A matriz energética do futuro...
Ignácio Tavares |
Ignácio
Tavares*
No final do ano acontecera a COP 21, desta
vez em Paris, recentemente abalada em razão de duas ações terroristas que
resultaram na morte, salvo o engano, de dezessete pessoas. A COP 21 é a
continuidade da COP 20 ocorrida recentemente em Lima capital do Peru. O seu
objetivo maior será discutir e
avaliar as metas que serão apresentadas pelos países
comprometidos com a redução da emissão de gases de efeitos estufa, principais
responsáveis pelo aquecimento global.
A boa notícia é que os dois países
considerados os maiores emissores de dióxido de carbono do planeta, China e
Estados Unidos firmaram acordos bilaterais no sentido de reduzirem suas
emissões de gases poluentes através de mudanças na composição da matriz
energética, entre as quais substituir parte da energia suja por energia limpa
originária de fontes naturais, até 2030.
Outros países há muito tempo estão investindo
na produção de energia limpa. Um exemplo bem sucedido é o caso da Noruega onde
a sua matriz energética é composta por 85% de energia renovável. No Brasil 80%
da matriz energética é originária de fontes naturais com tendência a aumentar
esse percentual através da incorporação de novas hidrelétricas em fase de
construção. Em seguida vem a Holanda, a Suécia, a Alemanha, entre outros países
do norte da Europa que estão a trilhar pelo mesmo caminho.
A continuar essa tendência de mudanças na
matriz energética em escala mundial, o futuro dos combustíveis fosseis está em
jogo, isso porque a tendência é que nos próximos anos a energia gerada por
fontes naturais poderá superar em muita a energia de origem fóssil. Com
certeza, os países que têm o petróleo como sustentáculo de suas economias, se
não diversificarem as bases econômicas, a exemplo do Khatar, vão passar por momentos
difíceis por conta da fragilização de suas bases econômicas
As pressões no sentido de substituir a
energia de origens fosseis por energia da natureza cresce a cada ano em razão
das mudanças climáticas que já são visíveis a olho nu. As fontes naturais que
permitem a produção de energia limpa, em certa medida, são ilimitadas. Por
exemplo, o sol fornece uma quantidade de energia cinco mil vezes maior da de
que necessitamos, sem falarmos na energia eólica, entre outras fontes naturais
potencialmente capazes de produzir energia em quantidade significativa.
Por ocasião da COP 20 realizada em Lima faltaram
espaços para discutir os recentes avanços tecnológicos voltados para a produção
de energia de fontes naturais a custos cada vez menores. Nesta área há notícias
alvissareiras que muito nos agradam.
Vejamos - tempos atrás o custo de captação de
energia solar era bastante elevado o que dificultava o acesso coletivo a esse
tipo de energia.Com os avanço das pesquisas a tecnologia aplicada a captação de
energia solar está a favorecer cada vez mais a entrada de investidores no setor
com possibilidades de retornos iguais ou maiores aos observados nos sistemas
tradicionais de geração de energias originárias das diversas fontes
historicamente conhecidas.
Tudo isso se explica quando se observa a
redução dos preços dos módulos fotovoltaicos que hoje são inferiores em 80% aos
preços praticados antes de 2008. Com essa redução nos preço dos módulos é
possível produzir energia elétrica ao custo de U$ 0,10 (dez centavos de
dólares) por quilowatt/hora.
Por outro lado,- segundo os experimentos
realizados - as novas tecnologias de armazenamento de energia estão permitindo
consideráveis reduções nos preços das baterias de íons de lítio. Em 2009
custava 800 dólares por KWh. Em 2009 caiu para 600 dólares e se projeta o preço
de 150 dólares em 2030. Ao atingir esse preço o custo de aquisição e manutenção
de um carro elétrico será menor do que um carro equivalente movido a
combustível fóssil.
Com efeito, é este o cenário que se desenha
para uma futura matriz energética fundamentada em fontes naturais de baixa
emissão de dióxido de carbono ou melhor de gases de efeitos estufa. Tempos
atrás se discutia como seria a matriz econômica mundial a partir do momento que
o petróleo entrasse em exaustão.
Essa discussão não existe mais, ou melhor, foi
invertida porque hoje a discussão gira em torno de outra pergunta – o que fazer
com tanto petróleo armazenado no subsolo em terra firme e nos fundo dos mares
sem nenhuma serventia? Com certeza nada, a não ser que a tecnologia descubra
novos materiais, novos produtos derivados do petróleo de baixa emissão de gases
poluentes. É difícil, mas é possível.
É verdade que o grande capital oligopolista
vai reagir para evitar a falência total da poderosa indústria petrolífera, mas,
com certeza vai ser tempo perdido, porque o que está em jogo não é lucro das
grandes corporações, mas a sobrevivência humana no planeta terra.
É
público e notório que se nada for feito, - no sentido de reduzir a emissão de gases
de efeitos estufa - no final deste século o clima da terra poderá chegar a 5°
centigrados a mais o que inviabilizará a vida em determinadas regiões do
planeta, como o nordeste e de todo continente africano. A agua potável de
fontes fluviais será uma mercadoria como outra qualquer cujo valor a tornará
inacessível a grande parte da população terrestre. O que nos conforta é saber
que existe tecnologia que permite dessalinizar águas salgadas, não é?
Desse modo, o grande capital, o senhor todo
poderoso que reinou por mais de cinco séculos no planeta, desta vez poderá
render-se à força da sobrevivência humana. Isso vale para qualquer uma das duas
situações, seja pelo desastre da elevação do clima ou pela mudança na histórica
matriz energética fundamentada nos combustíveis fosseis. A sorte está
lançada... mas com certeza venceremos essa batalha e a terra continuará
majestosa e bela como sempre foi...
*Economista e Escritor
João Pessoa, 18 de janeiro de 2015.
A matriz energética do futuro...
Reviewed by Clemildo Brunet
on
1/18/2015 07:31:00 PM
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