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COM PROFESSORA CARMITA: UM FELIZ REENCONTRO


Francisco Vieira
Francisco Vieira*

Há muito que se fala e se escreve, em prosa e verso, sobre amizades, porém, considero impossível descrever a alegria de um reencontro entre amigos. É que alegria a gente sente, mas não explica.
            Reencontrar é antes de tudo um gesto bíblico, portanto, Divino. Consta que Jesus fez menção a respeito do tema pelo menos em três momentos: citou o homem que perdendo uma ovelha do rebanho, largou as 99, para procurar a perdida, assim como a mulher que possuindo 100 moedas e tendo perdido uma acende uma lâmpada e

a busca até encontrar. Enfim, lembrou a parábola do Filho Pródigo, o qual após ter esbanjado toda sua herança, retorna arrependido a casa dos pais onde é recebido com festa. São, portanto, três histórias e três exemplos, porém, com a mesma conotação: o prazer de reencontrar. É que o reencontro de todo bem precioso é sempre motivo de júbilo.            
            A felicidade de reencontrar é inexplicável. É um sentimento espontâneo que se manifesta nas pessoas a partir da tenra idade até a velhice, independente de sexo, cor ou nível cultural. É na criança que encontra o brinquedo sumido, o animalzinho de estimação ou a moeda perdida. É no reencontro entre amigos de infância, ao rever uma velha paixão, ao encontrar um parente desaparecido, uma ex. coleguinha de classe ou uma antiga professora. Esses acontecimentos são raros e inesquecíveis.
            A vida nos reserva surpresas que guardamos como relíquias. Em 2007, vivi um desses momentos ao reencontrar a ex. professora Carmita Bezerra, depois de prolongadas três décadas e meia de ausência. Foi um acontecimento marcante, um misto de prazer e emoção que destaco e em síntese reproduzo.
            Tudo aconteceu no Espaço Cultural – João Pessoa – onde caminhava com a esposa me recuperando de delicada cirurgia cardíaca. Nesse vai e vem e a cada volta, cruzava com uma pessoa que me chamava atenção. Como bom fisionomista e sem hesitar afirmei ser a citada professora no que fui ratificado pelo conterrâneo Inácio Tavares.
            O encontro foi um doce regresso ao passado, principalmente a época em que fomos aluno e professora do extinto Ginásio Diocesano de Pombal. Para surpresa minha a professora mostrava completa lucidez e uma memória privilegiada. De pronto me reconheceu, lembrou de minha esposa, indagou sobre meus pais e irmãos, tratando a todos pelo nome. Pelo menos por alguns minutos suspendemos a caminhada que ficou em segundo plano para falar de Pombal e do povo nosso tempo. Perguntando por tudo e por todos, queria em minutos saber as novidades da terrinha que há muito não via.
Evidentemente que o assunto não podia ser outro, se não qualquer um ligado a escola. Assim, professores e alunos, nossos contemporâneos, foram alvo da conversação. Pelo nome ou apelido muitos foram lembrados, com destaque para os mais estudiosos e os mais travessos. Contudo, lembramos que as travessuras às vezes incômodas não caracterizam o estudante, visto serem decorrentes do fulgor da idade.    
            Num instante de saudosismo citamos alguns ex. alunos como: Fan Arruda, Carrinho Farias, Luis e Laércio de Caboquinho, Evanildo Medeiros, Bobóia, Caveirinha, Bajara, João Peba, os Cutias Domiciano e Dário, além de Gracinha de Demétrio, Zuíta, “Meu Pio”, etc. Hoje, todos adultos e prontos para a vida são ainda queridos, pelo menos em sua lembrança ativa.
Do corpo docente veio a lembrança a partir de Côn. Luis Gualberto extensiva a professor Arlindo, Osa Rodrigues, Maria José Bezerra, Ivonildes Bandeira, Dr. Valmir e Dra. Lenilda, Zé Marques e Dalva, Mariinha e Herotides Santana, Onélia Rocha, Lucy Mascena, Joãozinho Terto, Dimar Silva, Otávio Barbosa, Wilson ou “Olho de Bila” e outros mais. Aqueles não lembrados que me perdoem pelo pecado da omissão.
Falamos de suas maravilhosas aulas, sempre recheadas de experiências científicas, até então nunca vistas nas escolas da cidade. Sem desmerecer ninguém, foi a Profª Carmita, com suas aulas, a grande responsável por despertar em mim interesse pelas ciências. Seguramente afirmamos, eu e Galvani, minha irmã, se hoje somos biólogos a ela devemos pelo incentivo e nela nos espelhamos. Obrigado professora. Sem você sequer estas palavras seria capaz de escrever.
            Mergulhando no túnel do tempo, revivemos memoráveis desfiles cívicos que se destacavam pela pompa e predominância do espírito patriótico. Com requintes de saudade relembramos também o Grêmio Literário onde Ernezaque e Cacau de Dr. Deoclécio Maniçoba se destacavam pelo talento musical. Ela pelo timbre aveludado e ele pelo potencial de voz que se assemelhava a Cauby Peixoto no que agradava em cheio a Profª Mª José Bezerra, sua fã número um. Enfim, as missas dominicais e o comparecimento obrigatório, cuja ausência injustificada custava pena de suspensão das aulas. Era uma forma repressora de fazer cristãos.
            Com tristeza lamentamos a evidente diferença entre o aluno do passado e do presente. Com outro perfil e sem desmerecer o estudante de hoje, reconhecemos que a vida escolar não é mais a mesma. O aluno que dispensava ao professor um respeito especial se sente influenciado pela violência que hoje divide espaço com ele na escola.  
            Fomos unânimes em entender que só mesmo o professor, esse formador de opinião, é capaz de transformar nossa vida para sempre. Contudo, é penoso e revoltante ver seu trabalho cada vez mais desvalorizado, seus méritos irreconhecidos. Eu que o diga. Como professor, também sou vítima do descaso e da indiferença das autoridades e poderes constituídos.
            O aprofundamento do diálogo imprimiu ao momento um caráter particular. De encontro entre aluno e professora tornou-se conversa de conterrâneos onde o amor pela terrinha era o sentimento em destaque.
            Carmita, não seria mera professora que passaria pela vida de um aluno apenas, mas de muitos, inclusive pela minha. Afinal, é impossível crer que um ex. aluno do Ginásio Diocesano de Pombal, dos anos 60, não tenha na lembrança a figura emblemática dessa grande mestra. Com ela aprendi que o ar em movimento chama-se vento, que a água dissolve a maioria das substâncias, por isso, considerada solvente universal, que a impenetrabilidade da matéria não permite dois corpos ocuparem ao mesmo tempo o mesmo lugar no espaço, que o coração se contrai 60 vezes por minuto totalizando dois bilhões de batimentos ao longo de setenta anos de vida. Isto prova que o inexorável tempo tudo pode – aliás, quase tudo – menos destruir da lembrança a imagem dos nossos mestres e seus ensinamentos.
Se bom foi o tempo de estudante, melhor é rever velhos amigos e reencontrar antigos professores. Quão bom é reviver com eles o passado como gratidão, pois recordar o que lhe agrada é uma forma de agradecer. Assim, espero que compreendam a razão desta mensagem que faço como tributo.
            Suspendemos por um tempo a conversação, certamente reiniciada no próximo encontro – que não sei quando. Espero num futuro próximo, quando exaltaremos outra vez Pombal, suas histórias e personagens. É que o pombalense não resiste ao prazer de falar de sua terra.            
            Portanto, até A FELICIDADE DE UM NOVO REENCONTRO.
Pombal, 10 de novembro de 2014.

*Professor e Escritor
COM PROFESSORA CARMITA: UM FELIZ REENCONTRO COM PROFESSORA CARMITA: UM FELIZ REENCONTRO   Reviewed by Clemildo Brunet on 11/11/2014 05:51:00 AM Rating: 5

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