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Meus carnavais, minhas lembranças...

Ignácio Tavares
Ignácio Tavares*

    O carnaval em Pombal - antes dos anos sessenta - acontecia em ambiente fechado de pouco acesso aos que desejavam participar. Acontecia no clube fechado da Brasil Oiticica onde os participantes eram convidados, conforme as relações sociais da diretoria da empresa com a sociedade local.
  Isso mesmo foi em 1960 quando foi construída uma palhoça nas mediações do Bar Centenário que houve uma abertura nas festividades carnavalescas facilitando assim uma maior participação da juventude. Durou pouco,
porque uma girândola disparada nas proximidades provocou um incêndio que destruiu totalmente a palhoça.
       Foi a partir desse acidente que o núcleo mais influente da sociedade local resolveu fazer uma campanha com o objetivo de construir o Pombal Ideal Clube. Foi uma campanha bem sucedida, com a adesão em massa da classe média com o apoio do executivo municipal, que cedeu o antigo prédio onde funcionou a Empresa de Geração e Distribuição de Energia da Cidade.
      Concluída a construção do edifício as festividades carnavalescas passaram a se realizar num local amplo e decente com espaços suficientes para acomodar algumas centenas de carnavalescos. Assim sendo o carnaval consagrou-se como um grande acontecimento sem precedente na história carnavalesca da terrinha. Todos os anos grupos carnavalescos, de clube e extra-clube, organizavam-se na certeza de que a festa de Momo era um evento certo, O carnaval de rua com a presença de vários blocos, entre os quais o bloco dos Sujos e os Foiarás, realizavam os ensaios na certeza que os desfiles estavam assegurados.
           Da mesma forma, os blocos de Clube, com destaque para o Formigão e Antarctica, preparavam-se meses antes para disputar os aplausos dos que estavam a participar da festa momesca. Afora isso, os grupos constituídos por amigos davam o toque de alegria dentro e fora do clube.
      O nosso grupo era divertido, sobretudo atuante, até mesmo no momento da contratação da orquestra que animava as noites carnavalescas. Éramos constituídos por cerca de dez ou mais amigos íntimos, que, em nenhum momento separavam-se no decorrer do evento carnavalesco. 
          Tarcísio Formiga, Antonio Liberato, Alfredo Bezerra, Luiz Camilo, Valtécio Alencar, Tintim, Valdeci Fernandes, Ignácio Tavares, Chico Sales, entre outros, formavam um grupo inseparável em todo decorrer das festividades momescas. Tudo era rigorosamente programado. À tardinha, o encontro era no bar Centenário, a fim de aquecer as baterias para enfrentar a frenética e divertida noite que se aproximava.
           No outro dia, no calor da ressaca, por volta das dez horas da manhã, todos na casa de Valtécio Alencar, para degustar o Caldo de Tia Bera. Uma alusão à saudosa Berenice Alencar, genitora de Valtécio, que nas manhãs de carnaval preparava um suculento caldo do tipo tira-ressaca.
       Era uma festa e tanto. Nessa época tínhamos resistência para suportar toda temporada carnavalesca sem risco de estafa, não obstante a pesada carga etílica que pesava sobre os nossos ombros. Não havia tempo pra cansaço. A resistência física era indispensável para poder enfrentar os desafios das noites carnavalescas.
         O carnaval fazia parte do nosso calendário festivo. Quando saí de Pombal, pra estudar em João Pessoa, nada mudou no meu ímpeto carnavalesco. O grupo mesmo disperso estava sempre a se comunicar para saber como estavam os andamentos com vista ao próximo carnaval. Assim sendo, quando saia daqui, já sabia, em detalhes, como seria realizada a nossa festa carnavalesca.
         Não se trata de saudosismo. Mas, Pombal na nossa época era mais feliz. A juventude organizava-se, movimentava-se, exigia, por isso, tínhamos o nosso próprio carnaval. Não havia necessidade de viajar pra os municípios vizinhos na busca de diversão carnavalesca. O contrário, muita gente de fora vinha se deliciar do nosso carnaval.
       Tínhamos tudo para realizar um bom carnaval. Um bom clube, músicos de excelente qualidade, como Manoel de Donária, Adamastor, Dairton Gouveia, Zeilto Trajano, Tié, e tantos outros, que davam vida ao nosso carnaval, como excelentes músicos que eram. E hoje? Estou totalmente por fora sobre a disponibilidade de músicos para se fazer um bom carnaval. Os músicos de renome já se foram. E a nova geração? Não sei!
       Diante dessa situação, de uma coisa tenho certeza: carnaval em Pombal é coisa do passado. Só nos resta reviver aqueles bons momentos. É isto que estou a fazer. Cada um com as suas saudades. Claro, eu também tenho as minhas.
João Pessoa, 09 Fevereiro de 2015

*Economista e Escritor
Meus carnavais, minhas lembranças... Meus carnavais, minhas lembranças... Reviewed by Clemildo Brunet on 2/09/2015 11:21:00 AM Rating: 5

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