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O quebra mesa na Festa do Rosário

 
Ricardo Ramalho
Ricardo Ramalho*


       Já formado e empregado fui à Festa do Rosário de 1975, em Pombal, minha terra natal, no sertão paraibano. Cheguei atrasado, na noite da sexta feira, e não mais encontrei ninguém da turma em casa. Estavam nas barracas da “festa”, naquele largo entre a Praça do Centenário e a Igreja do Rosário. Desci da casa de Zeca Peba, a pé, até a Rua Nova. 
Entre essa e a Praça Getúlio Vargas, pairava o Parque de Diversões Maia, imponente, com seus carrosséis, rodas gigantes, canoas e outros brinquedos e
jogos, além da barraca de Monja, a mulher que se transformava em macaco, graças a um jogo de espelhos que operava esse “fenômeno”. 
         Precisava marcar minha chegada e imaginava como anunciar isso. Os sons dos altos falantes do parque ecoavam na noite, com “páginas musicais” dos sucessos da época. Dirigi-me à cabina dos estúdios musicais. Falei com o locutor. Disse-lhe que queria oferecer uma música e perguntei quanto custava o serviço. Era pouco o que cobravam, mas, o problema residia no grande número de solicitações iguais que aguardavam veiculação. Com habilidade conversei com o locutor: estava apaixonado e brigado com a namorada e aquela atitude auxiliaria para renovar o namoro. Não adiantou muito. Afinal, outras músicas serviriam para objetivos semelhantes. Insisti e usei outra tática: o suborno. 
       Pagaria o dobro da tabela. Terminou aceitando que “pulasse a fila” pelo triplo do valor. Concordei desde que fizesse três vezes a leitura da mensagem e repetisse a música. Fechamos o negócio e, assim, parti à procura da “turma” que logo encontrei. Ali estava Belmiro, Concita, Rosinha, Socorro e João Queiroga, Alba Rejane, Zé Ronaldo e outros diletos amigos e amigas de minha geração. Sabia que Fátima Queiroga namorava firme com um conterrâneo. Aguardava impaciente a difusão das mensagens encomendadas no serviço de alto falantes do parque, até ouvimos: “atenção, atenção, Fátima Queiroga” e repetia como havia combinado, “ouça essa linda canção que lhe oferece alguém das iniciais M.L.R. de Pau dos Ferros que muito lhe ama” e o cantor Carlos Alexandre entoou o sucesso do momento com o “romântico” verso: “eu hoje quebro essa mesa, se meu amor não chegar; também não pago a despesa se meu amor não chegar!”. 
       Fátima que ouvira a mensagem chegava ao local às pressas. Queria saber quem era o autor daquela presepada que podia comprometer seu namoro. A música terminou, mas, repetida, inclusive, com a intrigante mensagem. Foi até a cabina musical obter informações. O locutor não lhe disse quem teria sido o autor, sua ética lhe impedia. Assim, o mistério perdurou, até a procissão do Rosário quando confessei a brincadeira e os pecados foram perdoados com facilidade. Era domingo do Rosário, um dia mágico em que se perdoa e se ama intensamente.
Cronista Pombalense - Maceió -Alagoas.
O quebra mesa na Festa do Rosário O quebra mesa na Festa do Rosário Reviewed by Clemildo Brunet on 10/03/2014 10:07:00 PM Rating: 5

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