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Marcas que o tempo não apagará

Genival Torres Dantas
Genival Torres Dantas*

Negar que o hoje Brasil não é um país dividido, politicamente, é negar o que é inegável, é querer esconder a verdade dos fatos ocorridos no transcurso das últimas eleições e as sequelas que virão num futuro próximo, em decorrência da luta desenfreada, realizada por oponentes exaltados nas suas ânsias e desejosas atitudes em busca do sucesso na campanha encerrada, resultados anunciados e
respeitados, como se deve ser numa Democracia, sem terceiro ou quarto turno embasados em apelos judiciais.
Desde junho de 2013 havia um inconformismo pairado no ar, demonstrado nos gritos de ruas, nas manifestações de jovens, adultos e idosos, a buscarem respostas satisfatórias às nossas dificuldades na utilização de serviços públicos, tais como os de saúde, segurança e mobilidade urbana, apenas esses três dizem muito bem o tamanho da insatisfação popular, pela constância nas suas utilizações e a observante precariedade quando necessitado.

Com a chegada das eleições havia um sonho acalentando por boa parte da população, representado por 48.36% de uma gente sonhadora e obcecadamente buscava acalantar o sonho de esperança nas mudanças que viriam com a troca das políticas administrativas representadas numa nova corrente, depois de estafantes 12 anos de um mesmo ideologismo pragmático, dentro da filosofia do partido situacionista e que agora permanecerá por mais quatro anos que teremos pela frente. Não sou partidário da maioria, 51.64%, mas, seguidor que sou da Democracia plena e absoluta, e, respeitando, como não podia ser diferente, os resultados das urnas, resta-me fazer uma leitura daquilo que nos espera nos próximos anos, até o novo embate político que ocorrerá na esfera federal, não podemos negar que para os Democratas, já estamos em contagem regressiva.
As eleições de 2014 foram marcadas por temas populares e desejos de um povo impávido na busca de direitos e conquistas sociais sempre prometidos e lentamente sendo conquistados. A luta pela permanência no poder e pela conquista do mesmo transformou os debates numa das mais tristes páginas da história política nacional, com agressões a moral dos postulantes, insultos e desprezo pelo ser humano oponente, tangenciando a falta absoluta de cordialidade e educação nas horas mais calorosas dos debates; foram extrapolados todos os limites do bom senso e das boas maneiras.

Com o resultado das urnas voltou à preocupação naqueles, assim como eu, que lutaram por mudanças na condução e moralidade da política nacional. Na economia, mesmo com a troca do ministro da fazenda do Brasil, Guido Mantega, anunciada durante a campanha, há um sentimento que os fundamentos econômicos não devem mudar, portanto, ocorrerá uma sequência de práticas já superadas para o momento de descontrole que temos, com as mesmices desonerações de impostos, privilegiando alguns setores, sem a menor necessidade de afagos. As contas públicas, com o uso e manipulação de dados, conhecida como maquiagem, ou contabilidade criativa, já não se impõe com tanta respeitabilidade, até os anos 2010. O nível de confiança do consumidor hoje é comparado aos níveis de 2009, quando atingimos o ápice da crise na economia mundial. Segundo o FMI temos uma dívida bruta, do governo, de dois terços do PIB, tudo que o país produz; vamos crescer apenas 0,3%, este ano, enquanto a média regional será de 2%; países como os EUA, em crise até pouco tempo, o crescimento previsto é de 2%, países de outros continentes continuam a crescer em ritmos maiores.

 Um dos grandes gargalos que temos é nossa baixa competitividade internacional, dentre 60 países a nossa classificação que era de 51ºcaimos para a 54ª, exatamente em 2014. Temos outros agravantes, o custo Brasil e o protecionismo com efeito devastador, estão nos deixando isolados dos grandes conglomerados globais produtivos; a China já não compra as nossas commodities como nos anos 2000, nosso grande comprador mundial! Os EUA com sua política de juro zero já ensaia a venda dos seus títulos com risco zero, fazendo despencar nossa moeda; há um pessimismo generalizado no mercado, temos juros altos, crescimento próximo à zero, e inflação superando as metas pré-estabelecidas, isso deixa nossa economia capenga.

Na educação ocorre um quadro crítico, estamos sendo rebaixados na nossa classificação internacional, não soubemos evoluir, com investimentos pífios, há uma expectativa nos royalties vindos do pre sal, recursos ainda a se efetivarem, mas que alimenta a mente dos sonháticos que desprezaram, o nosso Álcool uma fonte de energia renovável e menos poluente que o petróleo, um produto finito que o mundo já condena e começa a buscar alternativas mais viáveis na sua utilização, com menor risco ao planeta e seus ocupantes.
A saúde continua insipiente e ineficiente, não tratando nossos doentes dentro dos padrões mais primários que as necessidades e as demandas exigem, transformando nosso sistema hospitalar público um dos mais negligentes e indesejáveis por uma população aflita e desorientada.
Na segurança pública há um verdadeiro ceticismo a seu respeito, as políticas, para o setor, anunciadas pelo governo central, durante a campanha e logo após as eleições, se colocadas em prática certamente haverá uma melhora sensível às suas execuções e resultados finais, entretanto, até que seja tirado do papel não passará de mais um engodo apresentado ainda no calor das urnas (26), enquanto isso não ocorra, verdadeiramente, colocarei o tema sob malhete.

 No que se refere à mobilidade urbana, principalmente nas médias e grandes cidades, além, evidentemente, das Capitais, é um capítulo dos mais interessantes que requer uma atenção muito especial, pela sua importância e capilaridade na vida das grandes massas que ajudam o país a cumprir suas metas e objetivos traçados. É um setor que os Governos, Federal, Estaduais e Municipais, têm tratado com requintes de displicência, quando não, pouco caso; há brasileiros, e muitos são eles, vivendo sacrificados nas suas idas e vindas, na locomoção ao trabalho, aos estudos, e mesmo às suas atividades de recreação são comprometidas pela inercia e perversa mobilidade dos transportes coletivos, funcionando com comportamento do século passando, atendendo um país emergente, em busca de um lugar melhor, tentando oferecer a sua população algo mais comprometido com melhor qualidade de vida, isso na mente e no desejo do seu povo. É inadmissível que tenhamos um transporte urbano que faça do brasileiro um prisioneiro em espaços com lotações excessivas ao ponto de alguns indivíduos desclassificados, para conviver coletivamente, procurarem molestar, desonrar e agredir com gestos e atos, mulheres que trabalham na busca de um futuro melhor para sua família, é de se acreditar, essa gente não merece o serviço precário e desumano oferecido pelos governos indolentes.

Pelas questões aqui expostas, na minha avaliação, o Brasil saiu perdendo nos resultados que tivemos nas eleições passadas. Não acredito numa nova postura de governo vinda do atual partido governista, não podemos exigir mudanças de algo que vem acumulando erros e equívocos na sequencia de três mandatos consecutivos, notadamente compostos por corruptos e amantes pervertidos do erário público, cujo comportamento pernicioso foi motivo de condenação pelo STF a uma verdadeira quadrilha ocupante de cargos públicos e gozava de conceito no mundo político nacional. Gostaria muito de me decepcionar nos meus prognósticos, para o sucesso do nosso povo, entretanto, não acredito nessa ocorrência, faço apenas uma avaliação levando em consideração tudo àquilo que testemunhei nos últimos 60 anos, da prática desconexa do discurso fácil, e dos atos inconsequentes de políticos descomprometidos com a nação.
Com as modificações ocorridas no legislativo com adição de outros partidos menores, Congresso Nacional, a consequente mudança numérica na base de apoio ao governo, teremos um quadriênio a partir de 2015 de muitas dificuldades para a presidente reeleita, Dilma Rousseff, tendo que governar com uma oposição mais consistente moral e numericamente. A renovação no legislativo de 40% dos seus membros, já começa a surtir efeito com a decisão do PMDB, principal partido de apoio ao governo, depois do próprio partido da presidente, quando na data de ontem (28), impôs uma derrota importante ao governo, na Câmara Federal, para a sobrevivência da Democracia brasileira, mostrando o peso que ele terá daqui para frente e muito será exigido para aprovar medidas não Democráticas como era o projeto que tratava da Política Nacional de Participação Popular, cuja truculência, prepotência e desrespeito com os demais poderes, tentando limitar as ações do legislativo e ampliando os poderes do executivo.

Nesse caso específico, estava implícito o começo da mordaça que querem impor a imprensa nacional e todo meio de comunicação, livre e independente como sempre foi e será numa Democracia plena. Esse fato é primeiro de muitos que virão na tentativa de impor um novo regime ditatorial, usando-se a Democracia como escude e instrumento de introdução, nessa hora, lembro-me do já saudoso, que muita falta fará ao Brasil Democrático, Eduardo Campos, quando disse: “Não vamos desistir do Brasil”, acrescento LIVRE, INDEPENDENTE E DEMOCRÁTICO. Uma certeza assimilem os ditadores disfarçados de Democratas, parafraseando Ulisses Guimarães, outro saudoso Democrata: “Não vamos desistir do Brasil”, acrescento mais uma vez, LIVRE, INDEPENDENTE E DEMOCRÁTICO. Isso é um fato.
*Escritor e Poeta

Marcas que o tempo não apagará Marcas que o tempo não apagará Reviewed by Clemildo Brunet on 10/30/2014 06:47:00 AM Rating: 5

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