da Marina, que tem apenas 10%, entre o eleitorado, enquanto a Dilma (PT), e Aécio (PSDB), representam 36% e 18%, respectivamente. Esse quadro está efetivamente tirando o sono dos candidatos aqui citados, avaliados o atual momento. Os demais candidatos continuam com números bem menores, não representando nenhuma ameaça aos três primeiros colocados.
            Os discursos estão sendo refeitos, Marina terá que suportar a carga negativa que virá dos seus oponentes, na tentativa de desfazer a imagem de Madre Tereza de Calcutá, que a Marina transmite junto ao eleitor brasileiro, além da fama de não participar de nepotismos, corrupção, ou qualquer coisa que venha macular seu nome, dentro e fora da política. Qualquer falha que a Marina tenha cometido em sua longa carreira política, ela como qualquer ser humano é passivo de falha, fatalmente será traduzido como erro grave, sem chance de perdão; na visão dos seus concorrentes, sua vida, certamente, será investigada em busca de alguma coisa que possa denigrir sua imagem de política, mulher e mãe, nada será perdoado. Principalmente agora, quando os números refeitos e apresentados, do PIB da nossa economia, são de deixar pasmo qualquer brasileiro desavisado, o Brasil está em deflação, com 02% no primeiro trimestre e 06% no segundo. Deflação técnica é para quem não quer assumir incompetência, é o caso do atual governo.
          Para compensar o quadro econômico negativo, a capacidade política e administrativa da Marina, com certeza, será malversada, pela escória política que há dentro dos partidos, que não representa a maioria, mas enoja a classe nesses momentos, denigrindo sua imagem junto ao eleitorado, na tentativa de conseguir inibir o crescimento da candidatura do PSB.
        Nesse caso, o grande erro, inicial, foi o inesperado apoio que Marina teve, assim que assumiu a condição de candidata pelo PSB; inicialmente achava-se que isso era apenas uma onda passageira e sem importância nenhuma, por conta do emocional do eleitorado, pela morte de Eduardo Campos; mas, se esses números forem mantidos ou tiver um crescimento adicional nas próximas pesquisas, não sei se a Marina será forte o suficiente para suportar a carga negativa dos seus adversários, ela que se apresenta como uma mulher com corpo frágil, mas, que dizem de uma alma forte e insuperável, nesse caso, será o primeiro teste de resistência, física e psicológica, que ela terá se chegar à Presidência da República. Isso não é palavrório, é um fato.
 *Poeta e escritor

Marina representa choque aos interesses da república dos cartéis Marina representa choque aos interesses da república dos cartéis Reviewed by Clemildo Brunet on 8/30/2014 01:35:00 PM Rating: 5

Nenhum comentário

Recent Posts

Fashion