APELIDOS FAMOSOS
Severino Coelho Viana |
Por Severino Coelho Viana*
A nossa análise trata os termos: alcunha, apelido, apodo, antonomásia, cognome e epíteto, como se fossem sinônimos. Não vamos adentrar na questão semântica existente entre Brasil e Portugal quanto aos significados de alcunha e apelido que apresentam uma sutil diferença.
Alcunhas ou denominações não nascem
por acaso. Por acaso é o inexplicável, falta de argumentação. Cada um tem
a
razão de ser. São fontes de inspiração os apelidos, originalmente, de ofícios
profissionais (pedreiro, leiteiro, roceiro, etc.); local de origem (alemão,
japonês, baiano, carioca, etc.). Algumas alcunhas têm normalmente origem em
características físicas do indivíduo, como aleijadinho, manco, caolho, quatro
olhos, alto, baixo, bonito, feio etc. Quando se tomam apelidos no sentido
pejorativo termina num deus-nos-acuda. É briga! É cacetada! É facada!. Mas, vamos mostrar a causa de somente
dez apelidos famosos.
ALEIJADINHO
– Antônio Francisco Lisboa. (nasceu em Ouro Preto, em, 29 de agosto de 1730 ou, mais provavelmente, 1738 — Ouro Preto, 18 de novembro de 1814) foi um importante escultor, entalhador e arquiteto do Brasil colonial. A partir de 1777, o
artista começou a sofrer os sintomas de uma misteriosa doença que lhe causou
deformidades no corpo e que lhe valeram a alcunha de “Aleijadinho”. Bretas diz
que Antônio sofria dores horríveis e que eventualmente perdeu os dedos dos pés
e teve de andar de joelhos. Também terminou por perder os dentes e os dedos das
mãos, e suas deformidades teriam feito com que trabalhasse escondido por tendas
para que as pessoas não o observassem. Seu escravo Maurício seria o responsável
por atar a suas mãos os cinzéis com os quais esculpia. Atualmente se debatem
que doença poderia ter causado esses problemas ao Aleijadinho, dividindo-se as
opiniões entre sífilis, reumatismo, porfiria, hanseníase, lepra e poliomielite.
É muito provável que os sintomas devastadores descritos por Bretas sejam um
tanto exagerados, uma vez que seria muito difícil que com tamanhas mutilações o
Aleijadinho pudesse ter esculpido suas últimas obras em Congonhas do Campo.
POETA
DA MORTE – Augusto Carvalho Rodrigues dos Anjos. (Cruz do Espírito Santo, 20 de abril de 1884 — Leopoldina - MG, 12 de novembro de 1914). Augusto dos Anjos não recorreu às palavras
suaves nem às vogais doces sempre utilizadas por poetas de sua época. Sua vida
e sua obra sempre serão um desafio para intelectuais e para o grande público.
Segundo Antonio Houaiss, ele foi e será sempre considerado um poeta
cientificista e filosofante. As características de sua obra literária passam
pela angústia, pessimismo, ceticismo em relação às possibilidades do amor,
egoísmo, morte, volúpia, sempre andava acompanhado de uma profunda tristeza. O poeta tinha como tema
uma profunda obsessão pela morte e teve como base a ideia de negação da vida
material e um estranho interesse pela decomposição do corpo e do papel do verme
nesta questão
o que explica porque ficou conhecido como o Poeta da Morte. Entretanto, poucos
poetas despertaram e levantaram tantas questões e interpretações. Augusto dos
Anjos é considerado o maior poeta paraibano e foi escolhido pelo povo de sua
terra “o paraibano do século [vinte]”. Para homenageá-lo, o Governo do Estado
da Paraíba, através da Secretaria da Educação e Subsecretaria de Cultura e com
os recursos advindos do Fundo de Incentivo à Cultura – FIC – Augusto dos Anjos,
apoiou a instalação e o funcionamento do Memorial Augusto dos Anjos na Casa de
Guilhermina – ama de leite do poeta – localizada no antigo engenho onde ele
nasceu.
ÁGUIA
DE HAIA – Ruy Babosa de Oliveira. (Salvador, 5 de novembro de 1849 — Petrópolis, 1 de março de
1923) Quando
ocupava o cargo de Ministro das Relações Exteriores, o Barão do Rio Branco teve
de indicar representante do Brasil para
a Conferência de Paz que se realizaria em Haia, na Holanda, em 1907. Como delegado do Brasil
na II Conferência da Paz, em Haia (1907), notabilizou-se pela defesa do
princípio da igualdade dos estados. Sua atuação nessa conferência lhe rendeu o
apelido de "O Águia de Haia” Advogado, jornalista, diplomata, político e escritor – esse é o
perfil de Rui Barbosa, senador baiano que, por conta de sua célebre atuação na
Casa, ganhou o título de Patrono do Senado. O "Águia de Haia",
apelido que o parlamentar recebeu pela sua participação na Conferência de Paz
na cidade holandesa de Haia, em 1907, tem sua atuação parlamentar ligada à luta
pela instauração da República, pelo fim da escravidão e em favor de movimentos
sociais. Foi
um cabedal de cultura brasileiro, tendo se destacado principalmente como
jurista, político, diplomata, escritor, filólogo, tradutor e orador. Um dos
intelectuais mais brilhantes do seu tempo, destacando-se como um dos
organizadores da República e coautor da constituição da Primeira República
juntamente com Prudente de Morais. Ruy Barbosa atuou na defesa do federalismo,
do abolicionismo e na promoção dos direitos e garantias individuais. Primeiro
Ministro da Fazenda do novo regime, sua breve e discutida gestão foi marcada
pela crise do encilhamento sob a proposição de reformas modernizadoras da
economia. Destacou-se, também, como jornalista e advogado. Foi deputado,
senador, ministro. Em duas ocasiões, candidato à Presidência da República.
Empreendeu a Campanha Civilista contra o candidato militar Hermes da Fonseca.
Notável orador e estudioso da língua portuguesa, membro fundador da Academia
Brasileira de Letras, sendo presidente entre 1908 e 1919.
BOCA DO INFERNO. Gregório de Matos Guerra.
(Salvador, 23 de dezembro de 1636 – Recife, 26
de novembro de 1696)
ficou
conhecido na história da literatura como o Boca do Inferno, por causa de suas
sátiras e de sua poesia. Mas sendo um autor barroco e, portanto, surpreendente
e contraditório, esse mesmo Boca do Inferno também disse coisas belíssimas
sobre o amor. O “Boca do Inferno” não perdoava ninguém: ricos e pobres, negros,
brancos e mulatos, padres, freiras, autoridades civis e religiosas, amigos e
inimigos, todos, enfim, eram objeto de sua “lira maldizente”. Gregório de Matos firmou-se como o
primeiro poeta brasileiro: cultivou a poesia lírica, satírica, erótica e
religiosa. O que se conhece de sua obra é fruto de inúmeras pesquisas, pois Gregório
não publicou seus poemas em vida. Por essa razão, há dúvidas quanto à
autenticidade de muitos textos que lhe são atribuídos. é amplamente conhecido
por suas críticas à situação econômica da Bahia, especialmente de Salvador,
graças à expansão econômica chegando a fazer, inclusive, uma crítica ao então
governador da Bahia Antonio Luis da Câmara Coutinho. Além disso, suas críticas
à Igreja e a religiosidade presente naquele momento. Essa atitude de subversão
por meio das palavras rendeu-lhe o apelido de "Boca do Inferno", por
satirizar seus desafetos.
BRUXO DO COSME VELHO. Joaquim Maria Machado de Assis. Jornalista, escritor,
romancista, crítico, poeta, novelista, nasceu no Rio de Janeiro, em 21 de junho
de 1839, no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, e morreu em 29 de setembro
de 1908. É considerado o mais importante nome da história da literatura
brasileira e um dos maiores estudiosos da psicologia nacional. Suficiente em si mesma é a obra do “bruxo” do Cosme Velho,
como era chamado Machado de Assis que se torna difícil escolher um tema de
entre os tantos que tratou com maestria em seus inúmeros livros. E, no entanto,
homem de seu tempo e seu lugar, a presença da religião nunca esteve ausente da
obra machadiana, chegando mesmo a ser explicitada em muitas delas. Seja pela
referencia a práticas religiosas, seja por impiedosas e lúcidas críticas ao
clero, seja pela descrição da fé de seus personagens. O fato é que Machado de
Assis traz para dentro de seu universo o componente da religião, que não pode
faltar em alguém que, como ele, constrói seus romances a partir de uma análise
profunda da alma humana. Machado de Assis (na
infância, Machadinho) filho de família humilde, mulato, de saúde frágil,
epiléptico, gago, perdeu muito cedo sua mãe, Maria Leopoldina Machado de Assis.
Seu pai, Francisco José de Assis, um mestiço de negro e português, casou-se
outra vez e com a sua morte, o menino passou a ser criado pela madrasta Maria
Inês, que foi trabalhar como doceira em uma escola pública em São Cristovão,
com Machadinho ajudando na venda dos doces. Nunca estudou em escolas regulares
e nem cursou qualquer universidade. Aprendeu a ler sozinho. Mais tarde,
autodidata, aprendeu a falar francês, inglês e alemão.
CISNE NEGRO. Cruz e Sousa. (nasceu em Nossa Senhora do Desterro,
24 de novembro de 1861 — Curral Novo, e morreu 19 de março de 1898) Não é apenas o maior poeta da história de
Santa Catarina. É um dos maiores do Brasil e, possivelmente, de todo o mundo
moderno. Segundo críticos de renome internacional, a poesia de Cruz e Sousa
estaria em pé de igualdade com a de Rimbaud, Verlaine e Mallarmé. Recebeu, por
isso, dois apelidos congratulatórios: Cisne Negro (algo a ver com o balé de
Tchaikovsky?) e Dante Negro, numa lisonjeira comparação com Dante Alighieri,
autor da Divina Comédia. O engraçado – ou o triste – é que, apesar de toda a
sua importância, Cruz e Sousa teve uma vida de cão. Mesmo culto e talentoso, o
fato de ser filho de escravos deu conta de excluí-lo da sociedade. Nomeado
promotor público em Laguna, não pôde assumir o cargo porque os habitantes da
vila, descobrindo-o negro, manifestaram-se com fúria e veemência. Desiludido,
Cruz e Sousa arrumou as malas e tocou para o Rio de Janeiro, então capital do
Império, cidade cosmopolita que estaria acima dos preconceitos provincianos.
POETA DA VILA. Noel Rosa de Medeiros Rosa nasceu em 11 de dezembro de 1910, em Vila
Isabel, na cidade do Rio de Janeiro. Sua mãe, dona Marta, teve problemas no
parto. O médico precisou usar fórceps e afundou o maxilar de Noel, que viria a
ser um homem magro e fraco porque tinha dificuldades para mastigar. Nasceu
no bairro de Vila Isabel, no Rio de Janeiro, tornando-se anos mais tarde
conhecido como o "Poeta da Vila". Morou durante seus vinte e seis
anos e meio de vida na mesma casa na rua: Teodoro da Silva, que tempos depois
seria demolida para a construção de um prédio residencial que leva seu nome.
Filho de Manuel Medeiros Rosa, que era gerente de camisaria, e da professora
Marta de Azevedo, teve em seu nascimento fratura e afundamento do maxilar
provocados pelo fórceps, além de uma pequena paralisia na face direita, que o
deixou desfigurado para o resto da vida, apesar das cirurgias sofridas aos seis
e doze anos de idade. Quando seu pai foi trabalhar como agrimensor numa fazenda
de café, sua mãe abriu uma escola dentro de casa, passando a sustentar os dois
filhos, Noel e Hélio, o mais novo, nascido em 1914. Ganhou
o apelido de “Queixinho” na escola, o que nunca se tornou um trauma; pelo
contrário, acabou se tornando um adulto irônico e debochado. Além do problema
no queixo tinha a voz fanhosa, o que também não o impediu de cantar e ser o
sambista de maior sucesso de sua época no Rio. Tocava violão com o Bando de
Tangarás, ao lado de Almirante, João de Barro e outros. No início, em 1929, eram
músicas regionais nordestinas. O primeiro samba, Com que roupa? nasceu
ainda naquele ano. Transformou-se no grande sucesso do carnaval de 1931. Com
isso, Noel teve que fazer sua primeira grande escolha: a Medicina (era aluno do
primeiro ano) ou o Samba. Escolheu o Samba, claro! Em suas músicas falava de
seu bairro, seus amores, seus desafetos, suas piadas. A sábia escolha do
ex-futuro médico garantiu à música brasileira momentos primorosos: Pierrô
apaixonado, Pastorinhas, O orvalho vem caindo, Feitio de
oração, Não tem tradução, Pra que mentir, Conversa de
botequim, Gago Apaixonado, São coisas nossas, Mulher indigesta,
Mentiras de mulher, Feitiço da vila, Dama de Cabaré, Palpite
infeliz, Último desejo, Fita amarela e muitas outras canções.
POETINHA.Vinicius de Moraes.
(Rio de Janeiro, 19 de outubro de 1913 — Rio de Janeiro, 9 de julho de 1980) foi um diplomata, dramaturgo, jornalista, poeta e compositor brasileiro. Afirmar que Vinícius de Moraes foi um dos maiores
poetas brasileiros é diminuir sua importância no cenário cultural nacional.
Seus textos passaram pelo teatro e pelo cinema. Fez parcerias com grandes nomes
da música nacional e foi um dos nomes que consolidaram a Bossa Nova. O apelido de
“poetinha” foi dado a Vinícius por ninguém mais e ninguém menos que Tom Jobim, seu amigo e parceiro
artístico. Chamar Vinicius de Moraes de poetinha, ao
contrário do que possa parecer aos desavisados, não é de forma alguma com a
intenção de diminuí-lo ou menosprezar sua obra. Ele é o poetinha porque nunca
quis ser Poeta, aquele que está acima de todos, vendo a vida com a sabedoria
que lhe cabe. Vinicius não era assim, simplesmente foi o poetinha, que estava
ali, nos bares da zona sul carioca, nas casas mais festivas da cidade
(incluindo a dele), uma pessoa simples, que além da já famosa paixão pelas
mulheres, tinha uma incansável paixão pela beleza da vida.
PEQUENA NOTÁVEL. Carmem Miranda. Maria do Carmo
Miranda da Cunha Nasceu no local chamado de Marco de Canaveses, Província de Beira-Alta, em Portugal, em, 9 de fevereiro de 1909 — morreu em, Los Angeles, 5 de agosto de1955). Ela nasceu em Portugal em 1909 e logo veio para o Brasil.
Ela recebeu o apelido de Carmen no Brasil, porque seu pai adorava óperas. foi uma cantora e atriz luso-brasileira.
Sua carreira artística transcorreu no Brasil e Estados Unidos entre as décadas
de 1930
e 1950.
Trabalhou no rádio, no teatro de revista, no cinema e na televisão. Carmen recebeu também o
apelido de A Pequena notável, por ter estatura baixa e gostar de usar salto
plataforma. Ficou conhecida como a “Pequena Notável” devido ao seu talento
aliado à sua pequena estatura. Quem cunhou esse termo foi um radialista famoso
à sua época, César Ladeira, no tempo da era do rádio e das primeiras gravações
fonográficas. Embora nascida em Portugal, passou sua adolescência e grande de
sua vida no Rio de Janeiro.
PIMENTINHA - Elis Regina Carvalho Costa nasceu em Porto Alegre, em 17 de
março de 1945 e faleceu no dia 19 de janeiro de 1982. Foi uma intérprete
brasileira considerada por muitos críticos, comentadores e outros músicos a melhor
cantora brasileira de todos os tempos. Com os sucessos de Falso Brilhante e
Transversal do Tempo, ela inovou os espetáculos musicais no país e era capaz de
demonstrar emoções tão contrárias, como a melancolia e a felicidade, numa mesma
apresentação ou numa mesma música. Elis
começou sua carreira em festivais e foi influenciada pelas cantoras de rádio.
Fez a sua estreia no festival da Record com a música “Arrastão”, de Edu Lobo e
Vinícius de Moraes. Mudou-se para São Paulo em 1964, onde viveria até a morte.
Teve muito sucesso em espetáculos como O Fino da Bolsa, cujo diretor era
Ronaldo Boscoli, com quem se casou. Elis era uma artista completa,
interpretando canções de vários estilos, como jazz, rock, bossa nova e samba.
Levou ao público cantores importantes como Milton Nascimento, João Bosco e Ivan
Lins. Fez importantes duetos, só para citar dois exemplos, Tom Jobim e Jair
Rodrigues. Em 1959 foi contratada pela Rádio Gaúcha e, no ano seguinte, viajou
ao Rio de Janeiro, onde gravou seu primeiro disco, Viva a Brotolândia. Mudou-se
para São Paulo, em 1964, onde viveria até a morte. Em 1965, venceu o Primeiro
Festival da MPB, promovido pela Excelsior, lançando-se nacionalmente. No mesmo
ano, assumiu ao lado de Jair Rodrigues, o comando do programa O Fino da Bossa,
que ficou no ar até 1967, com grande sucesso. Por causa da gargalhada
escancarada e da grande vibração, o poeta Vinícius de Morais apelidou Elis de
"Pimentinha". Outro apelido da cantora era "Baixinha", por
causa do seu 1 metro e 54 centímetros de altura. Elis também foi chamada de
"Hélice Regina" por causa de sua forma de dançar girando os braços,
por influência do bailarino Lennie Dale.
João
Pessoa, 08 de dezembro de 2014.
*Escritor pombalense e Promotor de Justiça em João
Pessoa PB
scoelho@globo.com
APELIDOS FAMOSOS
Reviewed by Clemildo Brunet
on
12/08/2014 01:09:00 PM
Rating:
Nenhum comentário
Postar um comentário