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Don’t bother me

Ricardo Ramalho
Ricardo Ramalho*
     
       Férias de fim de ano em Pombal. As paqueras, as novas músicas, os filmes no Cine Lux, as festas no Pombal Ideal Clube e os “assustados”, encontros para dançar, realizados de improviso, na primeira casa disponível. Só jovens reunidos. Os mais velhos ficavam, no máximo, nas calçadas, apenas observando.
     Havia saído um dos primeiros discos dos Beatles, aquele da capa preta, com o nome Beatlemania e os rostos dos rapazes de Liverpool. Era o ye´- yé e

a Jovem Guarda chegando, embalando sonhos. Bastava uma pequena radiola portátil e fazíamos uma animada festa. Bebidas, apenas a caipirinha de limão. Pouquíssimos LPs (os bolachões) eram disponíveis. Naquele “assustado” aquele disco era a novidade. Foi repetido seguidas vezes e agradava mais, na medida em que os presentes passavam a conhecer as músicas, os ritmos. O disco alternava músicas mais dançantes e sacolejantes com outras menos agitadas e românticas. As primeiras, pouco apropriadas para as conversas e pretensos namoros.
     Estava paquerando, persistentemente, uma garota que participava da festa. Como as músicas dançantes eram as mais solicitadas, diminuíam minhas chances de firmar um namoro e o que era pior, as férias se findariam em poucos dias e a maioria voltaria para os estudos, em outras cidades. Como era o dono da radiola, manobrei para que tocasse, também, as faixas mais lentas e assim comecei a rodar “Don’t bother me” e a dançar com a pretendida, inclusive citando o nome da música como se fora uma declaração amorosa, embora nem desconfiasse de seu significado. O relacionamento não rolou naquela noite nem, tampouco, no futuro, sem que entendesse o motivo. O tempo provou que havia apenas uma amizade, à época, em formação, que perdura até os dias atuais.
     Muitos anos depois, melhor analisando a canção, protagonista do feito, descobri seu verdadeiro sentido. Trata de um cara abandonado por sua amada que insiste em esperar seu retorno e não deseja nenhuma em sua volta. Assim, nesse estado de espírito, dispensa outra que lhe rodeia, com frases duras como: “vá embora e me deixe sozinho” e “eu não tenho tempo para você agora” e culmina com o a expressão máxima de “não me aborreça” (don’t bother me). A mensagem não condizia com a situação relatada e se traduzida fosse, não auxiliaria na conquista da garota paquerada.     
*Cronista pombalense radicado em Maceió Alagoas    
Don’t bother me Don’t bother me Reviewed by Clemildo Brunet on 1/07/2015 06:15:00 AM Rating: 5

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