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DEMOCRACIA DE ESPÍRITO ROTO

Genival Torres Dantas
Genival Torres Dantas*

Início da década de 1983/84, no Brasil a Emenda Constitucional, Emenda Dante de Oliveira Pereira de Carvalho (Dante de Oliveira), nº05/1983, proposta que leva o nome do seu autor, tentava reinstaurar as eleições diretas para presidente da República, alterando-se os artigos 74 e 148 da Constituição Federal de 1967 (Emenda Constitucional n°1, de 1969), cuja tradição Democrática foi interrompida pelo golpe militar de 1964. Com apoio da oposição, concentrada no único partido (PMDB), de oposição, que fazia o contra ponto com (PDS, antiga ARENA), partido de apoio ao sistema militar, surge no país um movimento popular de apoio à proposta que tramitava no Congresso Nacional, eleições diretas, denominando-se “Diretas Já”. Idealizada pelo Menestrel das Alagoas, senador pelo Estado de Alagoas, Teotônio Brandão Vilela, sendo seguido por outros políticos e
artistas do meio televisivo, rádio e esporte, destacando-se, entre tantos outros: Tancredo Neves, Fernando Henrique Cardoso, Leonel Brizola, Miguel Arraes, José Richa, Ulysses Guimarães, André Franco Montoro, Mário Covas, Gérson Camata, Orestes Quércia,  Luiz Inácio Lula da Silva, Eduardo Suplicy, Roberto Freire, Luís Carlos Prestes, Marcos Freire, Fernando Lyra, Jarbas Vasconcelos, Pedro Jorge Simon, Sócrates (Atleta), Christiane Torloni, Mário Lago, Gianfrancesco Guarnieri, Fafá de Belém, Chico Buarque, Martinho da Vila, Osmar Santos, Juca Kfouri e tantos engajados que o movimento ganhou massa crítica, mobilizando o povo brasileiro. 
Muito embora a emenda contasse com o apoio de todas as camadas da sociedade e a queda na popularidade dos militares, a Proposta de Emenda Constitucional foi rejeitada pela Câmara dos Deputados em 25 de abril de 1984; para que a proposta seguisse ao senado seriam necessários 320 votos, entretanto o resultado foi decepcionante, contando apenas com 298 votos a favor, 65 contras, 3 abstenções e 113 ausentes, o povo teve um dia de frustração e desgosto.
Transcorria o ano de 1985, precisamente 15 de janeiro, o Brasil dava seu grito de liberdade da ditadura militar, depois de 21 anos, o Congresso Nacional elegia pelo voto indireto o mineiro Tancredo de Almeida Neves e José Sarney de Araújo Costa, presidente e vice-presidente da República, respectivamente, os primeiros eleitos depois da gestão militar por 21 anos, derrotando os também civis e apoiados pelo regime de então, Paulo Salim Maluf e Flávio Portela Marcílio, candidatos situacionistas.
Depois de tanta luta, a impressão que temos é de um desencanto total, todo esforço empreendido na busca da redemocratização do nosso país, com participação de brasileiros Democratas históricos, caso especifico de Ulysses Silveira Guimarães, Senhor das Diretas Já, baluarte da luta contra a opressão da ditadura militar em nosso país. Diferentemente dos apátridas que usaram os movimentos pelas eleições livres e diretas para privilégios pessoais e oligárquicos, traindo a grande massa que fez parte do contingente humano na conquista da liberdade de todos. Hoje o que temos é uma Democracia de espírito roto.
O grito de liberdade foi calcinado e transformado em ignóbil insensatez, com aleivosias e razias praticadas por quem devia ser égide de um novo tempo. E esse mesmo tempo nos trouxe provas cabais e suficientes para mostrar ao mundo quem se apetecia pelo glamour do poder. Embrenhados na prebenda dos lacaios, esses ímprobos defenestraram nossas economias, jogando pelos ralos o resultado do suor dos trabalhadores que pagam seus impostos e labutam por dias melhores, numa consciência coletiva e social.
Depois de três décadas, somos tangidos como gado nas trilhas e veredas, em uma nação perdida entre o flagelo da famigerada e hipócrita associação das malversações, endossada pelo voto da maioria mal informada e uma oposição sem postura e em cacoete para tal finalidade, vendo o Congresso Nacional de joelhos dizer amém ao poder Central, sendo visivelmente humilhado e comprado com mimos e distribuição de cargos aos partidos que se prestam ao desserviço do governo participativo, participativo apenas as benesses do poder.
Quanto tempo ainda teremos de suportar tamanha descompostura, assistindo o desmonte de uma nação sofrida e desassistida pela incompetência e conivência com o mal feito, de um governo incongruente, vendo até mesmo nossas empresas estatais serem saqueadas e desestruturadas às mãos de mal feitores e incautos, de comportamentos exacerbados no desejo, e ações reais e pontuais, no lapidar o erário público, sem que haja uma mínima reação das autoridades competentes, objetivando obstaculizar os desmandos e falcatruas.
Chega a ser burlesco ver a correria desenfreada e aleatória, em direções diversas, de políticos da base aliada tentando um local onde possa se acomodar na administração pública, vendo o terremoto da corrupção chegando ao seio das decisões, e esses podendo ser pegos sem os privilégios que os cargos públicos oferecem para se livrarem da polícia e da justiça. Um dia, quando os políticos na sua maioria absoluta, e não uma minoria acuada, não sendo respeitada na sua fragilidade, nem mesmo ouvida, quando esses poucos obstinados e coerentes, forem a maioria, quem sabe teremos uma chance de revertermos o quadro da inoperância e não tenhamos vergonha de declinarmos os nomes dos homens encarapuçados de políticos que votamos e até sentiremos prazer de termos levados os eleitos para defenderem as causas sociais e coletivas, e seja encerrada definitivamente as defesas em causa própria ou de oligarquias, como ocorrem hoje.
*Escritor e Poeta

DEMOCRACIA DE ESPÍRITO ROTO      DEMOCRACIA DE ESPÍRITO ROTO Reviewed by Clemildo Brunet on 1/17/2015 07:32:00 AM Rating: 5

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