Nem tudo que é direito me convém
Genival Torres Dantas |
Genival Torres Dantas*
Quando o
então senador por São Paulo, Fernando Henrique Cardoso (PMDB), sai candidato
para a prefeitura de São Paulo (1985), ele que fora um dos articuladores das
Diretas-Já, estava praticamente com sua eleição assegurada, até o momento de
participar do último debate na televisão, numa vacilada, perguntado pelo
jornalista Boris Casoy se ele acreditava em Deus, a resposta não foi objetiva,
ficando nas entrelinhas a possibilidade dele ser um ateu. Esse fato, mesmo
desmentido por ele, de nunca ter sido ateu, custou ao futuro presidente da
República a eleição e
o rótulo de um homem sem Deus.
Para
um país laico, preponderantemente católico, essa situação não era nem um pouco
conveniente a um político estreante no Congresso Nacional, pois, ele foi sem
dúvida, um grande articulador que começara a ganhar espaço no meio político e
na mídia, pela sua desenvoltura no desempenho do cargo no legislativo, além do
intelectual e emérito professor universitário reconhecido no meio acadêmico.
Na
época, ocorreu ainda, através de boatos, que ele, candidato, na véspera da
eleição, teria tirado foto sentado à mesa do prefeito da Capital paulista, para
um jornal paulistano, antecipando-se aos resultados das urnas, tamanha era a
certeza na sua vitória, cuja expectativa não foi confirmada para decepção dos
seus correligionários e ele próprio.
O
atual momento na política brasileira me fez lembrar esse episódio na vida de um
homem reconhecidamente, um das maiores inteligência que o Brasil tem, vencedor
na vida pública, apesar dos percalços, com uma folha de serviços prestados ao
Brasil e elogiados até pela comunidade internacional, pela sua hombridade e
respeitabilidade, nem por isso, conseguiu eleger seu sucessor.
Vendo
a dramática situação em que se encontra a Marina Silva (PSB), candidata a
presidência da República, quando sua preferencia junto ao eleitorado vem
definhando a cada levantamento feito pelos órgãos competentes, realmente,
órgãos de grande credibilidade no mercado. Para piorar a situação, a candidata
oficial, Dilma Rousseff (PT), vem num crescente sistemático, situação inversa
da Marina Silva, resultando numa diferença, acentuando-se no primeiro turno e
já observado um favorecimento da candidata oficial, no segundo turno, mesmo
havendo um empate técnico. Há ainda outro gravame, o candidato pelo PSDB, Aécio
Neves, que vinha se constituindo numa terceira força, mas, sem mostrar nenhum
perigo às candidatas que veem liderando nos levantamentos feitos; agora, mesmo
em terceiro lugar, vem começando a incomodar, pela aproximação ao segundo lugar
que é da Marina Silva.
Essa
situação pode permanecer nesse patamar negativo para a candidata do PSB, caso
ela com sua equipe de marketing não mude o discurso de campanha e procure levar
uma mensagem que possa ser absorvida pelo grande público representado pelas
massas mais carentes e que representam o grande contingente de eleitores
voltados para os serviços prestados pelo PT, na área social, único serviço
digno de elogios nesse governo, e, por receio de perder direitos adquiridos,
leia-se Bolsa Família, dificilmente vai mudar seu voto a não ser por outro
programa de maior consistência, que vislumbre benefícios de maior abrangência,
em termos de recursos, mas, não sejam apenas meras promessas eleitoreiras e
dignas de credibilidade.
Qual
a relação do atual momento da candidata Marina Silva com o caso do Fernando
Henrique Cardoso, fato ocorrido vinte cinco anos atrás. Na época seu
concorrente e eleito, Jânio da Silva Quadros, com sua equipe de apoio, exploraram
sistematicamente o deslize de comunicação, transformando-o num verdadeiro
ruído, qualificando-o como uma verdadeira tragédia para um candidato com
pretensões de administrar a maior cidade do nosso país, representando um
orçamento maior que muitos Estados da Federação.
Candidatos
opositores a Marina Silva, fizeram um trincheira mostrando o lado inexperiente
da postulante, sem ter no seu currículo nenhuma atuação no executivo, exceção à
ocupação do Ministério do Meio Ambiente, no governo Lula, mesmo assim, marcado
por polêmicos na liberação de licenças quando se tratava das nossas florestas,
sua fauna e flora, uma postura de muitas polêmicas e controvérsias.
O candidato
do PSDB, Aécio Neves, foi mais impiedoso e cruel, ao tentar desfazer a imagem
humanitária solidificada nos seus gestos e atos em defesa de um Brasil com
crescimento sustentado, defendo nossas riquezas naturais, mais ainda, mostrando
sua parcimônia para com seu antigo partido, PT, ao ser moroso na renúncia ao
Ministério, depois de comprovada a existência dentro do governo que ela compartilhava
com as falcatruas e descalabros de membros da ala nociva ao erário público e se
transformado no famoso caso do mensalão Petista.
Os números do
último levantamento transformaram em frenesi os ambientes dos diretórios
centrais, tanto do PT, já assegurada sua participação no segundo turno, como do
PSDB que ainda luta diretamente com o PSB, para continuar no páreo. Essa semana
que antecedo a eleição do primeiro turno vai ser de muita lama jogada no
ventilador, pois, a ética foi transformada em coisa do passado, sem nenhum
valor no conceito de muitos da nova geração, perderam o respeito pelo
adversário e o ser humano, trata-se de pessoa, una, um ser humano, nem isso é
relevado, é o salve-se quem puder. Nesse caso há a possibilidade dos candidatos
raivosos, em busca do seu sucesso a qualquer preço, nem que seja pisando nos
outros, ou ferindo a própria dignidade dos seus opositores, começarem a patinar
na própria lama que jogam nos outros postulantes.
Friamente, o
Brasil tende repetir seus erros, continuar no mesmo, e os brasileiros tão
necessitados de uma nova roupagem política e administrativa, com mentes
arejadas, longe dos interesses pessoais, pessoas despidas da insana cobiça ao
alheio, gente de propósitos coletivos e ações de caráter moralizadoras, sem
apego ao poder, ele, o poder, é produto de ações meritórias e patrióticas,
nunca foi resultado de ações voltadas para projetos políticos de qualquer
natureza, pessoas ou partidos.
Infelizmente,
não aprendemos nada com as lições das ditaduras Getulista, Militar e grande ala
Petista, lamentavelmente, continuou eleitores de cabresto, antes os coronéis, das
balas, cassetetes e fardas, agora dos falsos fariseus que mantém o voto do
eleitor humilde e necessitado, pela troca da dor da fome e o medo de perder o
direito constitucional que é da sobrevivência. Não é justo que um país com as
nossas riquezas, nossa posição no cenário econômico internacional, ainda
povoado por um povo nobre, fique a mercê de pessoas, sem nenhuma qualificação
moral, fazendo da miséria seu instrumento de poder, mantendo cativo, pela
extrema premência de recursos, uma camada da sociedade sem nenhum
esclarecimento, alheio ao seu exterior, mantido na escuridão das mentiras, sem
direito a ver a verdade que há na luz à sua distancia, para manter a luxúria de
grupos excludentes, que vivem para si, na soberba e no glamour das riquezas
materiais, adquiridas pela subtração, portanto, sem nenhum mérito. Isso é um
fato.
*Escritor e Poeta
Nem tudo que é direito me convém
Reviewed by Clemildo Brunet
on
9/29/2014 05:58:00 AM
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