Feliz Coca-Cola para todos!
Rinaldo Barros(*)
Sempre achei muito estranho que o
aniversariante (Jesus) não seja o centro de todas as homenagens nos festejos do
Natal. Fui pesquisar, e compartilho com vocês o que encontrei. Peço um pouco de
paciência e atenção. Até quinhentos anos após a morte de Cristo, a contagem dos
anos era feita a partir do ano da fundação de Roma. A “era cristã” é contada -
erradamente - a partir do ano 754. A esta altura, encontro uma grande surpresa:
não se sabe o dia em que Jesus nasceu, mas certamente não ocorreu em 25 de
Dezembro.
Em pleno inverno daquela fria região;
sobretudo de noite, a temperatura é
muito baixa, seria improvável que pastores
estivessem nos campos depois das chuvas de Outubro. Há muitos indícios que
Cristo deve ter nascido no ano de 749, ainda na “era romana”, portanto, pelo
menos quatro ou cinco anos antes da data festejada. Logo, estamos no ano 2018
ou 2019.
O mais provável é que Jesus Cristo tenha
nascido quando César Augusto decretou o primeiro recenseamento (Ver Lucas 2,
1-2), e segundo os elementos históricos existentes, tal fato teria ocorrido
cerca do ano quatro a.C.; aí pelo mês de Setembro do ano 749 da fundação de
Roma. Até porque Herodes teria nascido em 677 e morrido no ano 750. O local do
nascimento também é questionável: teria sido em Nazaré, e não em Belém.
Celebrações durante o inverno já eram comuns
muito antes do Natal ser celebrado no dia 25 de Dezembro. Antes do nascimento
de Jesus (cuja data é desconhecida), a história do Natal tem início com os
europeus, que já celebravam a chegada da luz e dos dias mais longos ao fim do
inverno. Tratava-se de uma comemoração pagã do “Retorno do Sol”, retorno do
“Deus Sol”. Será que a decoração da Prefeitura de nossa capital homenageia o
“Deus Sol”? Ou não?
Na verdade, no início da história do Natal,
esta era uma festividade sem data fixa celebrada em dias diversos em cada parte
do mundo. Os povos eram mais próximos da Mãe Natureza, e menos consumistas. Somente no Século IV d.C, o então Papa Julius
I (falecido em 352 d.C), fundador do arquivo da Santa Sé, mudou a história do
Natal decretando o dia 25 de Dezembro como data fixa para a celebração. A
Igreja adotou a data de 25 de Dezembro como o dia do nascimento de Jesus Cristo
porque o dia do Natal se sobreporia, assim, às celebrações do Solstício de
Inverno e à festa do deus Mitra, “Deus da Luz” ou “Deus Sol”, que os antigos
festejavam justamente nesse período. Ou seja, a data que comemoramos atualmente
é somente uma convenção. Invenção de um Papa.
Tem outra dificuldade histórica: no ano de
1582, com o advento do Calendário Gregoriano, a data da celebração do Natal foi
adiantada em 11 dias para compensar esta mudança no calendário. O papa Gregório
XIII publicou a bula Inter Gravíssimas em 24 de Fevereiro de 1582, determinando
que o dia seguinte a 4 de Outubro de 1582 (quinta-feira) passasse a ter a data
de 15 de Outubro de 1582 (sexta-feira).
Sem registro histórico preciso, ficou o mito
e a palavra: “amar o próximo como a si mesmo”. Atualmente, as tradições do Natal
diferem de acordo com os costumes de cada povo, de cada etnia. Em nossa
cultura, uma das figuras mais cultuadas atualmente é o Papai Noel, ficando
Jesus em plano secundário. Um estranho caso no qual o aniversariante não é o
personagem principal.
Estudiosos afirmam que a figura do Papai Noel
foi inspirada num bispo chamado Nicolau, que nasceu na Turquia em 280 d.C. O
bispo, homem de bom coração, ajudava as pessoas pobres nos finais de ano,
deixando saquinhos com moedas nas chaminés das casas. A associação da imagem de São Nicolau ao
Natal aconteceu na Alemanha e espalhou-se pelo mundo em pouco tempo. Nos
Estados Unidos, ganhou o nome de Santa Claus, no Brasil de Papai Noel e em
Portugal de Pai Natal. Até o início do século XX, o Papai Noel era representado
por um gnomo ou monge, magro, com uma pesada roupa de inverno, na cor marrom.
Até aí ainda se referia a uma figura religiosa.
Todavia, em 1931, o publicitário Haddon
Sundblom (1899 a 1976) criou novas imagens do Papai Noel (Pai Natal), gorducho
bonachão, em roupas vermelho e branco, para propaganda da Coca-Cola. E é esta
imagem (Papai Noel), ligada a um dos maiores símbolos do consumo, que a maioria
dos brasileiros cultua - enganando as crianças - no período do nascimento do
fundador do Cristianismo. Daí, essa febre consumista que nos contamina a todos
nesta época do ano.
Os templos do consumo estão cheios porque
lucrar é preciso; ser uma pessoa melhor não é preciso. Vale a pena parar um
pouco para refletir sobre o que estamos fazendo, e por quê. Em verdade, a
humanidade encontra-se numa encruzilhada do labirinto, entre a Ganância (o deus
mercado) e a (falta de) Solidariedade.
Entre o vendilhão Papai Noel e o salvador Jesus Cristo.
Sem querer provocar, pergunto: por que não
homenagear o aniversariante, Jesus? Ou devo substituir a palavra do Cristo:
“amar o lucro como a si mesmo”?
Feliz Coca-Cola para
todos!
(Este texto,
publicado em 2010, permanece atualizado)
*Rinaldo Barros é
professor – rb@opiniaopolitica.com
Feliz Coca-Cola para todos!
Reviewed by Clemildo Brunet
on
12/23/2014 05:18:00 AM
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