Noite dos Mascarados
¨Quem
é você? “Advinha se gosta de mim!“. Dessa forma, começava a música que ouvi,
pela primeira vez, a poucos dias do carnaval de 1969. Os dois mascarados se
conheciam e se amavam idilicamente, naquele inesperado diálogo, em plena folia
de momo, pela imaginação de Chico Buarque.
Com
a cena da canção, me vi no Pombal Ideal Clube e carreguei isso na espera
ansiosa pelos quatro dias de festa, em minha cidade, há muitos quilômetros de
Natal, onde me encontrava, cumprindo meus últimos dias de serviço militar na
Marinha.
Cheguei
ao sábado e
o clima quente do Sertão Paraibano aumentava com a temperatura emocional dos foliões. Será que encontraria a Colombina mascarada da marcha carnavalesca? Procurei uma máscara para funcionar como fantasia, mas, não encontrei. Não era comum homem usar máscara, pelo menos em Pombal. Mesmo assim, desejava encontrar a mascarada nos bailes noturnos ou quem sabe no animado corso que rodeava as praças Centenário e Getúlio Vargas. Paqueras, olhares, passos, brincadeiras, namoros relâmpagos e a música não saia da cabeça: “quem é você, diga logo... que eu quero saber o seu jogo... que eu quero morrer no seu bloco... que eu quero me arder no seu fogo”.
o clima quente do Sertão Paraibano aumentava com a temperatura emocional dos foliões. Será que encontraria a Colombina mascarada da marcha carnavalesca? Procurei uma máscara para funcionar como fantasia, mas, não encontrei. Não era comum homem usar máscara, pelo menos em Pombal. Mesmo assim, desejava encontrar a mascarada nos bailes noturnos ou quem sabe no animado corso que rodeava as praças Centenário e Getúlio Vargas. Paqueras, olhares, passos, brincadeiras, namoros relâmpagos e a música não saia da cabeça: “quem é você, diga logo... que eu quero saber o seu jogo... que eu quero morrer no seu bloco... que eu quero me arder no seu fogo”.
Sábado,
domingo, segunda-feira e a mascarada não surgia. Terça-feira, último dia, apareceu.
Jovem, linda, terna, mas, sem máscara. Dançou comigo até os acordes de
“Quarta-feira ingrata” soarem como uma marcha fúnebre de fim de festa. Ai, ai
de mim, um pierrô apaixonado por uma “mascarada sem máscara” nas últimas horas
daquele carnaval inesquecível. A banda, como de costume, saiu do clube,
acompanhada pelos resistentes foliões que insistiam em prolongar o momo quando
os primeiros fiéis se dirigiam à igreja matriz para receberem as cinzas da
tradição cristã. “É de fazer chorar, quando o dia amanhece e obriga o frevo a
acabar, ah quarta-feira ingrata chega tão depressa só pra contrariar” cantava a
caravana. Segui com minha mascarada, até a metade da praça. Era a despedida.
Depois da ressaca, a longa viagem de volta, penosa, tristonha, me esperava. No
banco da praça, com a música se afastando, saíram minhas últimas frases,
tímidas, repletas de mesuras. Jurei para a mascarada que nunca esqueceria
aqueles momentos. Com sua anuência, recolhi alguns confetes entranhados em seus
cabelos e guardei-os em uma pobre carteira de plástico que continha meus
documentos pessoais por muitos e muitos carnavais. Na mente, continuava a
música e seus maravilhosos versos: “mas é carnaval! Não me diga mais quem é
você! Amanhã tudo volta ao normal; deixa a festa acabar; deixa o barco correr;
deixa o dia raiar...” E o sol de Pombal dominava mais uma manhã radiosa da
Quarta-feira de Cinzas.
*Cronista
pombalense radicado em Maceió Alagoas
Noite dos Mascarados
Reviewed by Clemildo Brunet
on
2/02/2015 06:53:00 AM
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