O eu
Onaldo Queiroga |
Onaldo
Queiroga*
O eu é um universo sem fronteiras, de infinitos
segredos, mistérios, muros, angustias, aflições, egoísmos, invejas, sonhos,
amizade e amor.
Através
do eu se viaja em pensamentos insondáveis, que às vezes se revelam em atos e
em outras ocasiões em omissões. Quando o medo habita o eu, o fracasso torna-se
iminente, afastando a coragem. Quando os muros habitam o eu, o perdão é
relegado, o coração fica frágil, sem espaço para a solidariedade. Quando a
tentação se faz presente, o eu se enche de pecados, que se multiplicam, com
traições e corrupções que se tornam visíveis. Quando a inveja se faz presente,
os fardos se elevam de peso. Quantos pântanos e desertos, encontros e
desencontros, esquinas da escuridão e da fé, habitam o eu? Nele residem também
os mistérios dos sonhos, das visões e das sombras. Já maldade impõe o
sofrimento. No eu ainda encontramos o pavilhão do egoísmo, além de muitos
submundos e recantos da marginalidade.
O
eu às vezes, infelizmente, exterioriza-se com o olhar gordo de latrocidas,
corruptos e déspotas. Quando assume esse instinto, sem dó e pena, trucida,
violenta e rouba outras existências. Revela-se monstro, que enjaulado ou
deitado numa tumba, castiga o corpo e penitencia o espírito. O universo do eu
possui a também uma avenida intitulada de receio, onde se caminha com um passo para
frente e dois para trás. É a desconfiança que multiplica a insegurança e afasta
a tranquilidade. É o temor que aprisiona o bem e deixa livre os fora da lei.
Mas
na terra do eu também existe um rio chamado perseverança, que rompe
desfiladeiros e nos braços da correnteza vence léguas e mais léguas, para no
final abraçar o mar do amor. No eu os segredos são tesouros guardados a sete
chaves, alguns provocam a barragem das lágrimas, umas tristes e outras filhas
da alegria. No reino do eu, o amor é o rei. Com suas regras administra o
existir, ora em consonância com a razão, ora atropelando a normalidade. O amor
é quem comanda. Quando ausente, o eu fica sem norte. Quando presente,
correspondido ou não, ele se ocupa, luta e sonha. Mas todo reinado tem sua
rainha. No do eu, ela se chama solidariedade, dama que equilibra o âmago e
promove a beleza divina no existir, aproximando o eu de Deus, no efetivo
espontâneo exercício das palavras e das ações em favor dos nossos semelhantes.
O
eu é poético, em soneto externa sua visão diferenciada sobre o existir. O
material pouco importa, pois poeta é um viajante da nave ilusão, de voos pelos
sonhos inimagináveis. Filho da lua e do violão. O eu tem enigmas, tantos
quantos guardam as profundezas oceânicas. O que seria do homem sem o eu?
*Escritor e Juiz de
Direito da 5ª Vara Cível de João Pessoa - PB onaldoqueiroga@oi.com.br
O eu
Reviewed by Clemildo Brunet
on
8/23/2014 06:44:00 PM
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